Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Kerry evita bate-papo com jornalistas

O candidato democrata à presidência dos EUA, John Kerry, decidiu evitar conversas informais com repórteres quando estiver a bordo de seu avião de campanha. A partir de agora, ele só falará com jornalistas em entrevistas pré-agendadas. A decisão foi tomada logo após uma queda de Kerry nas pesquisas de intenção de voto. Alguns analistas políticos atribuíram esta queda às conversas informais com jornalistas.

Segundo artigo de John Hanchette para a Editor & Publisher [13/9/04], tudo começou em agosto, quando o candidato democrata discursava sobre política interna em um dia ensolarado no Parque Nacional Grand Canyon. Na ocasião, o presidente George Bush havia começado a desafiar Kerry, que votou no Senado a favor da invasão do Iraque, a explicar se teria feito o mesmo se soubesse que os EUA e seus aliados não iriam encontrar armas de destruição em massa no país. Em uma conversa com repórteres, o assunto surgiu, o senador mordeu a isca e declarou que ‘sim, eu teria votado para que Bush travasse o conflito’. Com isso, Kerry deu à campanha republicana a resposta que ela queria, e caiu nas pesquisas desde então.

Vínculo espontâneo

As conversas informais entre jornalistas e candidatos normalmente são momentos espontâneos que podem ser aproveitados pelos dois lados. Com o candidato mais relaxado, é possível fazer com que ele responda perguntas que não responderia em uma entrevista formal. Para Kerry, aparentemente, estas conversas dão aos repórteres – e indiretamente ao público – uma noção ingênua e desorganizada da pessoa que poderia ser o próximo presidente do país.

O problema de se fechar ao contato espontâneo, diz Hanchette, é provocar uma perda de confiança dos repórteres nos candidatos. Não é possível que se crie um vínculo entre as duas partes quando tudo é completamente esquematizado e controlado. Pelo menos é assim que jornalistas veteranos costumam interpretar a situação.

Se armar contra a imprensa não é de todo mal. Os repórteres que cobrem a campanha de um candidato não querem construir uma linda relação de amizade. Estão ali trabalhando, e querem tirar proveito de qualquer comentário descuidado ou qualquer falha. Mas no caso de Kerry esta regra não se aplica. Pelo menos por enquanto, há muito que os eleitores americanos ainda querem saber sobre ele. Fechar-se aos repórteres não irá fazer com que a população o conheça melhor, conclui Hanchette.