Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Promotoria pede pena máxima a jornalistas da Al Jazeera

Vinte funcionários da Al Jazeera que enfrentam julgamento no Egito sob acusação de apoio à Irmandade Muçulmana podem, se condenados, ser sentenciados a até 25 anos de prisão. A promotoria recomendou, em audiência na quinta-feira [5/6], a pena máxima a todos os réus – entre eles estão o correspondente australiano Peter Greste, o produtor egípcio Baher Mohamed, e o jornalista egípcio-canadense Mohamed Fahmy, chefe da sucursal da Al Jazeera no Cairo. Os três foram presos em dezembro do ano passado.

Nove dos 20 réus estão encarcerados, e o restante é julgado in absentia, incluindo três jornalistas no exterior. Os 16 jornalistas egípcios foram acusados de terem se unido à Irmandade Muçulmana, grupo a que era ligado o presidente Mohamed Morsi, deposto em julho passado, e que foi designado “facção terrorista” pelo novo governo. Eles podem ser condenados a 25 anos de prisão.

Já os quatro jornalistas estrangeiros foram acusados de disseminar notícias falsas e de colaborar com os réus egípcios em seus crimes ao produzir e divulgar conteúdo jornalístico na internet e na TV. Eles podem pegar 15 anos de cadeia.

“Nós pedimos que o tribunal, sem compaixão ou piedade, aplique a pena máxima para os crimes abomináveis que eles cometeram… piedade por estas pessoas aproximará a sociedade inteira da escuridão”, declarou um dos promotores.

Criminalização do jornalismo

O julgamento continua no dia 16/6, quando os advogados de defesa de Greste, Fahmy e Mohamed devem encerrar suas considerações finais. Na sessão desta semana, eles citaram as consequências globais do caso. “Este não é o julgamento apenas destes réus – é o julgamento de todos os jornalistas”, declarou um dos advogados. Os jornalistas enfrentam as sessões dentro de jaulas no tribunal.

Um representante da Al Jazeera ressaltou que “o mundo sabe que estes três funcionários que estão presos estavam apenas fazendo seu trabalho”, lembrando a frase dos advogados: “A defesa argumentou que esse julgamento inteiro é o julgamento de todos os jornalistas que acreditam no jornalismo honesto e íntegro, e não apenas o julgamento destes três [profissionais] da Al Jazeera”.

Desde o início do julgamento, Greste, Fahmy e Mohamed o classificam, quando conseguem falar de dentro de sua jaula, de injusto e político. Segundo os jornalistas, as provas contra eles seriam forjadas. Na sessão desta semana, gritando para que fosse ouvido pelos repórteres presentes no tribunal , Fahmy denunciou as condições desumanas da prisão e declarou que o governo egípcio estava tentando criminalizar o jornalismo. “Você deveria ser inocente até ser considerado culpado. Nesta situação, somos culpados no segundo em que somos presos, tratados de forma pior do que criminosos, estupradores e assassinos”, afirmou.

Desde o golpe que tirou Morsi do poder, mais de 1.400 pessoas, a maior parte partidárias ao presidente deposto, foram mortas em uma onda de repressão policial. Mais de 15 mil foram presas e centenas receberam pena de morte após julgamentos rápidos.

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