Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Lula acusa mídia de cobrir governo com ‘má-fé’


Leia abaixo a seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas.


 


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 25 de março de 2010


 


LULA E A MÍDIA


Larissa Guimarães


Lula diz que mídia cobre governo com ‘má-fé’


‘O presidente Lula voltou a atacar a imprensa ontem ao dizer que parte da mídia cobre ações do governo com ‘má-fé’.


‘Eu fico triste porque daqui a 30 anos, se alguém quiser fazer uma pesquisa sobre a história do Brasil e sobre o governo Lula e tiver que saber, ficar lendo, determinados tabloides (…) As coisas são assim, quando o cidadão quer ser de má-fé, não tem jeito’, concluiu, em discurso durante balanço do programa Territórios de Cidadania.


As declarações de Lula foram dadas logo após o presidente comentar ações do governo ligadas ao PAC (Programa de Aceleração de Crescimento).


O presidente afirmou que fica ‘triste’ quando, pela manhã, vê algumas manchetes de jornal ‘porque eu acabei de inaugurar, no dia anterior, 2.000 casas e não sai uma nota no jornal. [Se] caiu um barraco, é primeira página’, criticou, ressaltando que a imprensa tem ‘predileção para a desgraça.


O presidente subiu o tom das críticas à imprensa às vésperas de o governo lançar o PAC 2. O evento, na próxima segunda-feira, deverá marcar a saída simbólica da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) para disputar a Presidência.


Lançado em 2007 para impulsionar a economia, o PAC é usado hoje por Lula para mostrar o que seria a capacidade de gerenciamento da sua candidata ao Planalto, chamada por ele de ‘mãe do PAC’.


Recentemente, o programa recebeu várias críticas da imprensa por causa do atraso em obras. A Folha revelou que o governo federal maquiou balanços oficiais para encobrir atrasos nas principais obras do programa. Três de cada quatro ações que constam no primeiro balanço do programa não foram cumpridas no prazo.


Ontem, Lula disse que o lançamento do PAC 2 é uma questão de ‘responsabilidade’. ‘Quem vier atrás de mim não pode perder um ano fazendo o programa’, justificou.


Essa foi a segunda crítica de Lula à imprensa neste mês. No dia 13, o presidente participou da abertura da 2ª Conferência Nacional de Comunicação e, no discurso, criticou editoriais feitos por quem ele chamou de ‘falsos democratas’.


‘De vez em quando é bom ler [editoriais de jornais] para a gente ver o comportamento de alguns falsos democratas, que dizem que são democratas, mas que agem querendo que o editorial deles fosse a única voz pensante no mundo’, disse o presidente que naquele momento recebia críticas por sua viagem a Cuba.


A plateia -formada principalmente por trabalhadores ligados à área rural e autoridades do governo federal- puxou coro, gritando ‘Dilma’.


O presidente prometeu ainda um balanço no fim do governo, para mostrar o que foi feito em oito anos.


‘Quando a gente está terminando o mandato quer saber, sim, quantas obras, quantos números’, disse, para completar depois: ‘Nós podemos fazer muito mais no próximo período.’ Lula, no entanto, sugeriu que o fim de seu governo poderá não ser fácil por se tratar de um ano eleitoral.’


 


 


Editorial


Devaneio autocrático


‘A DEMOCRACIA , numa definição de manual, é um sistema de governo no qual o povo exerce a soberania e elege seus dirigentes por meio de eleições periódicas; é um regime em que estão asseguradas as liberdades de associação e de expressão. Todos esses princípios estão plasmados na Constituição de 1988 -ela própria uma conquista democrática.


Isso tudo é óbvio. Mas quem impele a repisá-lo é o presidente da República. Na versão de Luiz Inácio Lula da Silva, a democracia muito frequentemente -e cada vez mais- surge como se fosse uma concessão da sua vontade. Ele não parece tratá-la como valor, mas como capricho.


O vezo autoritário do mandatário se torna flagrante quando o que está em questão é a divergência de opinião ou o compromisso com a liberdade de imprensa. Lula não tolera ser criticado e convive mal com esforços de fiscalização de seu governo.


Ontem, numa cerimônia, ele disse: ‘Acabei de inaugurar 2.000 casas, não sai uma nota. Caiu um barraco, tem manchete. É uma predileção pela desgraça. É triste quando a pessoa tem dois olhos bons e não quer enxergar. Quando a pessoa tem direito de escrever a coisa certa e escreve a coisa errada. É triste, melancólico, para um governo republicano como o nosso’.


Talvez seja o caso de mencionar os mensaleiros, os aloprados, o ‘roçado de escândalos’ da aliança com o PMDB. Ou, ainda, os benefícios pouco ortodoxos concedidos com dinheiro público a algumas empresas que este governo elegeu para implementar sua versão de ‘capitalismo de Estado’. Nada disso compõe um figurino ‘republicano’.


O que mais impressiona, porém, é o raciocínio embutido na seguinte frase de Lula: ‘É triste quando a pessoa tem o direito de escrever a coisa certa e escreve a coisa errada’. É uma afirmação tosca, sem dúvida, mas antes disso autocrática. Não faz sentido no contexto da democracia.


