Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O avanço asiático na mídia ocidental

A venda do “Financial Times” era dada como certa desde que o britânico Pearson Group, que mantinha o maior jornal de economia do mundo há 60 anos, decidiu focar seus negócios na área de educação. O grupo alemão Axel Springer estava muito próximo de fechar o negócio, mas foi surpreendido, nos últimos minutos, pelos discretos executivos japoneses do Grupo Nikkei, que levaram o “Financial Times” por US$ 1,3 bilhão.

É o mais recente negócio em um esforço de empresas asiáticas para adquirir grandes títulos internacionais. Em julho do ano passado, a Forbes Media, editora da revista Forbes, foi comprada pelo fundo de investimentos Integrated Asset Management que reúne investidores de Hong Kong e Cingapura. Em 2010, por pouco a revista “Newsweek” não foi comprada pelo grupo chinês Southern Media Group.

O grupo Nikkei é um gigante de mídia, empresta seu nome ao principal índice de ações da Bolsa de Tóquio e foi criado em 1876 vendendo informações financeiras sobre commodities. Ganhou relevância na Segunda Guerra Mundial com seu principal título, o “Nikkei Shimbun”. Segundo analistas, o interesse do Nikkei pelo “Financial Times” se baseia na necessidade de expandir suas operações em língua inglesa. Outro ponto a ser considerado na compra do “Financial Times” pelo Nikkei e da Forbes por investidores chineses é a dificuldade de se manter títulos tradicionais em um momento de transição e a busca de empresas asiáticas por marcas de conteúdo com credibilidade.

O desafio econômico e de conteúdo ficou claro na fala dos executivos sobre o negócio. John Fallon, presidente da Pearson, declarou o desafio de manter uma tradicional marca de conteúdo em tempos de mudanças. “A mídia passa por um momento desafiador e a melhor forma de assegurar o sucesso comercial e jornalístico do FT é com sua participação em uma companhia digital global”, disse Fallon. Tsuneo Kita, presidente e CEO do grupo Nikkei, destacou o principal ativo que chamou a atenção no negócio: a credibilidade. “Estou extremamente orgulhoso da parceria com o “Financial Times”, uma das empresas de notícias de maior prestígio no mundo”, disse Kita.

A venda da Forbes

No ano passado, em editorial que comunicava aos leitores a venda da “Forbes” para os investidores asiáticos, Steve Forbes destacou que a chegada de um novo grupo dava um novo ânimo e suporte para a empresa que vivia o desafio de equilibrar a queda de receitas publicitárias com as mudanças no formato de consumo de notícias. “A chegada dos investidores chineses vai ajudar a ‘Forbes’, uma marca sólida e reconhecida, a seguir com sua missão de oferecer conteúdo de qualidade, mas que seja rentável”, disse Forbes na edição de agosto do ano passado.

Não é apenas no mercado de notícias que a Ásia avança. O de entretenimento também está na mira dos executivos, principalmente chineses. Em 2012, o grupo chinês Dalian Wanda comprou a AMC Entertainment, segunda maior cadeia de cinema dos Estados Unidos, por US$ 2,6 bilhões. Especulações dão conta de que existe um interesse crescente por investidores chineses que poderão, em breve, adquirir um grande estúdio de Hollywood. O empresário chinês Jack Ma, fundador do Grupo Alibaba, vem fazendo acordos com casas de conteúdo de cinema e declaram interesses em adquirir empresas como a Lions Gate Entertainment.

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Luis Gustavo Pacete escreve para a revista Meio & Mensagem