Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Libertado argelino seqüestrado em Gaza

O jornalista de origem argelina e cidadania francesa Muhammed Ouathi foi libertado na segunda-feira (22/8), depois de passar pouco mais de uma semana em poder de seqüestradores, informou a organização Repórteres Sem Fronteiras [22/8/05]. Ouathi, que trabalha como técnico de som para a emissora de TV francesa France 3, foi capturado em 14/8 por três homens armados, na Cidade de Gaza, onde cerca de 700 jornalistas estrangeiros cobriam as preparações para a retirada de assentamentos israelenses.

Ele reapareceu em uma delegacia em Gaza, onde entrou andando e sozinho, segundo nota do New York Times [22/8]. Até o fechamento deste texto (22/8), ainda não havia informações sobre a identidade dos seqüestradores ou o motivo da captura do jornalista.

Nos últimos meses, militantes palestinos seqüestraram diversos estrangeiros, em sinal do crescimento da falta de ordem e lei na turbulenta região da Faixa de Gaza. A maioria dos seqüestros é orquestrada por membros desiludidos da facção política Fatah e dissidentes das forças de segurança que exigem empregos e dinheiro da Autoridade Nacional Palestina (ANP) em troca dos reféns. No começo de agosto, cinco funcionários da ONU foram capturados e libertados poucas horas depois.

Representantes da ANP e do grupo militante islâmico Hamas, assim como o Sindicato dos Jornalistas Palestinos, condenaram publicamente o seqüestro. Segundo o Jerusalem Post [17/8], a França teria ameaçado suspender ajuda financeira e humanitária à ANP caso o jornalista não fosse libertado. Na quinta-feira (18/8), cerca de 50 jornalistas palestinos e estrangeiros fizeram uma passeata de protesto, pedindo a ajuda da ANP para garantir a libertação de Ouathi, informou a Reuters [18/8/05]. Forças policiais e de segurança israelenses, de acordo com o porta-voz do Ministério do Interior israelense, Tawfeeq Abu Khousa, fizeram buscas pelos jornalista durante toda a semana.



Israelenses vs. israelenses, palestinos vs. palestinos

A retirada dos assentamentos israelenses provocou conflitos internos. Colonos israelenses lutaram contra a polícia em movimentos de resistência à retirada. Ativistas instruíram moradores a impedir o trabalho da imprensa, furando pneus de carros de equipes de TV, cortando cabos de eletricidade e jogando água nos computadores dos jornalistas.

Pelo lado palestino, o conflito é entre o Hamas e a Autoridade Palestina, que lutam pelo controle da Faixa de Gaza após a retirada dos israelenses. No sábado (13/8), o líder da ANP, Mahmoud Abbas, inaugurou um centro de mídia especialmente para a cobertura da retirada, com mapas, serviço de mensagens de texto 24 horas e apoio a transmissões ao vivo de equipes de TV. ‘O centro irá facilitar a imprensa no que ela precisa. Um grupo de ministros estará sempre pronto a responder a suas perguntas’, garantiu ele aos repórteres.

Já o Hamas organizou, também no sábado, uma grande coletiva de imprensa, onde distribuiu aos jornalistas os números telefônicos de 34 porta-vozes. O grupo decidiu contratar porta-vozes fluentes em árabe, francês e inglês ‘para assumir a enorme responsabilidade de educar o mundo sobre a importância da retirada’, afirmou um destes porta-vozes, Mushir Masri. Com informações de Ibrahim Barzak [AP, 14/8/05].



Conflito monopoliza atenções

Devem se transformar em milhares, nas próximas semanas, as centenas de jornalistas estrangeiros que seguem para o Oriente Médio para a cobertura do processo de retirada de assentamentos israelenses. Toda a imprensa mundial quer estar presente para acompanhar o momento, e a isso faz crítica artigo de Israel Harel para o Haaretz [17/8/05]. Ele afirma que, enquanto a morte de centenas de milhares de pessoas por fome e doenças no continente africano e os problemas em regiões turbulentas como Chechênia e Coréia do Norte atraem apenas a atenção de alguns poucos veículos de comunicação, o conflito palestino-israelense parece ter se tornado a principal atração no quesito problemas mundiais.

‘Deus parece querer esquecer [a África]. E, ao que parece, a humanidade também. De outro modo, a humanidade enviaria seus representantes, os jornalistas, para reportar [os horrores], para lembrar incessantemente, para provocar a consciência do mundo’, diz ele, para exemplificar o caso de regiões que não recebem a devida atenção, como o Níger, onde a fome aniquila a população, a Argélia, assolada pela Aids, e o Sudão, que sofre com o genocídio de cristãos. ‘Apenas alguns poucos jornalistas visitam estes lugares, e eles, também, vão lá uma única vez’.