Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Jornalista abre portas a jovens blogueiros

O número de blogs no Irã cresceu consideravelmente nos últimos anos. Dos 6.4 milhões de internautas iranianos – que representam cerca de 10% da população –, 700 mil escrevem blogs. Grande parte deste movimento teve início com um homem. O jornalista Hossein Derakhshan pode ser considerado o padrinho da blogosfera iraniana.


O primeiro blog iraniano foi lançado em setembro de 2001. Alguns meses mais tarde, Derakhshan publicou o primeiro guia para escrever blogs na língua farsi. ‘Para que o meio ganhasse destaque, eu convenci figuras públicas famosas a publicarem blogs, forneci suporte técnico e construí um catálogo de blogs iranianos’, conta ele.


O governo não se opôs diretamente a esta atividade, e concedeu licenças para que companhias de internet abrissem escritórios em Teerã. ‘As autoridades censuram o conteúdo dos blogs se ele parece sensível a elas, mas muitos políticos, até alguns da corrente fundamentalista, usam esta ferramenta, então ela é considerada aceitável. Enquanto você escolher suas palavras cuidadosamente, não deve ter problemas’, afirma. Segundo artigo de Koby Ofek no jornal israelense Haaretz [31/1/06], o tom ‘otimista’ de Derakhshan não revela todos os problemas enfrentados por ele por seu incentivo à blogosfera.


Motivação política


Derakhshan nasceu em uma tradicional família iraniana com laços com o governo. Há cinco anos, ele deixou Teerã depois que o regime, em um momento de rígida censura, fechou o jornal onde trabalhava. O jornalista mudou-se para Toronto, no Canadá, de onde escreve o blog político Hoder e ajuda jovens iranianos a criarem seus próprios blogs, com o objetivo de envolvê-los culturalmente em sua realidade e ensiná-los a lutar contra a censura sofrida pela mídia iraniana. ‘Eu quero romper a apatia dos jovens iranianos’, afirma. ‘Para aproximá-los da política, nós temos que mudar sua linguagem, porque é nela que idéias são criadas e determinadas. No meu blog, eu escrevo em uma linguagem não-oficial, às vezes até crua, como é feito nos programas satíricos da televisão americana. Este é o único meio para se criar novos modelos’.


A luta de Derakhshan não é pequena. Nos últimos anos, diversos blogueiros foram presos por suas atividades. Há duas semanas, o governo bloqueou o acesso à versão em farsi do sítio da BBC e os iranianos não podem mais acessar o sítio de compartilhamento de fotos Flickr. ‘Desde a última eleição [presidencial, no ano passado], a política de censura do governo se tornou ainda mais rígida. O Irã está seguindo em direção à China. Sítios são monitorados todo o tempo e as ferramentas para fazê-lo são cada vez mais sofisticadas’.


Interrogatório no aeroporto


O próprio Derakhshan já sofreu com a censura das autoridades. Em junho do ano passado, após uma breve visita ao Irã, ele foi detido para interrogatório no aeroporto de Teerã. Por sete horas, respondeu perguntas do Ministério da Informação sobre o blog que escreve em inglês e farsi e foi ‘informado’ de que não poderia criticar o aiatolá Khamenei. Para terminar, disseram-lhe que ele deveria fazer um pedido público de desculpas ou seria proibido de deixar o país. Derakhshan se desculpou, mas continuou suas atividades.


Pouco tempo depois, seu blog foi censurado no país. Parar de escrever? Nem pensar. O jornalista encontrou meios alternativos de continuar a manter o diálogo com seus leitores e outros blogueiros iranianos. Cerca de 13% dos leitores conseguem acessar o blog via sítios com domínios alternativos – que ele conseguiu comprar com doações. Além disso, a maioria dos cerca de 11 mil leitores de Derakhshan recebe o conteúdo do blog por e-mail – segundo ele, a melhor maneira de driblar a censura.


Vontade de fazer mais


‘Depois que eles me interrogaram, censuraram meu blog e prenderam outros blogueiros, eu entendi como blogs são ferramentas importantes – de outro modo, o governo não se importaria tanto com eles’, diz. ‘Quando a mídia inteira é reprimida e controlada pelo governo, blogs podem prover reportagens confiáveis do que está acontecendo no país, e podem também ser uma ferramenta para a mudança cultural’.


Há duas semanas, o jornalista irritou as autoridades iranianas novamente. Ele decidiu ir a Israel para trocar experiências com os leitores de seu blog. Durante uma semana, Derakhshan conheceu israelenses que emigraram do Irã, discursou na Universidade de Tel Aviv sobre como jovens iranianos reformistas estão usando a internet com motivação política e conversou com o maior número de israelenses que pôde.


‘A idéia era ir a Israel como civil e como jornalista, para contribuir com o diálogo e tentar ajudar um pouco a acabar com a tensão entre os dois países’, explica, completando que tanto Israel quanto o Irã sofrem com a propaganda governamental que mostra o outro sempre como ‘o inimigo’. ‘Eu estou tentando mostrar aos israelenses que há muitas pessoas como eu vivendo no Irã, com as mesmas idéias moderadas sobre Israel e sobre o mundo’.