Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O erro de não ouvir os dois lados

Em matéria publicada recentemente no Washington Post, foram reveladas as ligações entre a indústria de minas de carvão e funcionários federais que a regulam. Segundo o artigo, mais de 200 ex-funcionários do Congresso, legisladores e reguladores federais tornaram-se lobistas, consultores ou executivos do setor. O inverso também ocorreu: muitos ex-membros da indústria de carvão assumiram cargos governamentais de supervisão das minas.

A reportagem foi publicada poucas semanas depois da explosão em West Virginia que matou 29 trabalhadores na mina Upper Big Branch, operada pela Massey Energy. A análise do Washington Post dá destaque à instituição federal que deve garantir os padrões de segurança, a Administração de Saúde e Segurança das Minas (MSHA, sigla em inglês). No entanto, um único parágrafo provocou uma reclamação furiosa, que classificava a Massey e a Murray Energy como ‘as duas empresas de mineração com os piores índices de segurança nos EUA’. ‘Suas minas foram locais de pelo menos três acidentes na última década, tirando a vida de 40 pessoas. As duas juntas têm mais de 5.700 violações de segurança pendentes’, dizia o texto.

Dois dias após a publicação da matéria, a Murray Energy enviou uma carta ao Post ameaçando entrar com uma ação legal por conta das ‘falsas declarações’. O vice-presidente Michael O. McKown teria escrito que era ‘completamente falso’ que sua empresa tinha um dos dois piores índices de segurança.

A grande questão, observou o ombudsman do Post, Andrew Alexander, em sua coluna de domingo [25/4/10], foi o fato de o diário não ter procurado a Murray para comentar as alegações. Ou seja, é realmente injusto afirmar que uma empresa é uma das piores sem oferecer uma oportunidade para resposta. Além disso, os leitores do Post leigos no assunto não tiveram o contexto completo para entender a complexidade que envolve a segurança de uma mina. Era necessária uma análise mais criteriosa da MSHA.

A editora da seção de notícias nacionais, Barbara Vobejda, que editou a matéria, reconheceu alguns dos problemas. ‘Deveríamos ter incluído dados para basear a nossa alegação de que a taxa de segurança da Murray é uma das piores do país e ter chamado a empresa para comentar’, admitiu. Na semana seguinte, foi publicada uma nota informando que a Murray estaria entre as minas com piores índices de segurança, segundo dados da MSHA, e que ela teria constestado estas informações. Do total de 40 mortes, nove ocorreram nas minas da Murray.