Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Leitores mantém confiabilidade em marcas jornalísticas tradicionais

O consumo de informação continua mudando e se desloca cada vez mais para os dispositivos móveis e para as redes sociais. Ao mesmo tempo, os leitores mantêm sua confiança em marcas jornalísticas de referência, como El País ou Le Monde, com uma trajetória de prestígio enquanto fonte confiável de notícias. Estas são algumas das principais conclusões do último informe sobre jornalismo digital do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, da Universidade de Oxford. A análise reconhece El País como líder na informação impressa e digital na Espanha.

O informe mostra um aumento de 2,5 milhões de usuários da mídia digital na Espanha, chegando agora ao número de 26,5 milhões. Destes, 58% usam os dispositivos móveis para consumir notícias e 13% procuram as redes sociais como primeira fonte de informação. Em média, 51% dos usuários dos 26 países incluídos na pesquisa que serve de base ao informe consomem informação através das redes sociais.

O crescimento do número de usuários é uma boa notícia para os meios de comunicação, mas a mudança dos hábitos de consumo coloca desafios para financiar o trabalho dos jornalistas. Por um lado, o percentual de consumidores de notícias disposto a pagar por elas é pequeno. Em países como a Noruega e a Suécia, o percentual de consumidores pagantes foi, respectivamente, de 27% e 20%. Na Espanha, esse número não passa de 10% e além disso, tal como ocorre na Itália ou na Polônia, trata-se de pagamentos feitos de uma única vez, aportes econômicos pontuais a um determinado veículo, que limitam o seu impacto e o seu valor para sustentá-lo a longo prazo.

El País é o líder entre os jornais digitais na língua espanhola existentes no mundo, com mais de 16 milhões de usuários únicos por mês e mais de 12 milhões de seguidores nas redes sociais. Recentemente, o jornal passou por uma transformação integral do seu sistema de trabalho e da publicação de notícias para priorizar a velocidade e a qualidade de suas informações.

Como pagar um jornalismo de alta qualidade?

Embora o único meio de financiamento estável dos veículos na internet seja a publicidade, vem aumentando o número de pessoas que usa aplicativos para bloquear os anúncios com que se sustenta a informação. Na Espanha, 28% dos usuários usam esses sistemas e na população com menos de 24 anos esse número chega a 53%. Essa tendência levou editores de países como a Suécia a fazerem acordos no sentido de que usuários que utilizem esses programas não tenham acesso às suas notícias e a expor iniciativas educativas que conscientizem os usuários do prejuízo que essas atitudes causam ao jornalismo.

A intensificação do acesso às redes sociais, que facilitaram a difusão de notícias, também coloca um dilema a quem as produz. O informe do Instituto Reuters indica que os usuários só identificam a origem da informação a que se tem acesso por essa via em menos da metade dos casos. No Japão e na Coreia do Sul, onde as notícias distribuídas estão mais desenvolvidas, a marca de origem só se percebe uma quarta parte das vezes, quando se chega a ele através de agregadores.

O estudo também observa diferenças por países na liderança da transição para a informação online. Em países como o Reino Unido ou os Estados Unidos foram as redes de televisão que conseguiram fazê-lo com um maior volume de audiência. No Japão ou Coreia do Sul, essa batalha vem sendo vencida por veículos do tipo do BuzzFeed ou do Huffignton Post. Na Espanha ou na Finlândia – e em menor proporção na Alemanha e na França – essa posição foi ocupada por jornais líderes, como El País.

O informe sugere que, inclusive numa era de redes sociais e meios de comunicação segmentados, as grandes marcas jornalísticas tradicionais importam. Numa nota à imprensa, o Instituto Reuters explica que “empresas jornalísticas que apostaram tudo num futuro distribuído, como BuzzFeed, estão ganhando terreno, em termos de alcance. Mas essas novas marcas e plataformas são utilizadas principalmente como fontes secundárias e para temas informativos mais suaves. A parte principal do uso online continua com marcas que têm uma forte herança informativa e foram capazes de construir uma reputação ao longo do tempo”.

David Levy, diretor do Instituto Reuters, resume o panorama de oportunidades e riscos que apresenta o documento: “Está claro que as notícias são mais populares do que nunca e que o jornalismo diferenciado ainda tem valor para os consumidores. As novas marcas ainda não estão substituindo as velhas, do ponto de vista de qualidade, alcance e produção. O problema de como pagar um jornalismo de alta qualidade, mas caro, tornou-se mais premente do que nunca.”