A imprensa tem de ser livre, inclusive para errar -e responder por isso perante seu público ou à Justiça, sempre que for o caso. Essa liberdade atende sobretudo ao direito do cidadão de ter acesso a informações.


Lula disse ainda que ‘setores da imprensa’ deveriam olhar para pesquisas de opinião antes de tirar conclusões sobre ações públicas de seu governo. Em alguns casos, como o desta Folha, as pesquisas são realizadas pelas mesmas empresas cujo trabalho Lula busca desqualificar.


Tampouco é verdadeira sua afirmação de que avanços sociais ou do país obtidos neste governo não tenham sido noticiados. Foram -e de maneira exaustiva.


O problema é outro. Recentemente, o presidente da República agrediu os valores democráticos ao equiparar os presos políticos de Cuba aos presos comuns do Brasil -e endossar os crimes de uma ditadura.


Agora, ao criticar mais uma vez a imprensa, comporta-se como quem aspira à unanimidade -algo que está longe de ser um padrão democrático.’


 


 


TV BRASIL


Professor faz crítica à TV pública no país


‘Em seminário sobre o direito à informação, o professor e diretor da TV USP, Pedro Ortiz, criticou o modelo de TV pública do Brasil, afirmando que a EBC (Empresa Brasileira de Comunicação), responsável pela TV Brasil, está longe de seguir um modelo público, classificando-a como rede estatal.


‘Uma TV pública não sofre interferência do governo, publica todos os seus atos, contrata seus funcionários por meio de concurso público e procura financiamentos múltiplos. Não depende só do governo’, disse Ortiz no evento, em São Paulo.


Também falaram no evento o jornalista e professor venezuelano Adrián Padilla, que defendeu a não renovação de concessões de redes de TV por Hugo Chávez, e o jornalista argentino Dario Pignotti, que apoiou lei de acesso à informação aprovada em seu país em 2009 -o texto, na época, foi criticado pela mídia argentina.’


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


O apetite continua


‘No ‘Wall Street Journal’, ‘Apetite pelo Brasil se mantém’. A Bovespa ‘anda de lado’, os lançamentos ‘encolheram’, mas não há por que se preocupar com o ‘duto’ de investimentos no país, cujas ações seguem mais baratas do que na China e na Índia.


Na manchete do Valor Online, no meio da tarde, ‘Grupo chinês compra Itaminas por US$ 1,2 bilhão’, no ‘maior investimento chinês, até agora, no Brasil’. Na home da Bloomberg, ‘Total quer parte nos poços de petróleo do Brasil’ e estuda ‘várias alternativas’, segundo executivo da petroleira francesa.


No topo das buscas por Google News, com Reuters, ‘Lula diz que vai garantir estabilidade econômica’. Na manchete da Reuters Brasil para o despacho, ‘Não vamos brincar com a estabilidade, diz Lula’.


EM CAMPANHA


Na home do UOL, meio do dia, ‘Por Lula, Índia abriria mão de sucessão na ONU, diz diplomata’. Um representante indiano disputou e perdeu a indicação asiática para o coreano Ban Ki-mon, três anos atrás, por interferência dos EUA, mas o país ‘avalia que terá mais chances’ no ano que vem. Se o brasileiro postular, a Índia apoiaria ‘por ver nele a personificação dos emergentes e da capacidade de mediação entre ricos e pobres’. Aliás, o governo indiano ‘já sinalizou ao presidente Lula que, se estiver disposto, contaria com o apoio do Sul da Ásia’.


TESTE


A retaliação do Brasil aos EUA tem defensores, por lá. No Huffington Post, James Bacchus, que foi congressista democrata e depois diretor na Organização Mundial do Comércio, escreve que o país ‘testa o compromisso de Obama com maior firmeza na execução das leis comerciais’ ao ‘dar ao presidente uma chance perfeita de confirmar o que vem dizendo’.


MANIPULAÇÃO


Na manchete de papel e on-line do ‘China Daily’, ‘EUA devem tachar a China como país ‘manipulador de moeda’. É o que diz Susan Schwab, a representante comercial no governo Bush. Democratas, republicanos e o lobby industrial pressionam o governo para que o atual representante divulgue a nova avaliação em relatório no meio de abril.


EXPORTAÇÃO & EMPREGO


O ‘New York Times’, em manchete on-line, deu que o esforço de Obama em aprovar a reforma na saúde buscou ‘atacar a desigualdade’ e marcar uma nova era no país, em contraponto com o republicano Ronald Reagan, que iniciou três décadas de concentração de renda.


O ‘Financial Times’ acrescentou que agora ‘empregos estão no topo da agenda’. E o ‘Washington Post’, ontem também em destaque, alertou que o ‘Plano de exportação de Obama não vai, necessariamente, gerar empregos’. Seria preciso a valorização do yuan e ‘negociar para abrir mercados como o Brasil e a Coreia do Sul’.


GOOGLE APELA AO GOVERNO


Sergey Brin, co-fundador do Google, deu entrevista para todo lado, ontem. Na manchete on-line do ‘WSJ’ -que citou a resistência de outros na corporação ao confronto com a China, a começar do presidente, Eric Schmidt- Brin lembrou a infância na União Soviética para justificar o rompimento com a censura chinesa.


Na manchete do ‘Guardian’, ele ‘instou EUA a agir’, afirmando esperar que o governo dê ‘alta prioridade’. E atacou a Microsoft, que, numa entrevista de Bill Gates, havia cobrado o respeito às leis chinesas.


