Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Okrent se prepara para passar o bastão

Em algumas semanas, o primeiro ombudsman do New York Times, Daniel Okrent, passará o bastão a seu sucessor, Byron Calame. Em extensa entrevista concedida a Neil Hickey, colaborador do Columbia Journalism Review [Maio-Junho/05], ele fala sobre a responsabilidade de fazer crítica a um dos jornais mais importantes do mundo e sobre os objetivos que conseguiu atingir. A direção do Times resolveu instituir um editor-público após a crise desencadeada na redação pelo escândalo do repórter-plagiador Jayson Blair, em 2003.

Okrent conta que, desde o começo, tinha combinado com o editor-executivo do diário, Bill Keller, que iria abordar apenas grandes temas relevantes para o jornalismo, em vez de se ater a pequenos erros, coisa que comumente fazem os ombudsmans. Com essa premissa, ele teve liberdade total para escrever. Ainda assim, os primeiros meses foram muito difíceis, pois, por ser o primeiro editor-público, não havia referência para o seu trabalho. Ele passou então a ter como objetivo que seu mandato fosse encerrado deixando criada uma base para que seu sucessor pudesse ir além. Okrent diz que tem muitas dicas a dar a Calame: ‘Vou alertá-lo sobre algumas pessoas da redação e recomendar alguns sistemas que desenvolvi para tratar de certos assuntos’.

Em muitos momentos, o ombudsman foi alvo de reclamações dos jornalistas do Times. Algo natural, dado que criticava o trabalho deles. ‘Uma das coisas de que me orgulho é que as pessoas vão trabalhar na segunda-feira e discutem o que eu escrevi. Elas podem discordar de mim, mas estão falando de assuntos que são importantes para o jornalismo contemporâneo’. De fato, Okrent tentou ajudar a mudar o jornalismo. Através de seus textos, pressionava a diminuição da citação de fontes anônimas ou a menção de opiniões de especialistas cuja autoridade ou imparcialidade o leitor não poderia julgar.

O editor-público acredita que sua maior dificuldade seja filtrar os interesses dos envolvidos nas questões que debate em sua coluna. ‘Uma pessoa sobre a qual saiu uma matéria e que reclama, dizendo ‘fui tratado injustamente e os motivos são tais:…’, obviamente não pode enxergar a situação com objetividade. Do mesmo modo, o repórter e os editores ligados à matéria tampouco podem, porque têm interesses também. Há pouquíssimas coisas no mundo – ou, ao menos, no mundo do jornalismo – que são puramente preto no branco. É difícil concluir se algo foi justo ou não. Isto tem sido a coisa mais dura desde o começo do meu mandato.’