Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Junta acusa mídia estrangeira de exagerar cobertura

A junta militar que governa Mianmar acusou a mídia estrangeira, na semana passada, de inventar matérias ‘imorais e desumanas’ sobre o ciclone Nargis, que atingiu o país no início de maio. ‘Estas agências de notícias internacionais estão escrevendo matérias e filmando as vítimas com a intenção de distorcer a imagem de Mianmar e confundir a comunidade internacional’, afirmaram as autoridades. Em matéria publicada no New Light of Mianmar, jornal oficial do país, o governo ainda tenta passar a idéia de que detém o controle da situação e que não precisa de ajuda de outros países.

Muitos dos vídeos que mostram a destruição causada pelo Nargis foram filmados por cinegrafistas amadores e são vendidos em DVD por camelôs nas ruas. As imagens são fortes, com corpos apodrecendo nos campos e famílias em espaços apertados em abrigos. O ciclone deixou 133 mil mortos e desaparecidos. As Nações Unidas calculam que 2,4 milhões de pessoas precisaram de ajuda emergencial logo após a tragédia. Cinco semanas após o ciclone ter atingido a região, um milhão de pessoas ainda esperava por socorro.

Ajuda

O líder da junta, Than Shwe, concordou em receber ajuda internacional, assegurando ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que especialistas estrangeiros teriam acesso às regiões mais atingidas, no delta do rio Irrawadday. Agências de ajuda e funcionários da ONU conseguiram chegar a alguns locais, porém ainda há dificuldade de acesso para algumas cidades. O Programa Mundial de Alimentação (WFP, sigla em inglês) das Nações Unidas ganhou permissão há mais de duas semanas para levar 10 helicópteros a Mianmar, mas até agora apenas um foi liberado para sobrevoar o local. EUA, Reino Unido e França ofereceram ajuda, mas o governo não aceitou.

Voluntários locais tentam oferecer apoio por conta própria, mas as forças de segurança também os impedem de ajudar. O comediante mais famoso do país, Zaganar, foi preso na semana passada após afirmar em entrevista a uma revista produzida por dissidentes na Tailândia que havia organizado um grupo de 400 voluntários para entregar comida em 42 cidades. ‘No começo, corremos risco e tivemos que fazer tudo por conta própria. Algumas vezes, entramos em conflito com as autoridades. Elas nos perguntavam porque estávamos indo por conta própria, sem consultá-las, e queriam que negociássemos. Falavam que não poderiam garantir nossa segurança’, contou. Informações da AFP [6/6/08].