ABERTO


O estatal ‘China Daily’ publicou artigo dizendo que ‘finalmente o Google deixou a China, abrindo o vácuo de um quarto do mercado de busca, que está aberto para outras empresas de web nacionais e internacionais’.


ESPIÕES


E o ‘Diário do Povo’, do PC chinês, segundo a Reuters, ‘acusa Google de contribuir com espiões dos EUA’. Diz que ‘sua cooperação e sua conivência com a inteligência e agências de segurança é bem conhecida’.


OPERAÇÃO RUTÊNIO


No ‘Financial Times’, ‘mais de 150 investigadores anticorrupção’ do britânico SFO ou Escritório de Fraudes Sérias prenderam três executivos da Alstom, ontem, em ‘investigação de denúncias de suborno com inquéritos’ em diversos países, como a França. Citando autoridades francesas, relacionou a operação à ‘possível corrupção de funcionários estrangeiros entre 1995 e 2003’, em ‘contratos no Brasil’ e em outros países.


Os investigadores britânicos chamaram de ‘Operação Rutênio’, um elemento do grupo da platina, como postou um blog do jornal, com ironia.’


 


 


INTERNET


Google atuou com espiões dos EUA, diz China


‘Segundo o jornal estatal ‘Diário do Povo’, a gigante americana e Washington usaram a disputa sobre controle do conteúdo na internet para desafiar o Partido Comunista. O texto foi a resposta mais dura à empresa após o fim de sua ferramenta de buscas no país, na segunda. Também ontem, alguns usuários que buscavam no Google dados sobre a empresa eram direcionados ao site da companhia em chinês. A empresa descartou um ataque de hackers.’


 


 


Wikipedia fica fora do ar por três horas


‘A enciclopédia colaborativa Wikipedia ficou fora do ar na tarde de ontem por problemas de aquecimento em servidores, afirmou o blog técnico da Wikimedia, fundação responsável pelo projeto.


O problema começou por volta das 17h18 GMT (14h18 no horário de Brasília) e durou ao menos três horas. ‘Devido a um problema de superaquecimento em nossa central de dados na Europa, muitos de nossos servidores foram desligados para autoproteção’, explicou o blog.’


 


 


TELEVISÃO


Andréia Michael


Maria Adelaide Amaral quer ponta de Marília Pêra em ‘Ti Ti Ti’


‘Responsável pela nova versão do sucesso ‘Ti Ti Ti’ (1986), Maria Adelaide Amaral aposta na ideia de reunir na trama personagens célebres de outras novelas de Cassiano Gabus Mendes, autor da original.


‘Desde o início, namoramos a ideia de resgatar personagens do Cassiano para participações pontuais’, diz a autora, que deseja convidar Marília Pêra para reviver a Rafaela Alvaray de ‘Brega e Chique’ (1987). Segundo ela, a socialite poderia reaparecer para fazer uma roupa com Victor Valentim.


Mais certa é a participação de Luiz Gustavo reinterpretando o Mário Fofoca de ‘Elas por Elas’ (1982). Confirmado, o detetive participará de um dos blocos da trama, o que equivale a cerca de seis capítulos.


Quanto aos protagonistas da próxima novela das 19h da Globo, Maria Adelaide quer dar roupagem nova a Victor Valentin e Jacques Leclair.


‘Nas características de personalidade, não há nada de novo em nenhum dos dois. A mudança se refere ao ofício. Dener [1937-1978] e Clodovil [1937-2009], que inspiraram os protagonistas originais, pertenceram a uma época há muito encerrada na moda brasileira.


Nos últimos 20 anos, tudo ficou muito mais profissional, e os costureiros deram lugar aos estilistas’, afirma.


Assim, nas novas versões, Victor Valentin estará mais para Christian Lacroix e, Jacques Leclair, para Oscar de la Renta.


GLOBO COMEÇA A PREPARAR PROPAGANDA DE 45 ANOS


Desde segunda-feira, 60 artistas e jornalistas gravam suas participações no vídeo comemorativo que promete oferecer ‘mais entretenimento, humor e informação’ ao telespectador


PORRADA


Ratinho usará um ringue de boxe para resolver os problemas dos convidados no ‘Rat-Ringue’, novo quadro de seu programa no SBT. Terá juiz, e os participantes colocarão luvas e protetores de cabeça.


NA TRAVE


O paredão do ‘BBB’ de anteontem teve 92,2 milhões de votos. O recorde é de 92,3 milhões. Foi o paredão de maior audiência -37 pontos, ou seja, 2,22 milhões de domicílios ligados na atração na Grande SP.


MANCHETE


Claudia Jimenez está chateada com a repercussão da entrevista que deu a uma publicação de celebridades, na qual disse ter sofrido abuso sexual. Queria foco no novo trabalho na série ‘A Vida Alheia’, em que é editora de uma revista de fofocas.


FOMENTO


Na penúltima etapa do projeto FICTV, do Ministério da Cultura, a TV Brasil levará ao ar em abril episódios dos oito roteiros selecionados na competição. Três darão origem a séries com 13 episódios.


