Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Jornalistas protestam por liberdade de imprensa

Jornalistas árabes e ativistas reivindicaram maior liberdade de imprensa e de expressão no mundo árabe durante conferência regional realizada no Sindicato dos Jornalistas Egípcios na semana passada, no Cairo. ‘Mais passos devem ser tomados para garantir uma maior liberdade de imprensa em todo o mundo árabe’, afirmou Ibrahim Nawar, presidente da organização Arab Press Freedom Watch (APFW).

Os participantes da conferência criticaram o estado deficitário das empresas de mídia locais, que reflete a estagnação política do Oriente Médio. ‘Não temos uma mídia ativa em nenhum lugar do mundo árabe. Precisamos reformar nossas leis para começar a trabalhar pela criação de sociedades mais abertas, estimuladas por um debate aberto e público’, afirmou o vice-presidente da APFW, Maha al-Salhy. Alguns, no entanto, acreditam que novas leis não seriam suficientes e que é necessária uma mudança política como pré-condição para a liberdade de expressão no Oriente Médio.

Os jornalistas ressaltaram que, nos últimos anos, alguns países árabes – como Egito, Líbano e Marrocos – têm apresentado melhorias em questões relacionadas às liberdades de expressão e de imprensa. ‘Quatro ou cinco anos atrás, mulheres eram completamente proibidas de apresentar seus próprios programas de televisão [na Arábia Saudita]’, afirmou o jornalista Badr Mohamed al-Abbas. Nawar rebateu que, mesmo com algumas melhorias, nenhum país árabe atingiu um nível satisfatório de liberdade de imprensa. ‘Os problemas sofridos por jornalistas na região árabe variam de país para país. O que nos une talvez seja o fato de que temos um longo caminho pela frente’, completou, citando Egito, Jordânia e Líbano como áreas com restrições menores à imprensa, e Tunísia e Arábia Saudita como países de maior censura.

Censura garantida por lei

Entre os problemas citados na conferência estavam a abundância de regulamentações sobre o tipo de informações que podem ser divulgadas e sobre a punição de jornalistas que violam tais leis. O jornalista argelino Ali Djerri lembrou que, atualmente, três jornalistas de seu país estão presos por ofensas, e um total de 44 profissionais de imprensa foram alvos de investigações e acusações nos últimos dois anos. ‘Apenas um artigo nas leis de mídia da Argélia protege os jornalistas de intimidação, enquanto os outros são escritos para alertá-los sobre as penalidades associadas à divulgação de informações consideradas impróprias’, afirmou. Tais informações também variam de país para país. No Egito, é ofensa – e pode levar a dois anos de prisão – divulgar artigos que critiquem o presidente, sua família, o Exército ou abordar assuntos religiosos delicados. Argélia, Kuait e Arábia Saudita também sofrem com a proibição de temas políticos e religiosos na mídia.

De acordo com relatórios recentes do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), os jornalistas do Iêmen são freqüentemente intimados e detidos por criticar o presidente e sua família ou denunciar corrupção e dissidência política. Mas é no Iraque e nos territórios palestinos ocupados que os jornalistas sofrem maior ameaça. Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, 86 jornalistas e profissionais de mídia morreram no Iraque desde o início da invasão americana, em 2003. Nawar afirma que jornalistas iraquianos contratados por empresas internacionais são os mais vulneráveis. ‘Eles arriscam a vida enquanto os correspondentes estrangeiros têm a vida protegida porque trabalham de hotéis em Bagdá’, afirmou.

Seqüestros em Gaza

A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) expressou apoio a um apelo feito na semana passada por jornalistas palestinos, que pedem pelo fim dos seqüestros realizados por extremistas palestinos com o objetivo de aterrorizar estrangeiros na Faixa de Gaza. O Sindicato dos Jornalistas Palestinos em Gaza emitiu uma declaração condenando o seqüestro de três jornalistas na região e pedindo aos extremistas que parem de atacar jornalistas e outros civis estrangeiros. Dois franceses – Caroline Laurent, da Elle, e Alfred Yaghobzadeh, da agência Sipa – e o sul-coreano Yong Tae-young, da emissora KBS, foram raptados por homens armados em um hotel, na semana passada, horas depois que forças militares de Israel invadiram uma penitenciária palestina na cidade de Jericó para capturar militantes acusados pelo assassinato de um ministro israelense.

‘O pedido do sindicato é uma demanda por humanidade e tolerância que terá o apoio de jornalistas em todo o mundo’, afirmou Robert Shaw, diretor de comunicações da FIJ. A federação alegou que jornalistas e civis que não têm relação com a tensa condição entre palestinos e israelenses não devem se tornar bodes expiatórios para um colapso no diálogo político. ‘Jornalistas e profissionais da mídia devem ser livres para trabalhar sem medo de intimidação’, disse Shaw. A organização também afirmou que trabalhará em conjunto com o sindicato para tentar pôr fim à pressão sofrida por jornalistas na região. Informações da Integrated Regional Information Networks [15/3/06] e da Federação Internacional de Jornalistas [15/3/06].