Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Paulo Verlaine

‘‘Crise beneficia o Ceará, diz Cid’, diz a manchete do O POVO de sexta-feira última (5). A declaração do governador Cid Gomes reflete mesmo a realidade? Como o Estado pode se beneficiar da crise? Baseado apenas na valorização do dólar que beneficia o turismo? E as outras conseqüências nefastas da crise, tais como redução de investimentos, corte de verbas, desemprego? O jornal exagerou em dar manchete para declaração infeliz do governador Cid Gomes.

Caberia, no mínimo, um contraponto, isto é, O POVO deveria ter ouvido pessoas que discordassem de tal opinião.

Mas isto foi feito apenas no dia seguinte, sábado (6), com a matéria ‘Para economistas, crise será boa apenas para o turismo’, que mereceu chamada de primeira página.

QUESTIONAMENTO

Sobre a manchete ‘Crise beneficia o Ceará, diz Cid’, o leitor e jornalista Osvaldo Scaliotti mandou-nos a seguinte mensagem:

‘Lamento que um veículo de comunicação com a tradição e credibilidade do O POVO cometa erros básicos de apuração jornalística. A manchete da última sexta-feira, 5, ‘Crise beneficia o Ceará, diz Cid’ compra o discurso do governador de que a crise econômica beneficiaria o Estado, sem ao menos ouvir empresários e economistas sobre até que ponto essa opinião é correta ou não. A questão é que uma matéria, como pregam as regras da boa apuração jornalística, não deve se limitar a apenas uma fonte de informação, principalmente quando se trata de uma manchete de jornal e de um assunto de interesse público.

É altamente questionável essa declaração do governador Cid Gomes, tendo em vista que o turismo dificilmente é capaz de manter aquecida uma economia, principalmente no caso do Ceará onde o fluxo de visitantes é sazonal, concentrado nos meses de alta estação – dezembro, janeiro e julho. Além do mais, apesar da alta do dólar favorecer o fluxo interno de turistas, por outro lado, a potencial redução da renda e aumento da taxa de desemprego que a crise internacional pode provocar no Brasil, no médio e longo prazos, tende a anular esse benefício. Vale lembrar que as montadoras de veículos e gigantes como a Vale já anunciaram demissões e férias coletivas, como explicitam matérias publicadas no próprio O POVO e em outros grandes veículos. Como o turismo não é uma necessidade básica, tende a ser cortado dos gastos familiares em momentos de crise. Afinal, que tipo de benefício essa crise pode trazer ao Estado’?

ICA

O coordenador de Comunicação da Universidade Federal do Ceará, jornalista Paulo Mamede, viu ‘uma série de equívocos na cobertura sobre o Instituto de Cultura e Arte – ICA’. ‘Destaco a matéria de primeira página do Vida & Arte, de 03 de novembro, onde anuncia, com nomes e fotos, as pessoas que participam da matéria. Só que, pasmem, colocaram a foto do reitor e não ouviram o reitor, colocaram a foto do prof. Neudson Braga, mas ele não foi ouvido…’

Acrescenta Mamede: ‘Mas o pior estaria por vir. No mesmo caderno, mas com chamada de primeira página, dia 04/12, matéria (‘Pici, o plano B’), assinada pelos jornalistas Emerson Maranhão, Juliana Girão e Raquel Gonçalves, afirma logo na chamada: ‘mudança de rota. Depois de tentar instalar a sede do Instituto de Arte e Cultura (ICA) no Alagadiço Novo, o reitor da Universidade Federal do Ceará escolne novo endereço para o equipamento: o campus do Pici’.

‘Depois, no lead da matéria, podemos ler: ‘Fim de caso. A sede do Instituto de Cultura e Arte da UFC (ICA) já tem endereço certo. Depois da polêmica em torno do projeto que previa sua instalação no Sítio Alagadiço Novo, onde fica a Casa José de Alencar, a reitoria da UFC recuou e sacou o ‘Plano B’ que mantinha na gaveta. O novo equipamento irá para o Campus do Pici. A decisão foi tomada esta semana e discutida com os coordenadores do Pici… conforme O POVO apurou.’No entanto e ao contrário do exposto, no terceiro parágrafo, o jornal afirma: ‘Procurado pelo O POVO, o reitor da UFC, Jesualdo Farias, negou que a decisão de construção do ICA no Campus do Pici já esteja tomada, mas confirmou que existe um grande interesse nesse sentido… Questionado quais seriam as chances da confirmação do ICA no campus do Pici: o reitor arriscou: Dê 90.’

Noventa por cento de probabilidade não dá aos jornalistas o direito de dizer que a questão está decidida. Não está. E o reitor foi muito claro. E o que aconteceria se hoje, dois dias após a matéria, o IPHAN enviasse um parecer favorável à construção do ICA no Sitio Alagadiço Novo? Existe essa possibilidade, o prazo embora curtíssimo, ainda não foi esgotado. Embora menos prováveis, há outras alternativas para a construção do ICA, além do Pici: um terreno vizinho ao Sítio Alagadiço Novo (A UFC já está negociando com a prefeitura), no próprio Sítio Alagadiço Novo (caso o IPHAN avalie o recurso da UFC a tempo) e no Benfica. Durante a apuração da matéria ficou evidente a correria e a angústia da equipe para dar um furo. Rezo para que meus colegas não cometam mais uma barrigada’.

RESPOSTA

Sobre o assunto o editor-chefe executivo Erick Guimarães e o editor de Cultura e Entretenimento Emerson Maranhão disseram:

‘Na primeira matéria citada, as fotos tratam dos personagens envolvidos – não necessariamente de quem deu as declarações que sustentam a matéria.

Com relação à matéria desta semana, em que se informa que a UFC decidiu levar o ICA para o Campus do Pici, temos algumas considerações a fazer. O que embasa o lead da matéria não é a declaração do reitor. De forma alguma. É a apuração dos próprios repórteres – que receberam a informação de fontes absolutamente confiáveis de que o ICA será construído no Pici. Com essa informação nas mãos, o reitor foi procurado para dar uma declaração oficial. É essa apuração, feita em off, que sustenta todo o primeiro parágrafo’.’