Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

NYTimes publica artigos censurados em 1942

O New York Times publicou, na semana passada (7/12), partes de uma série escrita pelo correspondente em Pearl Harbor Robert Trumbull, em 1942. O jornalista escreveu, no fim daquele ano, um artigo de 15 mil palavras dividido em seis partes sobre o período logo após o bombardeio à base naval e sua reconstrução. Por causa da censura em tempos de guerra, entretanto, o material nunca havia sido divulgado.

Trechos do texto de Trumbull foram publicados na página de opinião do Times, e o sítio do jornal abriga a série inteira. A página também contém correspondência trocada entre o repórter, o então chefe de redação do Times, Edwin L. James, e diversos oficiais da Marinha americana.

Lawrence Downes, autor de um editorial sobre Pearl Harbor publicado também na edição de 7/12, conta que encontrou uma carta de James para o almirante Furlong, que teria sido designado a ‘limpar’ a base, quando fazia pesquisa sobre o bombardeio de 1941.

Garimpando documentos

Interessado na história por trás da carta, Downes intensificou a pesquisa e encontrou mais cartas nos arquivos do Times e na Biblioteca do Congresso, chegando posteriormente a documentos guardados pelo próprio almirante Furlong – onde achou a série de textos.

Os artigos originais detalham o estrago de muitos navios após o ataque e os esforços imediatamente posteriores para ‘limpar a bagunça’ – tarefa que Trumbull descreveu, em uma carta de dezembro de 1942 para James, como ‘heróica em suas amplas proporções, e que, em detalhes, parecia por vezes impossível, freqüentemente desencorajadora e sempre fisicamente árdua, suja, fedorenta e perigosa’. Pelas correspondências fica claro que o jornalista ajudava no duro trabalho de reconstrução. ‘[Esta] é uma história que deveria deixar o país muito orgulhoso, e uma que irá lavar alguns gostos amargos’, escreveu na mesma carta.

Proibição mal-explicada

Em 23/12/42, Trumbull escreveu a James explicando que sua matéria havia sido censurada pelo departamento naval (na época, textos sobre a Marinha precisavam ser aprovados pelo departamento), pois a história era de interesse de todos os correspondentes e não poderia ser publicada exclusivamente pelo Times e pelo finado Chicago Times. Trumbull e o correspondente do Chicago Times, Keith Wheeler, trabalharam juntos nos esforços de reconstrução da base. O jornalista explicou ao chefe na carta que a Marinha havia alegado que não seria justo deixar apenas os dois com a história – mesmo que a idéia para ela tivesse partido deles.

Inicialmente, a matéria de Trumbull havia sido liberada sob a condição de que as informações fossem abertas a todos os correspondentes – para que todos tivessem a mesma chance de noticiar a reconstrução. Posteriormente, entretanto, a Marinha voltou atrás na decisão e determinou que os textos eram ‘incompletos e inadequados’, e não poderiam ser publicados. Em um memorando ao dono do jornal, em 31/12/42, James expressa seu descontentamento com a censura imposta pela Marinha. ‘Eu não acredito que a história de Trumbull seja inadequada. Eu acho apenas que o departamento de imprensa da Marinha não queria que um jornal tivesse a história’, escreveu.

As próprias correspondências do jornalista mostram certo tom de confusão com a censura. ‘Wheeler e eu acreditamos que a matéria sobre a salvação e o trabalho de reconstrução dos navios danificados em 7/12/41 será de grande valor à moral nacional’, escreveu logo antes do Natal de 1942. Apesar de muitos protestos feitos pelo jornal na época, só agora a série de textos ficou conhecida publicamente. Trumbull morreu em 1992. Informações de Anna Crane [Editor & Publisher, 7/12/06].