Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Morre o criador do jornalismo gonzo

Hunter S. Thompson, 65 anos, jornalista criador do ‘jornalismo gonzo’ [no original italiano, significa ‘absurdos’, mas em jornalismo reflete um estilo subjetivo, pessoal, repleto de aspas, sarcasmo, humor, exageros e xingamentos], matou-se com um tiro, no domingo (20/2), em sua casa no Colorado, EUA.

O jornalista, que escrevia para revistas e jornais, também publicou livros – entre os quais Fear and Loathing in Las Vegas, transformado em filme de Hollywood em 1998 (traduzido para português como Medo e delírio). Mas Thompson ficou realmente conhecido por seu estilo jornalístico, escrito na primeira pessoa, transgredindo as normas da objetividade e transformando a figura anônima do repórter em personagem central da matéria.

Nascido em Louisville, no Kentucky, em 1939, Hunter Stockton Thompson estudou em escola pública e serviu na Força Aérea americana, onde teve seu primeiro contato com o jornalismo – cobria a seção de esportes para o jornal da Força Aérea na Flórida.

Em uma entrevista para a Playboy americana, Thompson contou como foi criado, no início da década de 70, o jornalismo gonzo. Ele tinha que entregar uma matéria à extinta revista de esportes Scanlan Monthly, o prazo final se aproximava, e ele não conseguia terminá-la. Sem saber o que fazer, e sem conseguir pensar mais na matéria, o jornalista começou a rasgar páginas de seu caderno de anotações, numerá-las e mandar para a impressão. ‘Eu estava certo de que aquele seria o último artigo que eu escreveria para qualquer lugar’, disse à Playboy.

Ao contrário da reação esperada, a matéria teve um retorno grandioso dos leitores e foi chamada de ‘ponto de ruptura do jornalismo’. Thompson se tornou um herói cultural e passou a ser respeitado por livros e artigos em que criticava a hipocrisia dos EUA. Segundo Michelle O’Donnell, em matéria no New York Times [21/2/05], ele influenciou toda uma geração de escritores com sua narrativa em primeira pessoa.