Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Rádio estréia bombardeando Bush

Os EUA ganharam uma nova estação de rádio em 31/3/04. Formada pela parceria entre Mark Walsh, ex-executivo da HBO e da America Online, e o financista de Manhattan Evan Cohen, a Air America Radio é uma estação liberal. Seu principal objetivo é tornar-se referência para ouvintes sedentos por uma programação de rádio alternativa, em um território com opções predominantemente conservadoras.

Com uma estréia pontuada por uma série de problemas técnicos, a Air America conseguiu pelo menos plantar sua primeira semente. O destaque da emissora é o comediante Al Franken – famoso por sua atuação no programa de TV Saturday Night Live –, que na primeira edição de seu programa o definiu como ‘uma batalha pela verdade, pela justiça e pela América’.

Por enquanto, a Air America é transmitida para Nova York, Chicago, Los Angeles, Portland e São Bernardino, na Califórnia. Uma estação em Minneapolis, terra natal de Franken, transmite seu programa. A empresa ainda procura uma estação em Washington, e, segundo sua assessoria de imprensa, está negociando uma em São Francisco. Com menos de 100 funcionários, Walsh, executivo-chefe da Progress Media, empresa que administra a Air America, afirma que não espera obter lucro por pelo menos quatro anos; mais do que isso, ele prevê um prejuízo de US$ 30 mil nos próximos anos. Para atrair o público, Walsh aposta em um leque variado e curioso de apresentadores. Além do comediante Franken, também estão na estação a atriz Janeane Garofalo e o rapper Chuck D.

Em uma crítica feita ao programa de Franken, chamado The O’Franken Factor, Howard Kurtz [Washington Post, 1o/4/04] destacou que ‘um bom programa de rádio precisa seguir um ritmo forte e ter uma mistura hábil de ideologia, confrontação e humor’, para completar que ‘o programa de Franken foi reticente e discursivo’. Com um tom professoral, o apresentador criticou George Bush, Dick Cheney, Donald Rumsfeld e os comentaristas republicanos Bill O’Reilly, Sean Hannity e Ann Coulter. No intervalo entre as críticas, entrevistou o documentarista Michael Moore. Os assuntos foram desde o livro Stupid White Men, lançado por Moore há dois anos, até piadas sobre ligações entre a família Bush e o clã real saudita, para terminar com o cineasta lendo cartas de soldados que não gostam do presidente. A surpresa do programa foi a ligação do ex-candidato democrata à presidência Al Gore, que afirmou que estava fazendo uma exceção à sua política de não dar entrevistas por considerar o programa de Franken ‘realmente importante’.

O clima de bombardeio aumentou com o programa seguinte, comandado pela radialista Randi Rhodes, que não perdoou o presidente. ‘Nós estamos aqui porque vocês [ouvintes] são mais inteligentes do que George Bush’, disparou, para depois comparar a família Bush à mafiosa família Corleone.

Segundo Howard Kurtz, todos os outros programas deste primeiro dia de Air America tiveram algum foco político ou criticaram abertamente membros ou defensores do governo presidencial. É uma declaração direta de guerra ao Partido Republicano. A emissora irá competir com a National Public Radio, também direcionada a um público que procura notícias e debates políticos sem um tom conservador. Com informações de Michael White [Bloomberg, 30/03/04].