TÍTULOS


Serão exibidos os pilotos de ‘Elvis e o Cometa’, ‘3%’, ‘Vida de Estagiário’, ‘Brilhante Futebol Clube’, ‘A Passagem’, ‘Natália’, ‘Alfavela’ e ‘Pulo do Gato’. O projeto tem consultoria de Roberto D’Ávila (‘9MM: São Paulo’) e Newton Cannito (‘Cidade dos Homens’).


PÓDIO


A saltadora Fabiana Murer, recordista sul-americana, é a convidada de sábado do ‘Juca Entrevista’ (ESPN).


com Clarice Cardoso’


 


 


Laura Mattos


Redes farão programação específica para celular, diz fórum de TV digital


‘‘Não tenho dúvidas de que as redes vão criar uma programação específica para TV móvel, como a do celular. Terá também outro tipo de comercial e de medição de audiência.’


A previsão foi feita à Folha por Frederico Nogueira, vice-presidente do Grupo Bandeirantes e presidente do Fórum SBTVD (Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre), que reúne emissoras, fabricantes, pesquisadores e governo.


‘Por que as pessoas precisam chegar em casa e ficar vendo informações sobre o trânsito? Isso faz mais sentido na TV móvel. E muita coisa que vai ao ar na tela grande não é vista com qualidade em tela pequena, por isso é preciso mudar a transmissão’, disse Nogueira.


Ele afirmou que será preciso convencer o governo a permitir esse tipo de operação, vetada pela lei da TV digital. ‘Mas essa questão vai ser mais simples. As redes divergem quanto à possibilidade de fazer mais de uma programação no televisor convencional, mas há consenso quanto a uma programação diferenciada para os móveis.’


O fórum lançou ontem, em São Paulo, sua nova campanha. A partir de amanhã, três comerciais serão veiculados nas redes. Um deles mostra uma família conectando seu televisor analógico em um conversor digital. Um segundo traz uma família que comprou um televisor com conversor embutido e o terceiro aborda transmissão móvel, em minitelevisores, computadores e celulares.


‘É pra você, é de graça e é bom de ver’ é o slogan dos anúncios. ‘O melhor é que você não precisa pagar assinatura para ver’, diz o comercial, em ofensiva contra as TVs pagas.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 25 de março de 2010


 


LULA E A MÍDIA


Leonencio Nossa


Lula Se diz vítima de ‘má-fé’ da mídia


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem duros ataques à atuação de TVs e jornais, no mesmo tom crítico adotado na crise política de 2005 e na campanha pela reeleição em 2006. Ele acusou a imprensa de agir de ‘má-fé’ e dar informações erradas sobre o governo.


‘Se daqui a 30 anos alguém tiver que fazer alguma história do Brasil e tiver que ler alguns tabloides, vai estudar muita mentira’, disse, comparando os periódicos brasileiros aos jornais sensacionalistas de Londres.


Ao participar de evento de divulgação do programa Territórios da Cidadania, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, Lula reclamou especialmente do noticiário recente sobre suas viagens e inaugurações de obras. ‘É triste quando as pessoas têm dois olhos bons e não querem enxergar e têm a oportunidade de escrever a coisa certa e escrevem errado’, disse.


Até ontem, as críticas de Lula à imprensa no segundo mandato tinham sido mais brandas do que as feitas nos quatro primeiros anos de governo. Ele agora elevou o tom, na avaliação de assessores, porque os jornais e TVs, neste começo do processo de sucessão, teriam acabado com a trégua, recorrendo a notícias ‘erradas’ e ‘contra’ o governo.


O presidente, no discurso de ontem, disse que estava fazendo o desabafo para o noticiário não piorar ainda mais. ‘Se você se acovardar, eles (jornais) vêm para cima. Se tem uma coisa que não temos que ter é vergonha do que fizemos neste país’, afirmou. Ele reclamou, em especial, da cobertura das inaugurações de obras.


‘Esses dias eu fiquei triste. Inaugurei duas mil casas e não vi uma nota no jornal. Mas, quando cai um barraco, eles dizem que caiu uma casa’, disse. ‘É uma predileção pela desgraça.’


Confecom. Ele ainda reclamou que empresários do setor foram convidados a participar da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), organizada pelo governo no ano passado, mas não compareceram. Ao reclamar da cobertura negativa de suas ações, Lula voltou a acusar a imprensa de preconceito por sua origem. ‘Se não querem saber pelos seus olhos, poderiam saber pelas pesquisas de opinião pública. Mas ainda assim não querem ver’, disse.


Lula disse que os embates políticos, decorrentes da disputa eleitoral deste ano, não podem atrapalhar o andamento das ações do governo e especialmente os programas sociais. Ele reafirmou que lançará na próxima segunda-feira a segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento, o chamado PAC 2, para garantir ao próximo presidente orçamento para tocar as obras. Nesse momento do discurso, os participantes do evento começaram a gritar o nome da ministra da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência.


‘Eu não posso dizer quem vai ser (o próximo presidente), apesar de, na minha cabeça, eu ter consciência do que vai acontecer neste ano’, afirmou.


Multa. Na semana passada, o presidente foi multado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por propaganda indireta e encoberta da candidatura de Dilma durante inauguração de obras, em maio de 2009, na favela de Manguinhos, no Rio. Na ocasião, ao ser interrompido pela plateia aos gritos de ‘Dilma’, o presidente expressou sua expectativa: ‘Que a profecia que diz que a voz do povo é a voz de Deus esteja correta neste momento.’


