Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

‘Post’ e ‘Globe’: novo capital e, talvez, novas ideias

O fato mais surpreendente sobre a recém-anunciada venda do Boston Globe e doWashington Postsão os preços baixos em relação à atenção que receberam. O The Globe e seu irmão impresso em Worcester vão para o dono da equipe de beisebol Red Sox, John Henry, pela bagatela de US$ 70 milhões, enquanto Jeff Bezos, dono da Amazon, compra oWashington Post por US$ 250 milhões. Caso se tratasse de outra indústria, estas transações talvez nem fossem notícia.

Os preços refletem o declínio dos jornais na era de internet, que é o tipo de destruição criativa percebida por milhões de cidadãos americanos. A ruptura é o preço que uma economia capitalista paga pela inovação e o negócio de mídia é apenas o exemplo mais recente. Duas corporações dominadas por famílias – os Sulzbergers e os Grahams – desfazem-se de propriedades que não tiveram meios, nem paciência, de recuperar.

Nesse sentido, os novos donos são bem-vindos como uma oportunidade para novas ideias e talvez uma volta atrás. Henry recebe o Globe sem obrigações de pensões pendentes, o que significa menos perdas no fluxo de caixa. Proprietário com domicílio na cidade e bolsos grandes, ele pode estar disposto a investir para melhorar a cobertura e aumentar uma audiência digital pagante, que vem sendo pequena.

Mais investigação e ceticismo

A promoção de uma ou duas causas poderá ajudar John Henry. Os donos de jornais de antigamente não se diferenciavam por se conformarem com as ortodoxias políticas. Henry cometerá um grande erro se deixar para depois a cultura que prevalece na atual redação do Globe, com exceção, talvez, da página de esportes.

A compra do Post por Jeff Bezos é particularmente intrigante devido ao talento comercial de internet que ele traz. Embora esteja comprando o jornal como pessoa física, o valor de US$ 250 milhões é, um pouco para mais ou para menos, o que ele ganha ou perde com as ações da Amazon num único dia. Ele tem recursos para absorver as perdas, mas duvidamos que esteja comprando o Postpara perder US$ 50 milhões por ano simplesmente para que as portas políticas se abram para ele quando visita Washington, vindo de sua casa perto de Seattle.

Ele está comprando um conteúdo do tipo daquele que ele já vende no tablet do Kindle. O jornalismo do Post sofreu à medida que seus recursos encolheram, mas tem seguidores nacionais na web e ainda cobre bem questões de segurança nacional. O Post tem divulgado o governo federal num tom animador de mais governo, quando uma notícia e oportunidade empresarial melhores seriam mais investigação e ceticismo.

Monopólios demais durante tempo demais

Ninguém sabe qual será o modelo de mídia do futuro, mas é bom ter pessoas com recursos tentando decifrá-lo. A reação mais idiota a estas transações é lamentar o declínio da velha ordem e chorar para que os novos donos tratem de suas propriedades como de “confiança pública”. Quando pronunciam essas palavras, nossas elites da mídia tendem a querer dizer conformismo política e algum tipo de subsídio governamental.

Os donos de veículos de mídia têm obrigações e influência, o que provavelmente é um dos motivos para comprarem jornais. Mas a melhor proteção para a independência jornalística, além da Primeira Emenda, é a capacidade de produzir lucro. Isso proporciona recursos suficientes para ignorar pressões políticas ou de anunciantes.

A destruição criativa pode ser difícil de vivenciar, como sabemos bem. Mas também quebra monopólios, tanto de negócios quanto de ideias, e a indústria americana teve monopólios demais durante tempo demais. Os novos donos da mídia podem não fazer melhor que os antigos, mas o país sairá ganhando se o fizerem.