Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Sátira política volta à TV, mas poupa líderes

Onde você poderia ver o presidente dos EUA Barack Obama cantando, dançando rap e gritando ‘Respeito, garota’ para a secretária de Estado Hillary Clinton? Em uma cena do novo programa exibido na TV estatal russa, o Cartoon Personalities. A estreia do programa, na semana passada [15/11], marca um tímido retorno à sátira política no horário nobre, sete anos após o encerramento do programa Kukly (Bonecos), que ironizava frequentemente o então presidente Vladimir Putin.

Os líderes da Rússia, no entanto, ficaram de fora da sátira do primeiro episódio. A única figura política russa que apareceu no Cartoon Personalities foi o ministro do Exterior, Sergei Lavrov, que fugia dos galanteios de Hillary. Políticos internacionais devem ser os alvos das críticas mais duras do programa. O presidente da Ucrânia, Viktor Yushchenko, que é pró-Ocidente, foi mostrado em um esquete sentado em uma tubulação de gás com a primeira-ministra ucraniana Yulia Tymoshenko, enquanto debatiam nos mais diversos sotaques quando desligá-la – uma alusão às eternas disputas de gás entre Moscou e Kiev.

Sendo um canal estatal, o Canal Um não se arriscaria a criticar políticos russos, explicou o produtor de TV Grigory Lyubomirov, que trabalhou em Kukly antes de seu cancelamento, em 2002. ‘Naturalmente, ninguém criticará o presidente ou o primeiro-ministro. Não acho que haja uma proibição específica, mas produtores experientes não querem correr o risco’, afirmou.

Já o Kukly mostrava Putin como uma marionete baixa e feia do então poderoso bilionário russo Boris Berezovsky. Desde que foi cancelado, piadas sobre Putin tornaram-se tabu no país. Em julho, o canal 2×2 cortou uma cena do desenho americano South Park que mostrava o político. Segundo o analista político independente Dmitry Oreshkin, a comédia televisiva na Rússia decaiu desde o fim de Puppets. ‘Neste ambiente, é impossível pensar em satirizar Putin ou [o presidente] Medvedev’, disse. Informações de Anna Malpas [AFP, 18/11/09].