Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Jornalistas acusam autoridades por morte de editor

Funcionários do jornal ruandense Umuvugizi acusam o governo de ordenar o assassinato do editor interino Jean Leonard Rugambage, na semana passada. Rugambage não resistiu aos ferimentos após ser alvo de tiros por dois homens que fugiram em um carro, na cidade de Kigali. O jornalista morreu no hospital.

Segundo o editor exilado Jean Bosco Gasasira, Rugambage teria sido assassinado porque investigava a suposta participação do governo na tentativa de assassinato, há duas semanas, de um general de Ruanda exilado na África do Sul. ‘Estou 100% certo de que foi o gabinete dos serviços de segurança nacional que o matou’, acusou Gasasira, lembrando que o editor havia se queixado de que estava sob constante vigilância, mas ignorou seus alertas para deixar Ruanda. ‘Falei para ele ir para Uganda, para ver como lidaríamos com isto. Mas, infelizmente, ele foi morto antes’.

Gasasira mudou-se para Uganda em abril, depois que o Umuvugizi e outro jornal foram suspensos por seis meses pelo Conselho de Imprensa de Ruanda, por fazer oposição ao governo. Para burlar a suspensão, o Umuvugizi passou a ser publicado apenas na internet. Na segunda-feira [28/6], autoridades locais anunciaram a prisão de dois suspeitos pelo crime, ressaltando que um deles confessou participação no assassinato. Segundo a polícia, o homem teria dito que matou o jornalista por vingança; Rugambage teria matado seu irmão durante o genocídio da etnia tutsi em 1994. O governo, por sua vez, nega qualquer participação na morte do editor.

Censura

Eventos recentes aumentaram os temores de uma onda autoritária voltada à mídia independente e a dissidentes políticos, na medida em que o país se prepara para sua segunda eleição presidencial desde o genocídio. A candidata de oposição, Victoire Ingabire, foi acusada de negar que o genocídio ocorreu e teve recusado o direito de disputar o pleito. O FDU-Inkingi, liderado por Victoire, e o Partido Verde Democrata alegam que o governo impediu que eles se registrassem e exercessem seus direitos políticos. ‘O partido no poder, RPF, mostrou ao povo ruandense e à comunidade internacional que está muito assustado para competir com a oposição real e por isso arrumou candidatos encenados’, declararam Victoire e Frank Habineza, líder do Partido Verde. Eles tentaram realizar um protesto, mas a polícia impediu, alegando ser ilegal. Cerca de cem pessoas foram presas, incluindo um candidato, Bernard Ntaganda, por suspeita de assassinato.

Neste cenário, espera-se que o presidente Paul Kagame vença um segundo mandato de sete anos na eleição de agosto. Ele está no poder desde 1994, quando sua guerrilha assumiu o governo depois do fim do massacre de 800 mil pessoas das etnias tutsi e hutus moderados. Informações de David Smith [The Guardian, 25/6/10] e da AFP [28/6/10].