Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Publicações locais sofrem menos com crise nos EUA

A crise que atinge a mídia americana tem gerado um efeito interessante. Enquanto grandes diários em grandes metrópoles sofrem duramente com o declínio da circulação e da receita publicitária, cortando custos com impressão e distribuição e diminuindo suas redações, pequenos jornais em cidades com poucos habitantes se beneficiam do encolhimento da cobertura pelos veículos nacionais, preenchendo o vácuo de notícias locais deixadas por eles.

É o caso do semanal Blackshear Times, em Georgia, na Flórida – a metrópole mais perto, Jacksonville, fica a 120 quilômetros de distância. Isso facilita que o jornal tenha 3.500 assinantes no condado de 17 mil pessoas, e consiga manter sua receita estável. ‘A CNN não vem para a minha cidade cobrir as notícias, e também não há muitos blogueiros por aqui’, diz Robert M. Williams Jr, editor e publisher do jornal. ‘Jornais comunitários continuam a ser um ótimo investimento porque nós fornecemos algo que não é obtido em nenhum outro lugar’.

Em vez de apostar em material obtido na internet, estes jornais concentram seus esforços em notícias locais sobre política, negócios, esportes, crimes e outras questões que dizem respeito a pequenas áreas geográficas, como uma cidade, um condado ou, algumas vezes, bairros. ‘Se andar, falar ou cuspir em nossas calçadas, nós cobrimos’, brinca John D. Montgomery Jr, editor e publisher do semanal Purcell Register, em Oklahoma. O jornal de cinco mil exemplares foca suas notícias na cidade de Purcell e em outras quatro cidades vizinhas com população combinada de 17 mil habitantes. Segundo Tom Griscom, editor-executivo do diário Chattanooga Times Free Press, no Tennessee, todas as notícias nacionais são colocadas ‘sob a lente da comunidade’, ou seja, como aquele assunto afeta a população local. ‘Se você quer realmente ler sobre a guerra do Iraque todos os dias, você não vai comprar nosso jornal. Vai comprar o New York Times‘, diz.

Concorrência

Grandes jornais, por outro lado, têm muitos concorrentes, incluindo sites e emissoras de rádio e TV. Muito do que é impresso em suas páginas já foi divulgado – gratuitamente – por outros meios no dia anterior. Além disso, as pequenas publicações em cidades menores ainda não perderam espaço nos classificados para sites especializados como o popular Craigslist – que hoje cobre a maior parte dos grandes mercados americanos e publica cerca de 40 milhões de anúncios a cada mês.

Em um estudo recente conduzido pela organização Inland Press Association sobre as finanças de 125 jornais americanos de diferentes tamanhos, ficou claro que as pequenas publicações têm conseguido desafiar a tendência geral. A receita de classificados entre jornais diários com circulação de menos de 15 mil exemplares cresceu 23% no período de cinco anos terminado em 2008. A receita com publicidade cresceu apenas 2,5% nestes jornais no mesmo período. Por outro lado, a receita publicitária em jornais com circulação acima de 80 mil exemplares caiu 25%. ‘Quanto maior o jornal, maior a queda’, resume Ray Carlsen, diretor-executivo da Inland Press.

Jornais pequenos também vêm conseguindo, em grande escala, evitar as demissões que tanto assustam a indústria jornalística, que já eliminou mais de 100 mil empregos desde 2005. Segundo o estudo, jornais diários com circulação abaixo de 50 mil exemplares gastaram mais em suas redações em 2008 do que em 2004. Ainda assim, estas publicações não ficaram imunes à grande recessão econômica que atingiu o país em setembro do ano passado. Parte da receita dos jornais pequenos evaporou no primeiro trimestre de 2009. ‘É errado pensar que há uma bolha protegendo nosso mercado’, diz Chris Doyle, presidente e publisher do diário Naples Daily News, na Flórida, com circulação de 64 mil exemplares. Para lidar com a recessão, o Daily News e outros quatro jornais vizinhos tiveram que reduzir em 30% suas equipes. Informações de Michael Liedtke [AP, 10/8/09].