Dança. À tarde, numa entrevista após almoço com o rei da Suécia, Carl Gustaf, Lula disse que, na reta final do mandato, quer aproveitar o máximo de sua equipe. Mais descontraído, afirmou que os novos ministros que entram no governo no dia 1.º de abril terão de trabalhar mais do que os que deixarão o governo para disputar as eleições. ‘É quase natural. Você está no fim da festa e quer sentar numa cadeira e não quer dançar mais. Agora, eu quero que a turma dance’, comparou, ressaltando que ainda tem muitas obras para concluir até o fim do mandato. ‘Esse pessoal que vai entrar vai trabalhar muito mais que o pessoal que sair.’


Ele ainda mandou um recado para a secretária executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, que comandará a pasta. ‘Quem entrar no lugar da Dilma, vai trabalhar muito mais que ela.’


Segundo ele, também ‘não vai ter nervosismo desta vez’, porque o governo tem consciência do que quer fazer até a conclusão de seu mandato. ‘Não vamos brincar com a estabilidade econômica. A questão fiscal continuará sendo tratada com seriedade e a inflação tem quer ser controlada porque se ela voltar vai para cima do pobre’, afirmou.


O QUE LULA JÁ DISSE SOBRE A IMPRENSA


15/10/2009


Ao visitar obras do S. Francisco ‘Vá ser azedo assim em outro lugar’


8/3/2010


Inauguração na Rocinha ‘Coisa boa não interessa, o que interessa é desgraça’


11/3/2010


Em Brasília


‘Leiam os editoriais para ver os falsos democratas’


12/3/2010


No Paraná


‘Setores da imprensa costumam publicar desgraça o dia inteiro’’


 


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


Globo fatura R$ 7 bilhões em 2009


‘Dos quase R$ 10,5 bilhões que a TV aberta faturou com receita publicitária em 2009, 73,5%, cerca de R$ 7 bilhões ficaram com a Globo. O dado faz parte de uma prévia, à qual o Estado teve acesso, do levantamento do Projeto Inter-Meios, que calcula o investimento publicitário de mídia no País. O levantamento completo, que deve ser lançado nos próximos dias, atual parceira da Record não acabou? Sim, mas ao encerrar o acordo, Silvio Santos garantiu em contrato mais duas ou três produções mexicanas em seu estoque. A dúvida no SBT é se a novidade, que entrará no ar na faixa das 16 horas, é apenas um teste de horário para novelas nacionais ou uma real ameaça para a produção de dramaturgia do canal, que ainda luta pela média sonhada de audiência. aponta também que desses R$ 10,5 bilhões (receita publicitária líquida, já com os devidos descontos), 10,1% ficaram com a Record (a segunda em faturamento no ano passado), seguida por SBT, com 8,7%; Band, com 4,9%; e RedeTV!, com 1,9%. As demais emissoras dividiram o restante, que representa 0,9%.


PALHAÇADA. No novo quadro Meu Chefe É Um Palhaço, a turma do Casseta & Planeta convidará o público a desabafar, via web, sobre os micos do seu chefe. Anonimamente, é claro.


8 pontos de ibope 10 pontos de audiência foi a média obtida pela edição do Jornal da Record de anteontem.foi a média/dia da Record na terça-feira, deixando a rede em segundo lugar das 7h à meia-noite.


‘A mãe de Isabella deve ver o julgamento dos Nardoni?’ Uma das enquetes do Brasil Urgente de anteontem, na Band, com direito a votação em placar eletrônico


Caetano Veloso quer empurrar para 2011 a realização de um Acústico MTV. A emissora ainda não tem um plano B caso o cantor não tope fazer este ano a atração, que marcaria as comemorações de 20 anos do canal.


Por que o 1X 100, programa de Roberto Justus no SBT, mantém as inscrições abertas no portal da emissora, se já está todo gravado? O game, que deve ficar no ar até junho, já encerrou as gravações há tempos.


No SBT já se fala em adiar a estreia do novo programa de Justus, O Grande Desafio. A emissora pode passar outro formato previsto para o empresário, o game Topa ou Não Topa – com custo de produção bem mais em conta – na frente.


O Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital e as emissoras darão início a uma campanha que pretende popularizar a TV digital. A base dos comerciais é que a TV digital é para todos, e gratuita.


Um cachorro que verá os mortos, ou melhor, espíritos dos mortos, promete ser a sensação de Escrito nas Estrelas, próxima novela das 6 da Globo. O bichinho será a ligação entre os dois mundos: o dos vivos e o dos mortos.


A Globo exibirá This Is It, documentário sobre os últimos ensaios de Michael Jackson, em junho, mês que marca um ano da morte do popstar.


Geisy, a do vestido, quer ser atriz. A moça, que está no ar em um quadro no Melhor do Brasil, já tem contrato com a Record e pensa cursar faculdade de Artes Cênicas.


Armadilha é o nome que Cama de Gato ganhou na SIC, emissora portuguesa que exibe o folhetim.


Lázaro Ramos terá uma série nova no Fantástico. Em O Curioso, o ator será um cara desempregado que tentará a sorte em várias profissões.’


