Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Reitor reforça importância de conteúdo intelectual na formação

A Escola de Jornalismo da Universidade Columbia está para escolher um novo reitor após uma década, depois que Nicholas Lemann anunciou sua iminente saída do cargo para o final deste ano letivo. Segundo informa o New York Times, o presidente da universidade, Lee Bollinger, assumirá a tarefa “pouco comum” de liderar pessoalmente a comissão que irá escolher um novo reitor.

Numa entrevista dada na quarta-feira (10/10), Lemann disse que tem orgulho em passar ao sucessor uma escola com um excelente balanço e sem a herança de problemas que pudessem dificultar o futuro. O programa está maduro para alguém com “uma visão forte e boa” que assumirá em julho do ano que vem e desenvolverá suas ideias. “O fato realmente grande que está acontecendo aqui é a revolução digital”, disse Lemann.

As pessoas que trabalharam próximo a Lemann só tinham elogios. “Ele é um escritor, um líder e um perfeito cavalheiro. Quem tenha trabalhado com ele, sabe disso”, disse Eric Newton, principal assessor do presidente da Fundação Knight. “Ele foi um diretor maravilhoso. Vai ser difícil substituí-lo”, disse Sree Sreenivasan, ex-diretor de Assuntos Estudantis e recentemente nomeado principal diretor do departamento digital. “Nick foi um diretor fantástico e ninguém irá esquecê-lo na faculdade – não só pelas inúmeras melhorias de infraestrutura que trouxe, mas também pelas excelentes mudanças de currículos que iniciou e levou em frente”, disse Sreenivasan.

O estudante de jornalismo pensante

Uma das principais iniciativas de Lemann foi aumentar a porção intelectual nas ofertas de disciplinas na Escola de Jornalismo. Formado em Harvard e ex-correspondente da New Yorker, ele foi nomeado reitor em 2003. Na época, disse ao New York Times: “Passei a vida querendo três meses para ler Platão, Aristóteles, Maquiavel, e discutir as principais ideias que possam ser usados em jornalismo, vinculando-as à prática do jornalismo.”

Numa mensagem de 2008, Lemann contava que sua nomeação como reitor fora precedida pela participação numa força-tarefa convocada por Bollinger em 2002-03, “cujo objetivo era simplesmente dar um empurrão na Escola de Jornalismo para que se atualizasse intelectualmente. Esse foi meu primeiro compromisso como reitor e foi seu encanto que me levou a aceitar o emprego”. E continuava: “A educação profissional de um jornalista deveria incluir conteúdo intelectual. A orientação prioritária das escolas de jornalismo – inclusive, a nossa – é no sentido de conferir talentos associados ao nível da prática; quase todo o discurso na educação do jornalismo é interno ao jornalismo e preocupado com normas e práticas profissionais, ao invés de tentar compreender o mundo do qual devemos fazer a cobertura.”

Essa missão tomou corpo em 2005, com a adoção de um novo modelo de curso de pós-graduação na área: o Master of Arts in Journalism. O programa de M.A. não oferece as tradicionais aulas de técnicas; ao invés disso, organiza-se em torno da compreensão de assuntos complicados, como ciência, economia, política, saúde, arte ou cultura. O programa complementa o tradicional título de Master of Science da faculdade, cujo foco é nas técnicas básicas e práticas da reportagem. Em palavras simples, o M.S. ensina o estudante a contar uma história; e o M.A. ensina quais as histórias a contar. Lemann disse que acha que a meta de adicionar intelectualismo ao currículo foi atingida. “É uma das coisas que mais me fizeram feliz em minha vida”, disse. Numa carta que enviou esta semana a amigos e colegas anunciando sua saída, Lemann disse que após 10 anos sentia-se pronto para sair e não buscaria outro mandato de cinco anos. “É um bom momento para que venha um novo reitor, com um novo conjunto de ideias.”

