Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Repressão a jornalistas se intensifica no Nepal

Nos últimos dias, a violência contra jornalistas aumentou no Nepal, o que gerou protestos de organizações em defesa da liberdade de imprensa nepalesas e internacionais. Quase 100 profissionais foram presos no país na última semana, em represália a manifestações pró-democracia.


Milhares de manifestantes desafiaram o toque de recolher nas ruas de Katmandu e outras cidades em oposição ao rei Gyanendra, que dissolveu o governo e assumiu o poder absoluto em fevereiro de 2005 através de um golpe de Estado. Pelo menos três pessoas morreram. A greve geral contra o rei, convocada pela oposição e prevista para terminar na terça-feira (10/4), foi ampliada por uma aliança feita pelos sete partidos mais importantes do Nepal.


A organização Repórteres Sem Fronteiras informou que 97 jornalistas foram presos e 24 ficaram feridos desde o dia 5/4 – 20 deles permanecem sob custódia. Os repórteres que cobriam os protestos foram também ameaçados e agredidos, e a Federação de Jornalistas Nepaleses vem, desde então, sendo alvo de forças de segurança.


Ataques de todos os lados


A mídia foi atacada não somente pelo governo, mas também pelos manifestantes pró-democracia. No dia 9/4, quando 18 jornalistas foram presos na cidade de Butwall ao protestar contra a prisão de profissionais da mídia, manifestantes de Katmandu atacaram os carros dos jornais Himalayan Times e Annapurna Post.


Apelo ao rei


A RSF divulgou uma declaração pedindo ao governo do Nepal a soltura dos jornalistas e a garantia de que eles possam circular livremente pelo país. Além disso, a organização pede que empresas privadas de mídia emitam licenças oficiais, permitindo que repórteres viajem durante o toque de recolher imposto em diversas cidades nepalesas.


A Associação Mundial de Jornais (WAN, sigla em inglês), que representa 18 mil publicações em 102 países, e o Fórum Mundial de Editores (WEF, sigla em inglês) apelaram ao rei do Nepal para encerrar as sanções à mídia. Jornais e emissoras de rádio foram fechados e novas leis ameaçam repórteres que publicam matérias sobre a insurgência maoísta. ‘Nós respeitosamente pedimos que o governo faça o possível para assegurar que a campanha de intimidação à mídia seja imediatamente interrompida e que, no futuro, o Nepal respeite os padrões internacionais de liberdade de expressão’, afirmava a carta da WAN e do WEF.


Desde que assumiu o poder absoluto, Gyanendra impôs severas restrições a jornalistas e criou novas leis de mídia. Críticas ao rei, a seu governo e às forças de segurança, além da cobertura da insurgência comunista do país, são proibidas. Se os jornalistas violarem a proibição, podem pegar até dois anos de prisão e, junto com seus jornais, têm de pagar multa de US$ 7 mil. Informações da Associação Mundial de Jornais [10/4/06], de Julia Day [The Guardian, 11/4/06] e da AP [12/4/06].