 


 


CENSURA


Daniel Bramatti


Sociólogo sugere emenda anticensura


‘O sociólogo Demétrio Magnoli disse ontem que o Brasil poderia evitar casos de censura à imprensa impostos pela Justiça se tivesse em sua Constituição uma emenda que proibisse claramente qualquer entrave à liberdade de expressão.


Magnoli proferiu a conferência inaugural do seminário Liberdade de Expressão/Direito à Informação nas Sociedades Contemporâneas da América Latina, promovido pela Fundação Memorial da América Latina.


O estudioso fez um relato sobre a doutrina do ‘terrorismo midiático’, propagada, segundo ele, por governos e partidos identificados com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Essa doutrina, delineada em evento patrocinado por Chávez em 2008, estabelece que a informação deve ser ‘objeto de políticas públicas permanentes’, ou seja, submetida a controles estatais.


O governo brasileiro, segundo Magnoli, não adota a tese do terrorismo midiático e respeita a liberdade de imprensa ‘quase o tempo todo’. ‘O presidente Lula reclama da imprensa, como todos os demais, mas isso é um sinal de que a imprensa é livre.’ Para o sociólogo, porém, a doutrina é predominante no PT, ‘partido que vive um processo de restauração stalinista’.


Supremo. O sociólogo se referiu a uma possível mudança na Constituição ao comentar a censura ao Estado, determinada pela Justiça há 237 dias. Para ele, o País poderia se inspirar em lei norte-americana que proíbe expressamente o Congresso de legislar sobre mecanismos que imponham censura prévia à imprensa.


‘No caso do Estado, o STF não julgou o mérito, ou seja, não avaliou se é ou não um caso de censura. Quando isso acontecer, creio que haverá uma vitória para a liberdade de expressão’, disse Magnoli.’


 


 


Vargas mandou ocupar ‘Estado’ há 70 anos


‘Há 70 anos, no dia 25 de março de 1940, o Estado Novo de Getúlio Vargas ocupava o jornal O Estado de S. Paulo. Valendo-se de falsas acusações de que na Redação havia um movimento subversivo contra Vargas, o Conselho Nacional de Imprensa determinou que a família Mesquita saísse da direção do jornal.


As alegações de que haveria uma conspiração contra o governo no Estado e de que até armas teriam sido encontradas na Redação nunca foram confirmadas pela Justiça, o que reforça a versão de que tudo não passou de uma trama da Polícia Civil contra o jornal, que ficou cinco anos sob intervenção da ditadura.


O fechamento da Redação e das oficinas do Estado foi determinado à Superintendência de Segurança e Política Social pelo então ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra. Na portaria assinada por ele, não consta o real motivo do fechamento. De 26 de março a 6 de abril, o jornal deixou de sair, voltando a circular no dia 7 de abril.


Até o dia 6 de dezembro de 1945, o jornal circulou sob intervenção do governo Getúlio Vargas. Com a renúncia dele, o Estado foi devolvido a Julio de Mesquita Filho, que foi aplaudido quando retomou a posse do prédio da Rua Boa Vista.’


 


 


Jornal está sob censura há 237 dias


‘Desde o dia 29 de janeiro, o Estado aguarda uma definição judicial sobre o processo que o impede de divulgar informações a respeito da Operação Boi Barrica, pela qual a Polícia Federal investigou a atuação do empresário Fernando Sarney. A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) em 31 de julho do ano passado de noticiar fatos relativos à operação da Polícia Federal.


No dia 18 de dezembro, Fernando Sarney entrou com pedido de desistência da ação contra o Estado. Mas o jornal não aceitou o arquivamento do caso. No dia 29 de janeiro, o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira apresentou ao TJ-DF manifestação em que sustenta a preferência do jornal pelo prosseguimento da ação, para que o mérito seja julgado.’


 


 


ARGENTINA


Cristina ataca de novo dona do Grupo Clarín


‘A presidente Cristina Kirchner ameaçou recorrer a tribunais internacionais para esclarecer a identidade de filhos das vítimas da ditadura (1976-1983). ‘Quero saber se haverá Justiça após anos de impunidade pelo forte poder da mídia’, disse, em referência à proprietária do Grupo Clarín, Ernestina Herrera de Noble. Investiga-se se dois filhos de Ernestina seriam filhos de vítimas dos militares.’


 


 


INTERNET


Cláudia Trevisan


Google sofre impacto após fechar site na China


‘O Google começou a sofrer ontem o impacto da decisão de fechar seu site na China. Alguns dos principais portais do país deixaram de oferecer a seus usuários a realização de buscas na internet por meio do google.com, em inglês, e do google.cn, que desde segunda-feira é redirecionado para o site da companhia em Hong Kong. O movimento foi iniciado pelo portal Tom Online, do bilionário Li Ka-shing, que nasceu na China continental, mas construiu sua carreira em Hong Kong. Ontem, o China Daily, editado pelo Conselho de Estado, e o Global Times, ligado ao Partido Comunista, também deixaram de oferecer em seus sites a pesquisa na internet por meio do google.com.


Na segunda-feira, o Google anunciou que deixaria de operar o google.cn a partir da China, em razão de sua decisão de não mais censurar os resultados das buscas. A condição para a empresa ter um site no país era a prática da autocensura, com a incorporação a seu sistema de busca das restrições impostas pelo governo chinês.


