Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Onde fica a ética?

As últimas semanas foram cheias para os que monitoram ética no New York Times, com recentes violações das normas do diário por dois colunistas e um jornalista de economia. Thomas Friedman devolveu US$ 75 mil de uma agência do governo por uma palestra e Maureen Dowd usou um parágrafo de um blogueiro sem lhe dar o devido crédito. Já o jornalista Edmund Andrews começou a promover um livro no qual descreve como pegou empréstimos que não poderia pagar, incluindo esforços para ajudar pessoas em situação semelhante à dele. Cada situação foi comentada pelo ombudsman do NYTimes, Clark Hoyt, em sua coluna de domingo [24/5/09].

Envolvimento excessivo

Em 2007, Andrews contou a seus editores sobre a proposta de seu livro. Ele queria escrever sobre a crise das hipotecas a famílias em má condição financeira. O jornalista tinha dois motivos fortes: ele precisava de dinheiro e poderia fornecer um panorama da atual situação do país por meio de sua experiência. ‘Estava desesperado’, disse. Sete meses após ter pegado o empréstimo, ele corria o risco de perder sua casa – a não ser que o livro Busted, que será lançado esta semana, seja um sucesso de vendas.

Quando Craig Whitney, editor de padrões do diário, leu a proposta de Andrews, questionou se ele ainda poderia escrever sobre economia, mesmo estando envolvido pessoalmente com esta questão. O jornalista respondeu que não acreditava que isto poderia afetar seu trabalho, pois não seria muito diferente de um repórter cobrir matérias sobre uma redução de impostos que poderia beneficiar a classe média.

Depois de escrever um artigo adaptado de seu livro, que foi publicado na revista de domingo, uma advogada perguntou como Andrews poderia continuar escrevendo sobre economia. ‘Seria como se eu tivesse feito algo que não me deixasse mais exercer a advocacia e continuar escrevendo sobre ética jurídica’, opinou. Dean Baquet, chefe da sucursal de Washington, discorda. ‘Andrews tomou uma decisão errada, mas foi encorajado pelo sistema de hipotecas e fez algo legal’, argumentou. Segundo ele, a própria experiência do jornalista lhe deu uma perspectiva compartilhada por milhões de americanos. É o que também pensa Kelly McBride, especialista em ética do Instituto de Jornalismo Poynter, na Flórida. ‘Com a supervisão de editores, ele foi a pessoa perfeita para escrever sobre o tema’, opinou.

Para evitar críticas, Baquet evitou que Andrews cobrisse matérias sobre hipotecas, mas admite que poderia ter sido mais cauteloso. Andrews escreveu uma matéria em conjunto com outro jornalista quando o presidente Barack Obama anunciou seu plano de ajudar proprietários de casas em perigo de entregar seus imóveis. Ele escreveu sobre detalhes do plano, pedidos de senadores para que a tomada dos imóveis fosse adiada e um acordo para congelar taxas em algumas hipotecas para pessoas em má condição financeira.

Plágio?

Em relação à Maureen, na sua coluna de domingo sobre tortura e o ex-vice-presidente Dick Cheney, ela incluiu um parágrafo, com poucas mudanças de palavras, de autoria de Josh Marshall, do blog Talking Points Memo – sem, no entanto, identificar a fonte. Um outro blogueiro percebeu a cópia e, rapidamente, acusações de plágio invadiram a rede. Maureen alega não ter lido o post de Marshall e diz que conversou com um amigo que sugeriu a frase sem lhe dizer que era do blog. Posteriormente, a informação sobre a autoria do parágrafo foi acrescentada à coluna online e, no dia seguinte, o diário publicou uma correção.

Para alguns, a explicação de Maureen não foi convincente. Como pode um amigo repetir exatamente as 42 palavras de um parágrafo? Muitos leitores pediram, inclusive, a demissão da colunista. Maureen disse ao ombudsman que a passagem em questão era parte de uma conversa por e-mail. Ela ainda observou que deu crédito a dois blogueiros por outras informações na coluna, por isso não havia razão para não dar crédito a Marshall – que ficou satisfeito com a correção e disse não acreditar que a colunista tenha agido intencionalmente. Para Andrew Rosenthal, editor das páginas editoriais, jornalistas colaboram e fazem trocas um com o outro todo o tempo.

Ignorando normas internas

Quando Friedman aceitou US$ 75 mil para falar em um agência governamental regional em Oakland, este mês, não obedeceu a uma regra do diário que estabelece que membros da equipe devem aceitar dinheiro ‘apenas de grupos educacionais ou sem fins lucrativos que não tenham como principal foco atividade política ou lobista’.

Friedman já tem seu nome reconhecido, com cinco best sellers internacionais. Ele realiza em torno de 15 palestras pagas por ano, muitas outras de graça, e ainda as posta em seu sítio na internet. Ainda assim, defende Hoyt, deve seguir as mesmas regras do resto da equipe.

O colunista esclarece: quando recebeu a proposta para a palestra em um encontro sobre proteção climática, pensou que se tratava de uma organização sem fins lucrativos. ‘Não prestei atenção. Não há desculpas’, disse. O caso foi trazido à tona por repórteres da Califórina. Ele devolveu o dinheiro. Após o incidente, Rosenthal e Bill Keller, editor executivo, enviaram um memorando a toda a redação lembrando que aqueles que receberem mais de US$ 5 mil por ano em palestras devem relatar o fato ao diário.