Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O paradoxo das escutas telefônicas

Continuam as surpresas suscitadas pelo projeto de escuta telefônica encetado pelo governo dos Estados Unidos (‘Grampos de Bush‘).

Na quinta feira (11/5), George W. Bush assegurou ao país que os milhões de escutas tinham sido legais, e que esses controles serviam somente para dar um combate mais eficaz às ações terroristas do al-Qaeda.

A revista Economist, em matéria de capa, mostra a popularidade do presidente em queda livre – na última sondagem está em 29%. A guerra do Iraque encontra-se num beco sem saída, como repetiram os ex-secretários de Estado e da Defesa Madeleine Albright e Frank Carlucci. A onda de demissões continua na Casa Branca, assim como se multiplicam os escândalos.

Bush procura se defender como pode; seu medo é que nas próximas eleições parlamentares de novembro os republicanos percam a maioria, permitindo, dessa forma, que os democratas comecem a pensar em um impeachment.

Dois ‘gargantas profundas’ do serviço secreto estadunidense revelaram ao The New York Times que foi o vice-presidente Dick Cheney a querer, depois do 11 de setembro de 2001, as interceptações telefônicas sem a autorização da magistratura, fato que agora está no centro do escândalo político. Revelaram ainda mais, que foi o general Michael Hayden quem organizou os controles telefônicos.

Hayden dirigiu a NSA (National Security Agency) de 1999 a 2005, que entre as 15 agências americanas de inteligência é aquela que se ocupa de proteger as comunicações internas e decifrar as do inimigo – o que lhe permitiu estudar o programa nos mínimos detalhes, conseguindo convencer seus colaboradores a aceitar algumas ‘licenças’ para não respeitar a lei de 1978, que proíbe esse tipo de interceptações. Ele agora foi indicado pelo presidente Bush para dirigir a CIA no lugar de Porter Gross, que pediu demissão do cargo sob suspeitas de ter recebido subornos.

Fala, presidente

Michael Hayden esteve no Senado preparando caminho para a sabatina a que será submetido. Na ocasião declarou que os controles telefônicos eram legais, que os parlamentares que tinham o direito foram devidamente informados, e que o único objetivo do programa era defender a segurança dos Estados Unidos.

Ele não conseguiu convencer os democratas, que tentarão extrair fatos que os ajudem na campanha eleitoral. Também alguns republicanos são críticos do programa, especialmente depois de saber que enquanto três companhias telefônicas (AT&T, Verizon e BellSouth) tinham obedecido a ordem da NSA de fornecer dados dos telefonemas de milhões de usuários, José Nacchio, ex-diretor da Qwest, se opusera para não correr o risco de violar as leis.

Mas nisso tudo há um grande paradoxo: de acordo com uma sondagem promovida pelo jornal Washington Post e pela rede TV ABC, dois em cada três americanos nada tem contra as escutas telefônicas ilegais promovidas pela Casa Branca. Talvez tenham sido influenciados pela versão dada por Bush em sua fala radiofônica dos sábados:

‘Foram feitas algumas insinuações sobre a forma como estamos controlando a al-Qaeda para evitar que volte a nos atacar. Quero dizer que as ações de inteligência que autorizei são totalmente legais e membros do Congresso, republicanos e democratas, tinham sido devidamente informados. Sempre defendemos com todas nossas forças a privacidade dos americanos’.

De fato, a coisa fica difícil de entender.

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Jornalista