Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

‘Wall Street Journal’ é investigado por acusação de suborno

O Wall Street Journal está no centro de uma investigação sobre supostos subornos na China. O Departamento de Justiça dos EUA abriu, no ano passado, um inquérito sobre alegações de que funcionários da sucursal do jornal na China teriam subornado funcionários do governo chinês para obter informações para artigos. Uma análise interna da News Corporation, empresa proprietária do jornal, não encontrou evidências de má conduta. 

O governo americano está próximo do fim de uma investigação mais ampla, iniciada em 2011, sobre as atividades da News Corp envolvendo grampos telefônicos ilegais e casos de suborno em tabloides britânicos. Por conta dessa investigação maior, o Departamento de Justiça entrou em contato com o conselho da News Corp no começo do ano passado e disse ter recebido dados de um informante que alegou que um ou mais funcionários do WSJ teriam dado “presentes” para funcionários do governo chinês, em troca de informações. A News Corp e o WSJ não sabem a identidade do informante e não está claro se ele trabalhou no jornal e se chegou a fornecer nomes ao Departamento de Justiça.

Retaliação?

Segundo funcionários do governo, a News Corp contou ao Departamento de Justiça que alguns funcionários da empresa suspeitam que o informante seja um agente do governo chinês, buscando possivelmente se vingar do WSJ por conta de reportagens sobre a liderança política da China. Os funcionários do jornal chegaram a essa conclusão depois de não encontrarem evidências de suborno e devido à natureza das acusações.

As alegações do informante referiam-se a atividades de apuração em Chongqing, base de poder do governador Bo Xilai, que era uma figura importante na China até que um escândalo envolvendo a misteriosa morte de um britânico levou a sua queda e à condenação criminal de sua mulher. Em março de 2012, o WSJ publicou um artigo detalhando questões envolvendo a morte do britânico e contando como o escândalo estava alimentando a luta pelo poder na liderança política chinesa. Outros artigos foram publicados posteriormente sobre dinheiro e corrupção envolvendo líderes chineses.

As acusações de suborno contra o WSJ surgiram ao mesmo tempo em que funcionários do governo americano e da Dow Jones – empresa que publica o jornal, comprada pela News Corp em 2007 – suspeitavam que hackers chineses haviam atacado seus sistemas online. Agentes federais que investigaram o ataque aos computadores da Dow Jones concluíram que ele foi executado por pessoas ligadas ao governo chinês, aparentemente em busca de artigos que o jornal estava produzindo sobre o alto escalão político de Pequim.

Diversas empresas ocidentais foram alvo de hackers chineses nos últimos anos, incluindo companhias de mídia, como a New York Times Co. A administração do presidente Barack Obama chegou a pedir à China para parar com tais atividades.

Violação da lei

Se as informações de oferta de presentes a autoridades chineses forem verdadeiras, tal comportamento seria uma violação potencial do Ato de Práticas de Corrupção Estrangeira dos EUA. Essa lei, chamada de FCPA, foi a base principal para a abertura da investigação das atividades da News Corp no Reino Unido e em outros países. A legislação torna ilegal que empresas com operações americanas ofereçam dinheiro ou presentes para funcionários de governos no exterior para obter vantagem. Segundo pessoas familiarizadas com a questão chinesa, os presentes iam além de jantares e bebidas, incluindo viagens e outros tipos de entretenimento.

Ao longo da última década, o Departamento de Justiça perseguiu mais agressivamente empresas com operações americanas suspeitas de subornar funcionários no exterior. Em 2012, o Departamento de Justiça anunciou 13 acordos relacionados com o FCPA. Uma década antes, foram apenas quatro.

A News Corp, que contratou o escritório de advocacia Williams & Connolly para supervisionar o caso, deve fazer sua apresentação final ao Departamento de Justiça, detalhando a investigação global de suborno, no mês que vem. Caberá então ao Departamento de Justiça dizer quais – e se – sanções ou punições serão aplicadas. A partir daí, começarão as negociações.