Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Regras existem para ser cumpridas

O uso de fontes anônimas tem regras rígidas no Washington Post. Elas estão detalhadas em mais de três mil palavras no manual de redação do diário, diz o ombudman Andrew Alexander [16/8/09]. Algumas destas regras, no entanto, são ignoradas; outras são aplicadas de maneira errada. E, apesar de sua importância, muitos membros da equipe do jornal não têm total conhecimento das normas e confessam que não as lêem há muito tempo.

Uma organização de mídia que não é vigilante sobre o uso de fontes anônimas pode sofrer danos em sua credibilidade. A prática é crucial para o trabalho jornalístico. Sem a garantia da confidencialidade, muitas fontes não compartilhariam informações delicadas sobre corrupção ou má conduta, por exemplo. Mas o anonimato também pode ser arriscado, já que fontes podem fornecer declarações falsas sem se comprometer.

Por este motivo, as regras do Post são rígidas, reforça Alexander. Elas determinam que editores têm a obrigação de conhecer a identidade das fontes de seus repórteres, para então definir, junto com eles, se seu uso é justificado. ‘Qualquer fonte que apareça no jornal deve ser de conhecimento de pelo menos um editor’, diz o manual. Mas, dos quase 30 repórteres questionados recentemente sobre o uso de fontes anônimas, 2/3 revelaram que seus editores nunca ou raramente perguntam a identidade de suas fontes. Metade disse ainda estar confusa sobre as regras de se lidar com fontes. Se os repórteres têm dúvidas, as fontes provavelmente também as têm.

Para o ombudsman, o Post é inconsistente em como descreve as fontes anônimas e os motivos para elas terem anonimato. As normas do diário estabelecem que leitores devem saber o máximo possível sobre a importânciae a necessidadedo uso de uma fonte confidencial. Mas as matérias, em geral, apenas dizem que uma fonte ‘falou em condição de anonimato’.

Uma matéria publicada na semana passada citou um consultor republicano – sem identificá-lo – criticando o senador Arlen Specter, o que pode ser considerado ataque pessoal e vai de encontro às normas do diário.O repórter, Chris Cillizza, explicou que sempre tenta convencer as fontes a não falar em condição de anonimato, mas, caso elas não abram mão, ele publica as informações se ‘acreditar que elas estão apresentando um ponto importante para ajudar o leitor a entender o escopo completo de uma matéria’.

Segundo Alexander, o uso de fontes anônimas no Post precisa ser mais vigiado. Somente este ano, a frase ‘falou em condições de anonimato’ foi publicada 160 vezes, normalmente em matérias políticas, e principalmente nas sobre o governo. O diário tem realizado reuniões periódicas para rever as políticas do uso de fontes anônimas. Na opinião do ombudsman, a prática não é ruim, mas as regras precisam ser cumpridas.