Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

País é ‘buraco negro’ da comunicação

Uma foto tirada por satélite mostrando a noite da Coréia do Norte e da Coréia do Sul revela a brutal diferença entre os dois países: enquanto a do Sul é iluminada de costa a costa, a do Norte permanece na escuridão – e no isolamento. A Coréia do Norte é conhecida em todo o mundo não apenas pelo teste nuclear realizado no começo deste mês, mas também pela censura aos meios de comunicação. Seus habitantes só têm acesso a freqüências de rádio e TV controladas pelo governo. Os celulares foram proibidos em 2004. Segundo o Comitê de Proteção aos Jornalistas, a Coréia do Norte é o líder dos ’10 países mais censurados do mundo’.


Enquanto outros regimes de países censurados conseguem limitar o uso da internet através de filtros de conteúdo e ameaças, a Coréia do Norte optou por ficar completamente fora do mundo online. ‘É de longe o pior buraco negro da rede’, conclui Julien Pain, editor de internet da ONG Repórteres Sem Fronteiras.


Isto não significa, entretanto, que as autoridades da Coréia do Norte não usem a internet. Em 2000, a então secretária de Estado dos EUA, Madeleine Albright, pediu ao líder norte-coreano Kim Jong-il para ‘atender ao telefone’. Ele imediatamente respondeu para que ela lhe desse seu e-mail. Foi a revelação ao mundo de que pelo menos ele usava a rede.


Grande intranet


Atualmente, o sufixo norte-coreano ‘.kp’ permanece inativo, mas diversos sítios ‘oficiais’ norte-coreanos podem ser acessados na rede, como por exemplo o Democratic People´s Republic of Korea. Estes sítios são hospedados em servidores na China ou Japão. Adotando a estratégia de ensino a distância, o líder norte-coreano lançou também o sítio da Kim Il-sung Open University, instituição de ensino destinada a educar o mundo através da filosofia ultranacionalista ‘juche’, que significa ‘auto-suficiência’ ou ‘ter controle sobre o próprio destino’.


De acordo com o Open Initiative, projeto de direitos humanos que reúne pesquisadores das Universidades de Toronto, Harvard, Cambridge e Oxford, os computadores utilizados pelos acadêmicos e estudantes nas universidades norte-coreanas são conectados uns aos outros, o que facilita o controle de conteúdo. O acesso à informática no país funciona, desta forma, como uma grande intranet.


‘Mas até quando a liderança do país poderá mantê-lo no escuro?’, questiona Tom Zeller Jr. [The New York Times, 23/10/06]. Rebecca MacKinnon, pesquisadora do Centro de Internet e Sociedade Berkman, de Harvard, observou que a proibição de celulares está sendo quebrada através do mercado negro na fronteira com a China. E cada vez mais os celulares estão oferecendo acesso à rede, o que significa que um maior número de norte-coreanos pode estar se conectando à internet.