Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornais são duros em críticas a plano de espionagem

Alguns dos maiores jornais dos EUA reagiram rapidamente à divulgação, na quinta-feira (11/5), de detalhes do polêmico programa da Agência de Segurança Nacional (ASN), que teria grampeado os telefonemas de milhões de americanos. Sítios de internet cobriram as repercussões durante o dia em Washington, e editoriais pipocaram nos veículos impressos do dia seguinte.


O programa foi inicialmente denunciado pelos jornalistas James Risen e Eric Lichtblau, em artigo no New York Times, em dezembro do ano passado. Nesta quinta-feira, o USA Today publicou matéria afirmando que o governo de George W. Bush armazena secretamente, e sem autorização, os dados telefônicos de milhões de americanos desde os atentados terroristas de 11/9. O governo estaria criando assim o maior banco de dados deste tipo já visto no mundo, mas mantém a versão de que apenas os registros dos números são monitorados, e não o conteúdo das conversas. As informações são fornecidas – mediante pagamento – pelas três maiores operadoras telefônicas do país, AT&T, Verizon e Bell South, que têm como clientela simplesmente dois terços da população dos EUA. Após a publicação do artigo, Bush garantiu, em entrevista (unilateral) na quinta à tarde, que a privacidade dos americanos comuns é fortemente protegida nas atividades da inteligência, que têm como objetivo encontrar pistas que levem a al-Qaeda e a seus aliados.


Editoriais e mais editoriais


Ainda na quinta-feira, em seu sítio na internet, o Washington Post confirmou a notícia: ‘A administração Bush vem coletando secretamente os registros telefônicos de milhões de casas e escritórios americanos, montando bancos de dados gigantescos e tentando filtrá-los para obter pistas sobre atentados terroristas, de acordo com fontes com conhecimento do programa’. Um editorial do Post, na sexta-feira, afirmava que o recolhimento de informações pode ser algo legítimo, mas que ‘um gigante banco de dados do governo detalhando que números telefônicos ligaram para que outros números… é uma invasão massiva de privacidade’.


No USA Today, um longo artigo editorial criticou duramente o programa – ressaltando que a Casa Branca recusou a oferta de se defender. O diário declarou que ‘a criação de um enorme banco de dados dos registros telefônicos dos americanos faz mais do que ameaçar terroristas. É um ato profundamente preocupante que mina as liberdades dos EUA e ameaça a todos nós’. O USA Today classificou o fato de que os cidadãos estejam tendo todas as suas ligações feitas e recebidas monitoradas de ‘no mínimo perturbante’. ‘Isso significa que sua companhia telefônica (se você for cliente da AT&T, da BellSouth ou da Verizon) atirou sua privacidade pela janela e colaborou para esta extraordinária instrusão, e o fez secretamente e sem seguir nenhuma ordem judicial’.


Invasão de privacidade


A página editorial do Chicago Tribune afirmou que ‘isso soa como uma vasta invasão de privacidade. A garantia dada pelo presidente Bush na quinta-feira de que a privacidade dos americanos estava sendo ‘ferozmente protegida’ não foi nada convincente…’. O jornal ressaltou também que ‘este programa possui preocupantes semelhanças com o Total Information Awareness, uma proposta feita pelo Departamento de Defesa de colher todo tipo de informação dos cidadãos, como números de habilitação, passaportes, compras feitas por cartões de crédito, aluguel de carros, prescrições médicas e transações bancárias. Este projeto foi freado pelo Congresso após protestos públicos. Parece que as pessoas que queriam aplicá-lo não entenderam a mensagem.’ O Tribune concluiu que teria apoiado a iniciativa do programa dos grampos se o governo tivesse o mínimo respaldo legal para fazê-lo.


O Los Angeles Times completou que, ‘agora, ninguém no (ou fora do) Congresso deveria ter qualquer esperança nas garantias do governo sobre suas ações ou suas intenções sob este programa. Como outro presidente certa vez notou: Confie, mas verifique. O Congresso precisa preencher as lacunas’.


Fim da confiança


O conservador Boston Herald afirmou que, ‘desde o 11/9, o público americano tem estado disposto a confiar nas garantias dos líderes do governo de que eles estão preservando nossa privacidade enquanto lutam contra o terrorismo. Infelizmente, e talvez compreensivelmente, muitos americanos não acreditam mais neles’.


O Detroit Free Press se disse horrorizado, mas usou de bom-humor para brincar com a letra de uma música: ‘Podemos assumir que qualquer movimento que você faça, qualquer passo que tome, qualquer telefonema que faça, eles estarão vigiando você. Então se comporte de acordo’.


O New York Times declarou, na sexta-feira, que ‘há mais razões do que nunca que ficar preocupado – e irritado – sobre o amplo alcance da rede do governo’. ‘O governo ressaltou que não está ouvindo as ligações, apenas analisando os dados para procurar determinados padrões. Mas se todos os detalhes do programa forem confirmados, a invasão de privacidade é substancial’. ‘O que temos aqui é um enorme programa clandestino de vigilância’. O jornalão completou que, se a Casa Branca tivesse conseguido seguir secretamente com o projeto, o faria ‘até o fim da guerra contra o terror – ou seja, para sempre’. Informações de Greg Mitchell [Editor & Publisher, 11/5/06].