Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Política é questão central de privatização

A diretoria da RAI, a TV pública italiana, se reuniu em Roma na semana passada, dando início a um dos processos de privatização mais críticos politicamente na história recente da Europa, reporta John Hooper [The Guardian, 15/12/04]. Os diretores têm como missão avaliar o valor da rede e, a partir disso, determinar qual o tamanho da fatia de suas ações que deve ser vendida. A questão política é a mais importante, já que a RAI não é nenhuma máquina de fazer dinheiro – em seu último balanço, apresentou lucro de 71,6 milhões de euros sobre um faturamento de 2,6 bilhões de euros.

No centro das atenções está o fato de que a privatização está sendo promovida pelo governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, proprietário da segunda maior rede de TV da Itália, a Mediaset. Ela controla 44% do mercado, contra 45% de sua concorrente pública. A lei que seu grupo político aprovou em abril possibilitando a privatização da RAI prevê que cada acionista poderá ter apenas 1% dos papéis da companhia, o que tornaria o processo de venda relativamente inofensivo, ainda mais tendo-se em vista que o governo sinalizava vender apenas 10% do total das ações. No entanto, este mês, o ministro de Finanças, Domenico Siniscalco, já falava em privatizar até 30%. O governo Berlusconi precisa desesperadamente tapar um buraco deixado nas contas do país pelo seu grande déficit fiscal.

Outro problema advém do duplo papel que a RAI exerce. Ao mesmo tempo em que funciona como uma rede comercial, faturando com publicidade, ela recebe também dinheiro de impostos, e tem função pública e educativa. Por isso, a autoridade de mercado italiana está fazendo pressão para que, antes de qualquer negociação no mercado acionário, a companhia seja dividida, separando formalmente essas duas partes.

Finalmente, há a questão dos funcionários da RAI, que passarão a ter o emprego ameaçado quando o setor privado quiser impor um perfil mais lucrativo à emissora. Hoje, ela emprega mais que o dobro de pessoas que a Mediaset, o que, mesmo considerando-se seu papel de utilidade pública, é algo exagerado.