Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornalistas mortos recebem homenagem em Moscou

Jornalistas russos acenderam velas, na semana passada (17/12), para homenagear mais de 200 colegas de profissão que morreram violentamente desde o fim da União Soviética. Com fotografias dos 211 jornalistas assassinados na Rússia nos últimos 15 anos, manifestantes acusaram as autoridades de não investigar os crimes e não punir os responsáveis.

O protesto, em tom altamente crítico ao presidente Vladimir Putin, reuniu cerca de 250 pessoas em uma praça central de Moscou – e contou com forte policiamento. ‘Quando jornalistas são mortos e as autoridades não encontram seus assassinos significa que as autoridades não querem que as pessoas saibam a verdade’, afirmou o acadêmico Alexei Iablokov, um dos presentes na manifestação. ‘Desta maneira, um país não chega a lugar nenhum, não tem futuro e vai em direção ao fascismo. É por isso que estou aqui: não quero que a minha Rússia se torne um país fascista’, completou.

Caos e impunidade

O recente assassinato da repórter Anna Politkovskaya foi bastante lembrado entre os manifestantes. Cartazes com os dizeres ‘Quem ordenou o assassinato de Anna Politkovskaya?’ e ‘Anna Politkovskaya – a consciência da nação’ foram erguidos. Anna, que era conhecidamente crítica ao governo de Putin, foi morta a tiros no elevador do edifício onde morava, em Moscou, no início de outubro.

A União dos Jornalistas Russos afirma que 211 jornalistas foram mortos no país desde 1992. Destes, 109 morreram durante o governo de Boris Ieltsin e 102, no governo de Putin. Alguns destes profissionais morreram em acidentes de carro, mas a maioria foi assassinada. ‘Putin é pessoalmente responsável pelo caos completo em que centenas de jornalistas foram mortos’, acusou o ativista de direitos humanos Ernst Chorny à agência de notícias Reuters. Chorny segurava uma fotografia do americano Paul Klebnikov, editor da versão russa da revista Forbes, morto a tiros em julho de 2004.

Policiamento reforçado

A manifestação contou com ampla presença da polícia, o que, segundo artigo de Guy Faulconbridge [Reuters, 17/12/06], poderia expressar o medo das autoridades de que a homenagem aos profissionais de imprensa se tornasse um protesto anti-Kremlin. No dia anterior, policiais entraram em conflito com participantes de uma pequena passeata de oposição ao governo.

O policiamento reforçado nos dois eventos contrastou com o pouco dedicado a uma manifestação, no mesmo dia da dos jornalistas, organizada por um grupo jovem pró-Kremlin para homenagear veteranos de guerra. Cerca de 50 mil manifestantes favoráveis ao governo puderam circular livremente pela cidade.