Tendências e pressões pela frente

O que, exatamente, essas novas ideias venham a ser dependerá do novo reitor. Mas atualmente, qualquer faculdade de jornalismo deve atender a algumas significativas tendências e pressões:

>> Repensar a experiência da universidade a partir do ensino online. O custo do programa de 10 meses Master of Science da Faculdade de Jornalismo é avaliado em US$ 81.222  (cerca de R$ 163 mil) incluindo orientador, alojamento e ajuda de custos, segundo reportagem da Bloomberg. O custo alto e os valores comparativos do modelo de título serão medidos por oposição à opção de treinamento online ou de modelos híbridos.

>> Os modelos de negócios. A barreira entre negócios e conteúdo está caindo em muitas organizações de mídia. Um jornalismo empreendedor – começando sua própria empresa de mídia – é uma abordagem mais comum com a acessibilidade da edição digital.

>> A fluência tecnológica. Precisamos de mais jornalistas que compreendam como as notícias são divulgadas digitalmente, por meio de sites e aplicativos, e talvez mesmo como construir algumas dessas ferramentas. Não se trata de todos os jornalistas terem que aprender a codificar, mas a maioria deveria compreender algum código e os que tiverem alguma propensão deveriam ser capazes de conseguir essa educação em seu programa de jornalismo.

>> Adaptação à velocidade da mudança. O que quer que você aprenda sobre jornalismo hoje, muita coisa será diferente em cinco ou 10 anos. Os estudantes de jornalismo precisam aprender como aprender sobre sua indústria continuamente.

Newton, da Fundação Knight, disse que houve boa adaptação no período em que Lemann esteve na Universidade Columbia. A Universidade Columbia criou um programa duplo em Jornalismo e Ciência da Computação. Ele transferiu-se para o modelo de “hospital de ensino” – aprenda fazendo – com seu site no New York World.

Segundo um comunicado divulgado na quarta-feira (10), a faculdade planeja modernizar seu currículo de M.S. no outono de 2013, para eliminar distinções entre os tipos de mídia. Os estudantes não irão mais escolher o tema do M.S. entre jornal impresso, jornalismo de rádio e TV, revista ou jornalismo digital. Em vez disso, terão três categorias simples: “palavra escrita; imagens e sons; e audiência e envolvimento”. “A natureza do trabalho dos jornalistas profissionais está mudando e implica uma relação interativa muito mais próxima entre o jornalista e as audiências, com atenção para a coleta e apresentação da informação de várias fontes, assim como para reportagens individuais em primeira mão”, dizia o comunicado.

O próximo reitor

A transição do jornalismo e da sociedade para uma era de mídias sociais e aparelhos portáteis irá definir os próximos 10 anos de maneira bastante semelhante àquela que a ascensão de Lemann definiu os últimos 10. A escola irá procurar um diretor com especialidade específica em mídia digital?

O New York Times cita Bollinger dizendo que ele “esperava que o substituto de Lemann tivesse apreço pelas mídias digitais, mas deu a entender que o próximo reitor não viria de uma área especificamente ligada às novas mídias”. “Acho que todos sabemos que o caminho para criar um jornalismo sério está cada vez mais aberto ao uso de imagens e meios de comunicação do que à palavra escrita”, disse Bollinger. “Em última instância, com toda a sinceridade, isso provavelmente ajudará a palavra escrita.”

Em sua entrevista, Lemann disse que o que torna um reitor bem-sucedido não é apenas sua sabedoria, mas sua capacidade de construir consenso com outros no cenário acadêmico: “Como velho repórter político, eu diria que este trabalho é metade executivo e metade legislativo. No que se refere ao legislativo, consistiria em construir apoio e consenso em torno de ideias para alcançar um acordo e contar com a maioria dos votos. Quando você contrata alguém para a faculdade, isso deve ser votado por toda a faculdade; quando você apresenta um novo currículo – e essas são as duas coisas mais importantes num lugar como este –, ele deve ser discutido e votado pela sua faculdade. Você não pode ordenar que essas coisas aconteçam.”

Lemann vai tirar um ano sabático e em seguida voltará a assumir um cargo de professor na Universidade Columbia. Informações de Jeff Sonderman [Poynter, 10/10/12].