Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Jornalista impulsiona debate sobre imigração nos EUA

O jornalista filipino José Antonio Vargas guardou um segredo por quase 20 anos. Habilidoso em obter informações de outros, o repórter escondeu um dado importante de seus empregadores americanos: ele é um imigrante ilegal, ou, como se define, sem documentos legais. Sua mãe lhe enviou para os EUA para morar com os avós – que viviam legalmente no país – quando tinha 12 anos, para que ele tivesse um futuro melhor. Vargas nunca mais a viu. Somente aos 16 anos, quando foi tirar carteira de motorista, descobriu que seu green card era falso.

Nos 15 anos seguintes, contou sobre sua condição para poucas pessoas, e passou a vida a escondendo de amigos, colegas de escola, de trabalho e empregadores, na esperança de que a reforma de imigração fosse aprovada e lhe permitisse viver livremente no país. “Me sentia um impostor, tinha cada vez mais culpa e medo de ser pego. Mas continuei mentindo. Precisava viver e sobreviver por conta própria”, diz. No Washington Post, fez parte da equipe de repórteres que ganhou o Pulitzer em 2008 pela cobertura do massacre na universidade Virgínia Tech. Vargas também trabalhou no Huffington Post e, em setembro passado, fez uma entrevista exclusiva com o fundador do Facebook Mark Zuckerberg para a revista New Yorker.

Campanha

Na semana passada, o jornalista revelou seu segredo no site do New York Times– no último domingo (26/6), a matéria foi publicada na revista do diário. “Ao longo dos últimos 14 anos, concluí o ensino médio e a faculdade e construí uma carreira como jornalista, entrevistando algumas das pessoas mais famosas do país”, escreveu. “E também tive uma vida boa. Vivi o sonho americano. No entanto, sou ainda um imigrante sem documento. E isto significa viver um tipo diferente de realidade. Significa viver com medo de ser pego”. Ele também deu uma entrevista à rede de televisão ABC e sua história está disponível em um vídeo em que ele conta sobre professores que o ajudaram e propõe um novo debate sobre as leis de imigração.

Vargas sabe que, ao reconhecer publicamente seu status ilegal, coloca em risco sua permanência nos EUA, mas, para reforçar a condição de milhões de imigrantes sem documento e pressionar pela aprovação de uma legislação que dá residência permanente a jovens imigrantes ilegais que vão menores para os EUA, ele deu início a uma campanha batizada de Define American (algo como “Defina o que é ser americano”).

Troca de jornais

Para revelar seu segredo, o jornalista tinha procurado seu ex-empregador, o Washington Post, em março, e estava trabalhando na matéria junto aos editores do diário. No entanto, em junho, o editor-executivo Marcus Brauchli decidiu matar a pauta. “Fizemos uma análise e decidimos não publicar a matéria”, disse, sem mais explicações. “Sabíamos que ele levaria a história para outro lugar e não ficamos surpresos por ele ter encontrado um lugar para seu interessante relato”.

Inusitadamente, o depoimento que foi publicado no New York Times já havia sido, portanto, revisado e verificado por editores do Post. No relato, Vargas revela que contou ser imigrante ilegal para um editor do Post, Peter Perl – que era, na época, seu mentor profissional. Na coluna do ombdusman do Post no domingo, 26, Perl conta que manteve o segredo por achar que era o correto a fazer, já que poderia prejudicar a carreira e a vida de Vargas. Com informações de Paul Farhi [Washington Post, 22/6/11] e de Liz Goodwin [Yahoo!News, 22/6/11].

 

Leia também

Imigrantes, jornais e jornalistas – Moisés Naím (em espanhol)

The Washington Post: O segredo de José Antonio Vargas