Com a transferência do site para Hong Kong, o Google deixou de praticar a autocensura, mas as restrições de acesso à informação se mantêm. O usuário que está na China continental continua a encontrar um site idêntico ao google.cn. A diferença é que agora a censura não é mais feita pelo Google, mas pelo governo chinês.


Apesar de os internautas continuarem a ter a possibilidade de acessar diretamente o google.cn – e ser redirecionados para o google.com.hk – a retirada do link direto para o portal de vários sites importantes deverá ter impacto sobre o número de usuários.


A eventual queda no tráfego do portal deverá reduzir a quantidade de anunciantes voltados para o público da China continental.


Isso deverá ter pouco impacto imediato sobre a receita do Google, que faturou no país asiático no ano passado algo estimado em US$ 300 milhões, cifra insignificante quando comparada a seu resultado global de US$ 22 bilhões.


Mas a decisão de transferir o google.cn para Hong Kong deverá prejudicar os planos de expansão da empresa no país que tem a maior população de internautas do mundo, com 384 milhões de usuários.


Ontem, o acesso aos sites do Google a partir da China era irregular.


Repercussão


Duas empresas dos EUA que vendem domínios na internet afirmaram ontem que pararam de registrar novos endereços na China. Segundo as companhias, a decisão foi tomada após o governo chinês começar a exigir fotos e documentos de identificação de seus clientes para o registro.’


 


 


Chineses têm ferramentas contra ‘muralha virtual’


‘Alguns milhares de internautas chineses conseguem furar a barreira da censura e ter acesso a todas as informações que são vetadas pelo governo chinês. O caminho para isso é a utilização de serviços que ‘contornam’ a muralha tecnológica levantada pelas autoridades locais.


Até o ano passado, era comum o uso de ‘proxies’, que escondem a identidade do usuário e, no caso da China, ‘enganam’ a censura. Quando se conecta a um proxy, o internauta ganha uma identidade virtual (IP) de uma localidade fora da China, que não está submetida à ‘grande muralha de fogo’ aplicada à internet dentro do país.


Mas, nos últimos meses, o governo intensificou os controles sobre a informação que circula na rede de computadores e a eficácia dos ‘proxies’ foi bastante reduzida.


Diante das restrições, os usuários se voltaram para as VPNs (Virtual Private Networks, ou ‘redes privadas virtuais’, em tradução livre), que são canais privados de comunicação, protegidos dos controles externos. O serviço é oferecido por empresas europeias e americanas. Alguns são gratuitos e outros chegam a custar US$ 60 por ano.


Não há uma estimativa precisa de quantos internautas utilizam proxies e VPNs na China, mas, seguramente, é uma minoria. De qualquer maneira, a existência dos serviços indica que há meios de burlar a ‘grande muralha de fogo’ do governo de Pequim.’


 


 


BANDA LARGA


Vera Rosa, Renata Veríssimo


Plano do governo para banda larga prevê estatal, mesmo sem a Telebrás


‘Se não for a Telebrás, será outra estatal. Apesar da oposição da equipe econômica à ideia de injetar recursos para ressuscitar a Telebrás e transformá-la em empresa líder do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua querendo uma estrutura estatal para fazer a expansão da internet no País.


O Planalto admite que os passivos da Telebrás podem comprometer o desempenho da estatal, mas o Estado apurou que essa é a opção preferencial de Lula. Em reuniões envolvendo as assessorias dos gabinetes da Presidência e da Casa Civil, Lula tem mantido a posição de que o governo deve ter uma ‘empresa ou um órgão’ que faça a expansão da banda larga onde as teles privadas não chegam.


Se não der para transformar a Telebrás em ‘operadora da banda larga’, o presidente quer que a estatal seja a ‘reguladora da operação’. Uma fonte definiu a tarefa assim: ‘A Telebrás coordenaria as contratações de serviços das teles, estabeleceria metas e faria cumprir as operações contratadas.’ Nesse caso, a empresa não assumiria o passivo da Eletronet.


Nota do Tesouro. Uma nota preparada por técnicos e encaminhada ao secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, no início de janeiro, defende a extinção da Telebrás e a criação de uma nova empresa pública, apurou a Agência Estado. A existência da nota foi noticiada ontem pela Folha de S. Paulo.


O ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu ontem o estudo do Tesouro e que a nota dos técnicos ‘levanta a possibilidade de se criar uma nova empresa pública para instituir o PNBL’. Mas disse que o trabalho serve apenas para embasar a discussão sobre os custos do plano.


O secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Rogério Santanna, também admitiu que o governo não abandonou a ideia de, se for necessário, ‘criar uma empresa específica para desempenhar esse papel (implantar o PNBL)’.


‘Bela experiência’. As empresas de telecomunicações são contra a recriação da Telebrás e dizem que o sucesso do programa que leva a internet gratuita às escolas públicas urbanas as credencia para fazer o plano da banda larga para todo o País.


‘Não me lembro de um programa dessa dimensão, com a abrangência deste território, que tenha sido feito num período tão curto. Foi uma bela experiência’, disse o presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, depois de participar de uma reunião com a secretaria-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra.


