Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Os perigos da seleção automática de notícias

Quando um adolescente decidiu inventar que havia sido contratado por uma das maiores companhias de internet do mundo, sabia exatamente como espalhar a ‘notícia’ – e usou a própria companhia para fazê-lo. O caso aconteceu no início do mês em New Jersey, nos EUA. O jovem Thomas Vendetta enviou o release falso sobre sua contratação pelo Google para o Google News, sistema de busca de notícias do… Google.


O sistema rastreia notícias online a partir de uma palavra ou expressão-chave. De maneira simples e rápida, o anúncio sobre a ‘contratação’ de Vendetta apareceu no sítio. O incidente ilustra os perigos do modelo de seleção automática de notícias. ‘Estariam estes ‘agregadores’ fornecendo as notícias, ou estariam eles misturando-as com as falsificações que afetam o resto da internet?’, pergunta Randy Dotinga em artigo no Christian Science Monitor [29/3/06].


O Google News defende-se dizendo que suas fontes de notícias são constantemente revisadas e que dispensou o serviço que permitiu que o adolescente postasse o release falso. Já o Yahoo News afirma que possui funcionários que garantem que as histórias classificadas de ‘notícias’ em seu sítio venham de fontes respeitadas.


No caso da falsa contratação, Vendetta imediatamente se arrependeu quando sua brincadeira foi descoberta, e pediu desculpas em uma mensagem online. Mas quantas outras pessoas utilizam do mesmo recurso no Google News e em outros sítios agregadores de notícias para vantagem própria?


Um dos grandes problemas destes práticos sistemas de busca é justamente a falta de envolvimento humano no processo de escolha das notícias. Um programa de computador, e não uma pessoa, decide que sítios, blogs e releases aparecem primeiro quando alguém digita qualquer termo.


Mataram o mensageiro


Se na era pré-Google assessorias de imprensa tinham que se esforçar para repassar seus releases, hoje ficou tudo mais fácil. A internet funciona como canal de comunicação com o público-alvo, mas também permite que este público receba literalmente qualquer tipo de informação – não importando sua veracidade ou a credibilidade de quem envia. Em uma pesquisa feita no Google News usando a palavra ‘tecnologia’, por exemplo, foram encontrados 162 mil resultados, sendo 34 mil identificados como releases. A vantagem de ter seu release no sistema é quantitativa: em 2005, o Yahoo News contabilizou em média 25 milhões de visitantes mensais; o Google News já iniciou com quase 8 milhões de visitantes.


‘A questão fundamental é que a mídia não serve mais de meio intermediário entre o leitor e a fonte de notícias’, resume Greg Jarboe, presidente da SEO-PR, uma das muitas empresas de publicidade que ajudam seus clientes a conseguir melhor lugar em resultados de sistemas de busca. Recentemente, outro release falso conseguiu seu lugar no Google News. O texto noticiava a morte do ator Will Ferrell. ‘Antigamente, para espalhar um boato para milhões de pessoas era preciso estar na mídia ou ter acesso a um repórter. Hoje, qualquer um pode, literalmente, fazê-lo’, diz Alex Boese, autor de um guia de boataria.


Hoje, qualquer pessoa que faça buscas nos sítios agregadores de notícias deveria pelo menos levar em conta o conselho do jovem Thomas Vendetta: ‘Você é livre para acreditar no que quiser, mas tenha cuidado com o que você acredita’.