Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Repórter investigado por espionar realeza

A polícia antiterrorista de Londres prendeu nesta terça-feira (8/8) três homens suspeitos de terem grampeado telefonemas na Clarence House, residência oficial do príncipe de Wales. Um deles seria Clive Goodman, jornalista que cobre assuntos da família real para o News of the World, edição dominical do The Sun. Os outros dois homens não tiveram suas identidades reveladas – um já teria sido liberado nesta quarta-feira (9/8) após pagamento de fiança. Goodman e o outro acusado ainda estão sob custódia para serem interrogados. A polícia também realizou uma busca nos escritórios da News International, editora do jornal, de propriedade de Rupert Murdoch.


O News of the World confirmou o envolvimento de Goodman. ‘Clive Goodman, jornalista do News of the World, foi preso hoje e está sendo interrogado na delegacia Charing Cross’, informou uma porta-voz do jornal na terça-feira (8/8).


Quebra de segurança


As prisões são parte de uma ampla investigação que teve início em dezembro, quando três funcionários da Clarence House comunicaram à unidade de Proteção Real da Scotland Yard (polícia metropolitana) que estavam ocorrendo irregularidades nas linhas de telefone.


A polícia revelou que a investigação inicial estava focada em ‘supostas quebras de segurança repetidas na rede telefônica durante um período significativo de tempo’. Dada à seriedade da potencial quebra de segurança, o inquérito foi repassado para o setor antiterrorista da polícia.


Funcionários do setor antiterrorista não excluíram a possibilidade de que pessoas públicas – dentre eles um membro do Parlamento – também tiveram seus telefones grampeados, ou que as conversações poderiam envolver outros membros da família real.


Embora detalhes da investigação não tenham sido revelados, especula-se que os grampos tenham sido realizados em telefones celulares e não nos fixos.


Grampos antigos


O príncipe Charles, sua atual esposa Camilla Parker Bowles, e sua falecida esposa Diana foram vítimas de grampos telefônicos no passado. Em 1993, uma gravação de um telefonema de conteúdo íntimo entre o príncipe e Camilla, então amante de Charles, veio a público. Durante a conversa, o príncipe teria afirmado que ele gostaria de reencarnar como o absorvente interno dela. A fita foi divulgada um ano depois da publicação de uma gravação de Diana supostamente conversando com um homem não identificado – que mais tarde foi revelado como sendo seu amigo íntimo James Gilbey.


Práticas questionáveis


Os métodos investigativos do News of the World já vêm há algum tempo sendo questionados. Na semana passada, o jornal foi condenado a pagar mais de US$ 300 mil ao ex-líder do Partido Socialista Tommy Sheridan por danos morais, depois de ele ter processado o diário por calúnia. O News of the World divulgou que ele havia traído sua mulher e visitado clubes de suingues. Na Corte, Sheridan descreveu o News of the World como ‘leva-e traz da falsidade, promotor da mentira, concentrado apenas nas vendas, circulação e lucros, e não na verdade e na vida das pessoas’.


A estrela do jornal, Mazher Mahmood, que se passava por um ‘falso xeque’, teve seus métodos questionados no fim de julho depois que três homens acusados pela publicação de terem tentado comprar material radioativo para fabricar uma bomba terrorista foram inocentados na corte. Os três haviam sido presos depois de uma investigação conjunta do jornal com o setor antiterrorista da polícia metropolitana.


Em março deste ano, o deputado britânico George Galloway acusou Mahmood de tentar, sem sucesso, fazer com que ele fizesse comentários anti-semitas e aceitasse financiamento políticos ilegais. O membro do Parlamento se vingou ao conseguir os direitos na corte de publicar fotos do xeque na rede.


Em 2003, Mahmood afirmou ter frustrado um suposto plano de seqüestro de Victoria Beckham e seus filhos, mas o caso contra os seqüestradores não foi aceito na corte. No julgamento de cinco homens acusados de armar o seqüestro de Victoria, foi revelado que o jornal havia pago a um criminoso convicto, Florim Gashi, para agir como informante. Gashi admitiu mentir sobre o caso para a polícia. Informações de Sam Jones [The Guardian, 9/8/06].