Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

MaCain denuncia parcialidade da mídia

O senador republicano John McCain acusou a mídia de favorecer os democratas depois que o jornal Los Angeles Times se recusou a liberar um vídeo de Barack Obama em um jantar, cinco anos atrás, elogiando o professor e escritor Rashid Khalidi, crítico ferrenho de Israel. Hoje professor de estudos árabes em Colúmbia, Khalidi defende a resistência palestina à ocupação israelense. No jantar em questão, Obama foi um dos convidados que discursaram – outros presentes chegaram a comparar israelenses a terroristas.


O LATimes afirma que recebeu o vídeo sob condição de não mostrá-lo a ninguém. Em artigo publicado em abril, o jornal contou sobre a fita e descreveu o jantar. O texto dizia que, em discurso no evento, Obama falou sobre discussões que tinha com Khalidi e jantares na casa do professor, e também defendeu que as pessoas do Oriente Médio devem chegar a um entendimento comum.


Proteção


O artigo chamou pouca atenção durante seis meses, até ser divulgado por blogueiros conservadores e pela campanha de McCain. Na semana passada, um porta-voz republicano acusou o LATimes de ‘proteger’ Obama de revelações possivelmente danosas. Um dia depois, McCain e sua candidata a vice, Sarah Palin, abordaram o assunto. ‘E se houvesse uma fita com John McCain vestido com um traje neonazista sendo guardada por algum veículo de comunicação?’, questionou o candidato republicano em entrevista a uma rádio em Miami. ‘Eu acho que iriam tratar a questão um pouco diferente.’


O artigo do LATimes dizia que, no jantar, um dos convidados que discursaram leu um poema acusando Israel de terrorismo e outro comparou os colonos na Cisjordânia a Osama bin Laden. ‘O que não sabemos é como Barack Obama respondeu a estes insultos a um país que ele diz apoiar, e não sabemos disso porque o jornal que tem a fita, o Los Angeles Times, recusa-se a divulgá-la’, continuou Sarah Palin, em um comício em Ohio. ‘Deve ser bom para um candidato ter grandes organizações de mídia cuidando de seus interesses.’


Outro lado


Alguns conservadores põem em dúvida a sinceridade do candidato democrata em suas declarações de apoio a Israel – questão crucial para muitos eleitores judeus em estados decisivos, como a Flórida. A amizade de Obama com Khalidi é tema recorrente da campanha republicana. Diante desses ataques, os estrategistas democratas não ficaram para trás, encontrando uma ligação entre McCain e o professor: o senador republicano é presidente do Instituto Republicano Internacional, que, na década de 1990, deu quase US$ 500 mil ao Centro de Pesquisa e Estudos Palestinos, fundado por Khalidi, para a realização de pesquisas sobre palestinos.


 


Pesquisas apontam preferência por democrata


As críticas à atuação da mídia durante a campanha presidencial não se resumem ao episódio ocorrido com o Los Angeles Times. Partidários de John McCain reclamam, há meses, de uma suposta ‘blindagem’ feita ao candidato democrata. Agora, eles têm uma pesquisa para basear suas queixas. De acordo com estudo divulgado na semana passada pelo Centro de Mídia e Relações Públicas, da Universidade George Mason, comentários feitos por entrevistados, analistas, repórteres e âncoras nas transmissões das três maiores redes de TV americanas – ABC, CBS e NBC – foram favoráveis a Barack Obama em 65% das vezes; McCain recebeu elogios em 31% dos comentários. ‘Por alguma razão, a mídia está apresentando Obama como uma escolha melhor para presidente do que John McCain’, diz o professor Robert Lichter, que dirige o centro. ‘Se você assistir aos noticiários noturnos, pensará que deve votar em Obama.’


Foram analisadas 979 notícias exibidas entre agosto e outubro, e excluídas matérias que avaliavam diretamente a disputa, com dados baseados em pesquisas. Foram considerados, por outro lado, comentários de qualquer tipo – um eleitor entrevistado pela CBS, por exemplo, afirmou acreditar que Obama traria um novo ‘frescor’ a Washington, e isso foi considerado manifestação pró-Obama. Já quando a jornalista Andrea Mitchell, da NBC, reportou que alguns conservadores acreditam que Sarah Palin não está pronta para o ‘horário nobre’, isso foi considerado comentário negativo a McCain.


Segundo a pesquisa, a ABC registrou 57% de comentários positivos aos democratas, e 42% de favoráveis aos republicanos. A NBC teve 56% de comentários positivos aos democratas e 16% aos republicanos. A CBS, 73% positivos a Obama, e 31% favoráveis a McCain. Também foi analisada a cobertura do telejornal apresentado por Brit Hume no canal fechado (e conservador) Fox News: foram encontrados 39% de comentários positivos a McCain e 28% positivos aos democratas.


