Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Repórter libertado com cinco anos de antecedência

O jornalista chinês Gao Qinrong, que servia pena de 13 anos de prisão por denunciar um falso projeto de irrigação, foi libertado com cinco anos de antecedência, informa Elaine Kurtenbach [AP, 20/12/06]. Qinrong, que trabalhava como repórter investigativo de um jornal estatal na província de Shanxi, ao norte da China, foi condenado em 1998 e libertado este mês.

Os motivos das autoridades para a soltura do jornalista não são claros. ‘A libertação [de Qinrong] dificilmente pode ser considerada um sinal de reforma ou afrouxamento, caso alguém esteja sugerindo isso’, afirma o professor de jornalismo e consultor de mídia Arnold Zeitlin. ‘O Estado tirou oito anos da vida deste homem com base em acusações fabricadas, sob as quais ainda estão presos tantos outros’.

Denúncia e acusações

O jornalista chamou atenção nacional quando reportou que um projeto de irrigação de US$ 35 milhões em Yuncheong, cidade ao norte da China, não passava de um esquema para impulsionar a carreira de autoridades locais. A denúncia, inicialmente publicada pelo Shanxi Youth Daily, apareceu posteriormente no jornal do Partido Comunista e na TV estatal. Meses depois, Qinrong foi preso sob acusação de suborno e fraude, entre outras, e sentenciado, após um curto julgamento, a 13 anos de prisão.

Em entrevista após sua soltura, o jornalista afirmou que estava certo em publicar a reportagem que o levou a ser condenado. ‘Para ser um jornalista, você tem que falar para a população’, disse ao jornal estatal Southern Weekend. ‘Se eu não publicasse a matéria, seria como se o caso nunca tivesse existido. Corrupção deve ser exposta’, completou.

Sinais confusos

A libertação de Qinrong acontece em um momento em que são realizadas operações para desmantelar escândalos de corrupção em grandes cidades chinesas, entre elas Pequim e Xangai. O objetivo do governo parece ser acalmar a população – irritada com os repetidos casos de corrupção – e fortalecer a imagem do presidente Hu Jintao. Fato é que o governo chinês costuma enviar sinais confusos e contraditórios com relação à liberdade de imprensa no país.

No início do mês, o governo anunciou que irá afrouxar antigas restrições a jornalistas estrangeiros com o objetivo de dar a eles liberdade para circular pelo país e cobrir amplamente os Jogos Olímpicos de 2008, em Pequim. Entretanto, as autoridades continuam a usar obscuras acusações de subversão e de violação de segredos de Estado para suprimir críticas ao Partido Comunista. Grupos em defesa da liberdade de imprensa alegam que há, hoje, pelo menos 30 repórteres encarcerados na China.