Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Os leitores e as teorias da conspiração

Leitores, algumas vezes, suspeitam que jornalistas do Washington Post conspiram para melhorar ou deteriorar a reputação de pessoas públicas, escreveu o ombudsman Andrew Alexander, em sua coluna de domingo [7/3/10]. A realidade não é bem esta, porém o mito ficou em destaque nas últimas semanas por conta da cobertura do Post sobre o chefe de gabinete da Casa Branca, Rahm Emanuel.

Tudo começou no dia 21/2, com uma coluna do repórter e comentarista político Dana Milbank, que foi contra os pedidos para que o presidente Barack Obama demitisse Emanuel. O jornalista argumentou vigorosamente que Obama sofreu perdas durante o primeiro ano de sua administração porque ignorou os conselhos de Emanuel. Mais de uma semana depois, uma matéria de capa do repórter Jason Horowitz comprou a tese de Milbank, o que gerou reclamações de leitores e internautas, argumentando que o Post decidiu institucionalmente apoiar o chefe de gabinete do presidente.

Se houve de fato uma conspiração na redação, o jornalista político David Broder não recebeu o memorando, ironiza Alexander. Na semana passada, ele ridicularizou a coluna de Milbank, classificando-a de ‘ficção notável’, e disse que Horowitz escreveu uma matéria pretensiosa. ‘Juntas, elas pareciam, para todo o mundo, vazamentos orquestrados que em geral precedem uma resignação forçada em Washington’, escreveu.

Opinião e notícia

Horowitz e Milbank acompanharam o tema durante o mesmo período, mas não chegaram a combinar nada. Como colunista, é trabalho de Milbank oferecer um ponto de vista – e cabe a Broder usar seu espaço para criticar a coluna dele. Opiniões diferentes, bem argumentadas, são o que tornam as páginas opinativas estimulantes, diz o ombudsman.

Já as notícias precisam fornecer aos leitores informações de modo balanceado e transparente. Horowitz conversou com diversas fontes para sua matéria antes que a coluna de Milbank fosse publicada. Todas elas confirmaram a tese de que o presidente sofreu perdas durante o primeiro ano de sua administração porque ignorou os conselhos de Emanuel. Na opinião do ombudsman, o artigo merecia estar no Post, pois trouxe informações mais elaboradas sobre o assunto, porém não com tanto destaque. Um problema maior, afirma ele, é a grande dependência que este tipo de matéria tem das fontes anônimas. Nos primeiros dois meses do ano, mais de 70 artigos do Post usaram citações anônimas. Baseado em arquivos, os números estão bem acima do que o mesmo período do ano passado.