Escolhas


Em outro estudo recente, o Projeto de Excelência em Jornalismo (PEJ), do Centro de Pesquisa Pew, concluiu que a cobertura sobre McCain ficou cada vez mais negativa desde o fim das convenções dos partidos, em setembro, enquanto a de Obama é mais equilibrada. Outra pesquisa do Pew mostrou que a televisão – principalmente os canais a cabo – continua a ser a principal fonte de informação sobre notícias de campanha.


A preferência por emissoras, entretanto, acaba acompanhando as inclinações políticas dos telespectadores. Dos entrevistados que disseram seguir a cobertura pela Fox News, 52% se identificaram como republicanos, 17% como democratas e 30% como independentes. O público do liberal MSNBC se identificou como 11% de republicanos, 50% de democratas e 36% de independentes. Já na CNN, 13% são republicanos, 45%, democratas, e 38%, independentes.


 


Canais incorporam briga eleitoral


Em artigo no New York Times [2/11/08], Jim Rutenberg lembra que, enquanto os partidos disputam entre si e brigam com os veículos de comunicação que os criticam, há também as emissoras que entram em uma verdadeira guerra em época de campanha presidencial. ‘Em qualquer noite, há dois pontos de vista distintos, extremos até, da campanha presidencial entre dois dos maiores canais de notícias a cabo, Fox News e MSNBC. Esta realidade dupla acaba refletida na internet’, diz, apresentando o embate no tom da cobertura com um exemplo prático. A saber:


Quinta-feira, 30 de outubro, televisão ligada na MSNBC: o âncora Keith Olbermann informa ao público que aquele é um dia ruim para John McCain. A força de Barack Obama nas pesquisas é tão forte que ele compete até no Arizona, estado do senador republicano. Além disso, ‘João, o encanador‘, personagem adotado por McCain nesta última fase da campanha como exemplo do homem médio, do ‘verdadeiro herói do dia-a-dia’, não aparece, como anunciado pelo senador, em um comício pela manhã na cidade de Defiance, Ohio. Os esforços de McCain para relacionar o rival democrata a um professor ligado à Organização pela Libertação da Palestina não chegam muito longe.


Quinta-feira, 30 de outubro, o canal agora é o Fox News: as coisas estão melhorando para McCain, dizem os âncoras Sean Hannity e Greta Van Susteren aos telespectadores. ‘João, o encanador’ participa de um comício na parte da tarde em Sandusky, Ohio, e anuncia sua intenção de votar no ‘verdadeiro americano, John McCain’. O senador, além disso, ganha território em pesquisas cada vez mais apertadas, apesar da grande parcialidade contra ele na mídia. A ligação de Obama com um professor simpático à Organização pela Libertação da Palestina é agora o ‘ponto central da eleição’.


Divisão política


Esta divisão política das notícias remete ao modo como o jornalismo americano era feito na primeira metade do século 20, quando jornais tinham posições políticas mais explícitas. Ela nunca foi, entretanto, tão clara na televisão. Para Jim Rutenberg, do NYTimes, o partidarismo na cobertura tem início com o aumento da pressão dos patrões pelo crescimento da audiência e dos lucros. Richard Wald, professor de mídia e sociedade na escola de jornalismo da Universidade Colúmbia, resume: para vender mais, é preciso se tornar objetivo.


A Fox News foi fundada há 12 anos sob o argumento de que a mídia tradicional tendia para o lado liberal; o público ‘não-liberal’ ansiava por uma cobertura ‘justa e balanceada’, lema da emissora – que na realidade é altamente conservadora. Apenas nos últimos anos, a MSNBC, que lutava por uma identidade própria, passou a se estabelecer como uma alternativa liberal à Fox News no horário nobre. A campanha presidencial tornou-se o combustível perfeito para a rixa entre os dois canais. ‘Basicamente, você escolhe o canal de notícias que te faz feliz, que reforça seus pontos de vista’, diz o professor Wald, que já ocupou o cargo de vice-presidente sênior da ABC News.


Tendência


Na internet, nota-se a mesma tendência. Há os eleitores que freqüentam o blog liberal Huffington Post http://www.huffingtonpost.com/ durante o dia e ligam a TV no MSNBC à noite; e há os que entram no conservador Drudge Report de dia e pulam para a Fox News no horário nobre. Estes dois tipos de público têm visões diferentes da disputa eleitoral. Tom Rosenstiel, diretor do Projeto de Excelência em Jornalismo (PEJ), diz que, até certo ponto, as duas emissoras podem ser vistas como ‘imagens de si próprias ao avesso’. A CNN, afirma Rutenberg, manteve um comportamento mais neutro durante a campanha. Com informações de Richard Pérez-Peña [The New York Times, 30/10/08] e de David Bauder [AP, 1/11/08].