Propaganda é parte de qualquer guerra, assim como bombas e soldados, principalmente quando um Estado quer que o mundo veja que sua decisão de ataque é justa. Mas para Matthias Gebauer [Der Spiegel, 28/7/06], correspondente em Israel, ainda assim o profissionalismo com que o país tem lidado com jornalistas estrangeiros é surpreendente. Trata-se de um verdadeiro exército de relações públicas responsável por fornecer aos arquitetos do conflito apoio da mídia e, portanto, de público.
Às 9:00h o telefone toca. Uma mulher do Gabinete de Imprensa do Governo pergunta: ‘quais os seus planos para hoje?’ E segue-se uma sucessão de idéias – entrevista com parceiros, tour a casas atingidas por foguetes em Haifa, entrevistas com os pais dos soldados seqüestrados.
Gebauer escolhe a última ‘atração’. Muitos jornalistas escolhem o mesmo e a maoria chega ao local da entrevista em um ônibus do próprio governo. Sanduíches e cafés são distribuidos. Os pais do soldado seqüestrado Ehud Goldwasser chegam. Segundo Gebauer, não há nada muito novo a ser dito. ‘Os seqüestradores de meu filho são responsáveis por sua segurança’, diz o pai. ‘Eles também são responsáveis por devolver-nos logo o nosso filho’ e completa: ‘Não sei mais o que dizer. Sou pai, não um político’.
Claro que não dá para acreditar em toda a informação que circula, mas é difícil criticar Israel por querer ver as vítimas do Hezbollah (17 mortos desde o começo do conflito) na mídia. São justamente essas vítimas que turbinam as operações de Israel atualmente no sul do Líbano.
Ainda assim, diz o jornalista do diário alemão, o apoio e a supervisão a jornalistas estrangeiros parece excessivo. Assim que os correspondentes recebem suas credenciais de imprensa, são bombardeados com e-mails e telefonemas. Em outros conflitos, os jornalistas tinham que fazer um esforço extra para serem simpáticos e achar entrevistados dispostos a falar. Em Israel, não. Os repórteres estão em um desses pacotes de viagem, com tudo incluso.