Os técnicos do Tesouro têm argumentado que novas atividades operacionais que venham a ser assumidas pela Telebrás podem ser prejudicadas por alguma decisão judicial desfavorável (leia abaixo). Fazem ainda um alerta sobre o custo de manutenção da Telebrás e para a possível necessidade de um novo aporte de dinheiro público.’


 


 


Renato Cruz


Discussão sobre estatal emperra plano de internet


‘Na semana passada, os Estados Unidos anunciaram seu plano nacional de banda larga. Se até eles precisam de um plano, com um mercado daquele tamanho, por que o Brasil não precisaria? Sem dúvida, precisamos muito mais. Mas a discussão aqui corre o risco de não dar em nada por causa da polêmica criada pelo governo com a proposta de ressuscitar a Telebrás como gestora do plano.


Vale a pena comparar o que ocorre lá com o que acontece por aqui. Existem cinco diferenças importantes:


1) O plano dos EUA foi elaborado por um grupo técnico da agência reguladora. Aqui, a Anatel é coadjuvante.


2) A proposta americana passará pelo crivo do Congresso. No Brasil, o plano de banda larga deve ser criado por decreto.


3) O plano americano não prevê ressuscitar uma estatal que é alvo de especulação em bolsa. No Brasil, vários integrantes do governo, incluindo o presidente Lula, falaram na volta da Telebrás, fazendo suas ações dispararem, sem que a sua volta fosse confirmada oficialmente ao mercado.


4) Os EUA não planejam usar a rede óptica de uma empresa comprada por R$ 1. O governo brasileiro quer a infraestrutura da falida Eletronet, que pertence a um empresário ligado ao ex-ministro José Dirceu.


5) O plano de banda larga americano não está sendo anunciado às vésperas da eleição.’


 


 


PROFISSÃO PERIGO


Chico Siqueira


Quatro vão a júri por morte de jornalista


‘Começa hoje o julgamento de quatro dos cinco acusados pelo assassinato do jornalista Luiz Carlos Barbon Filho, morto em 2007, aos 37 anos, em Porto Ferreira, a 228 km da capital. Ele trabalhava no Jornal do Porto e foi autor de reportagens que mostraram, em 2003, o envolvimento de vereadores e de comerciantes da cidade no aliciamento de menores de idade. O júri vai ocorrer no 5º Tribunal do Júri, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo.


O jornalista foi assassinado no dia 5 de maio de 2007 com dois tiros de espingarda calibre 12. Ele estava em um bar quando dois homens encapuzados chegaram em uma moto. O que estava na garupa se aproximou de Barbon e disparou dois tiros à queima-roupa.


Dos cinco acusados, quatro são PMs e um é comerciante. Todos estão presos. Na sessão do Tribunal do Júri, que começa hoje, às 9 horas, serão julgados o sargento Edson Luís Ronceiro, o capitão Adélcio Carlos Avelino, o soldado Paulo César Ronceiro e o comerciante Carlos Alberto da Costa. O quinto acusado, o soldado Valnei Bertoni, conseguiu adiar a data por meio de liminar. Eles são acusados de homicídio qualificado, tentativa de homicídio e formação de quadrilha. Eles negam envolvimento no assassinato do jornalista.


As sete pessoas que formarão o júri serão escolhidas entre 25 convocados. A expectativa do Ministério Público é que o julgamento dure de dois a três dias. Os policiais acusados, que estão presos no Presídio Romão Gomes, devem ser levados pela manhã para o tribunal. Já o comerciante, detido no presídio de Itirapina, seria transferido ontem para a capital.


Segurança. Segundo o promotor André Luiz Bogado da Cunha, a transferência da sessão de Porto Ferreira para a capital se deu por motivos de segurança. ‘Lá não existia segurança e poderia haver alguma parcialidade dos jurados por conta de ser uma cidade pequena e a pressão de PMs ser forte’, afirma Cunha.


A principal discussão do tribunal será, na opinião de Cunha, a apresentação de provas sobre a arma do crime. Perícias feitas em cartuchos de tiros disparados no jornalista confirmam que eles saíram da arma que estava na oficina do comerciante Carlos Alberto da Costa, que é primo do capitão Adélcio. ‘É uma prova contundente, que poderá ser fundamental para incriminar os réus’, diz Cunha.


Outro destaque da sessão, o depoimento de testemunhas que identificaram os homens das motos como Bertoni e Ronceiro. ‘Essas testemunhas vão depor e confirmar que, embora os atiradores estivessem com capuzes, puderam ser reconhecidos’, afirma o promotor.’


 


 


Repórter denunciou PMs e políticos


‘O Jornal do Porto, de Porto Ferreira, a 228 quilômetros da capital paulista, publicou em 2003 uma série de reportagens sobre aliciamento de menores de 11 a 16 anos. O repórter Luiz Carlos Barbon Filho conquistou notoriedade ao denunciar o envolvimento de empresários, políticos locais e policiais militares no esquema. Ele era constantemente ameaçado com cartas e telefonemas anônimos. Segundo um tio, em 2006 Barbon sofreu um atentado. O medo o fez pensar em sair da cidade. Em 5 de maio de 2007, o jornalista foi assassinado com dois tiros à queima-roupa quando bebia com amigos em um bar da cidade. Desde então, sua família participa do programa federal de proteção.’


 


 


 


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