Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Obama se lança à reeleição pela internet


Folha de S. Paulo, 5/4


Álvaro Fagundes


Obama se lança à reeleição pela internet


O presidente americano, Barack Obama, confirmou ontem que buscará a reeleição, tornando-se o primeiro candidato oficial para o pleito do ano que vem.


O anúncio foi feito por meio de um vídeo publicado no seu site e também de um e-mail enviado a seus seguidores. ‘Sempre soubemos que mudanças duradouras não viriam rápido nem fácil. Nunca vêm’, diz o e-mail.


‘Mas, na medida em que o meu governo e pessoas de todo o país lutam para proteger o progresso que tivemos -e fazer mais-, também precisamos começar a nos mobilizar para 2012, bem antes de chegar a hora de eu começar a campanha a sério.’


Oficializado o registro, Obama pode começar a arrecadar dinheiro para a campanha. A expectativa é a de que ele levante mais de US$ 1 bilhão até novembro de 2012, superando os US$ 750 milhões arrecadados em 2008.


A dúvida é se ele vai conseguir mobilizar os pequenos doadores e repetir a primeira eleição, quando teve recorde de 4 milhões de contribuintes individuais, ou se vai depender do dinheiro de grandes corporações -estratégia que criticou no passado.


Obama já não entra na disputa com o frescor da novidade e precisa arcar com as críticas sobre suas decisões, ao invés de ser simplesmente o homem que iria mudar os rumos da Casa Branca que era comandada por George W. Bush (2001-2009).


O presidente vem patinando nos últimos meses com índice de popularidade em torno de 45% -distante dos 70% do início de mandato. Por outro lado, a oposição republicana ainda não conseguiu apresentar um candidato que se mostre viável para bater Obama.


DESAFIOS


Um dos principais desafios de Obama é a economia. O desemprego vem cedendo e está no menor patamar em dois anos, mas ainda em um nível alto para os padrões americanos (8,8%).


Além disso, a dívida americana está no limite, em US$ 14 trilhões, com os gastos crescentes do governo para tentar estimular a economia.


Os republicanos, que detêm a maioria na Câmara dos Representantes (deputados), devem propor hoje acordo para cortar gastos públicos em US$ 4 trilhões (dois PIBs brasileiros de 2010) em uma década, afetando principalmente programas de saúde.


No campo externo, Obama vem reduzindo a atuação das tropas americanas no Iraque e promete começar a fazer o mesmo no Afeganistão a partir de julho, mas envolveu recentemente o país na operação de proteção aos civis em confronto na Líbia.


 


 


 


Folha de S. Paulo, 5/4


Carlos Eduardo Lins da Silva


Anúncio via e-mail simboliza aproximação dos mais velhos


Pode ter sido sintomático o presidente Barack Obama ter escolhido anunciar oficialmente que vai concorrer à reeleição em 2012 por meio de correio eletrônico.


Um modesto vídeo de dois minutos sem a participação de Obama também foi postado na internet, no site www.barackobama.com .


E-mail, como se sabe, é ‘meio de comunicação de velho’. Os jovens de longe preferem as redes sociais e o Twitter, instrumentos que, aliás, Obama usou preferencialmente na sua vitoriosa campanha de 2008.


Talvez ao dar prioridade neste primeiro passo rumo a 2012 ao e-mail, o presidente esteja -intencionalmente ou não- revelando que desta vez o eleitorado mais conservador e idoso estará entre seus alvos mais importantes.


Embora a extrema-direita americana o continue chamando de socialista, o fato é que seu governo deu uma forte guinada para o centro ou até mesmo para a direita, em especial depois da derrota de seu partido nas eleições parlamentares de 2010.


É difícil reconhecer o candidato de 2008 no presidente que desistiu de fechar Guantánamo, aprova métodos desumanos de tratamento ao suspeito de ter vazado segredos ao WikiLeaks, endossa a suspensão de garantias constitucionais a acusados de terrorismo e reinstitui os tribunais militares criados por George W. Bush.


Com esse tipo de comportamento no poder, é improvável que Obama volte a mobilizar jovens, em geral apáticos à política partidária, com a mesma intensidade que se viu em 2007 e 2008.


Isso não significa que as chances de Obama se reeleger sejam pequenas. Ao contrário, suas perspectivas, vistas de agora, são excelentes.


Suas taxas de aprovação pública, embora menores do que no início do mandato, superam as de Ronald Reagan e Bill Clinton no terceiro mês de seu terceiro ano de governo (eles se reelegeram).


O Partido Republicano, de oposição, embora em maioria na Câmara, não tem nenhum nome que possa ser levado a sério contra um ocupante da Casa Branca.


Apesar da insatisfação da ala mais à esquerda do Partido Democrata, nenhum líder desse grupo demonstra interesse em desafiar o presidente, que -bem ou mal- ainda está próximo de suas ideias.


Por isso, é provável que Obama resolva se aproximar dos adultos e idosos mais conservadores, faixa do eleitorado em que seu resultado no pleito de 2008 foi baixo tanto nas primárias contra Hillary Clinton quanto na eleição geral contra John McCain. Daí, possivelmente, o recurso ao e-mail.