Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Sem segurança, nada de boas notícias

A falta de segurança no Iraque prejudica a cobertura jornalística dos esforços de reconstrução do país e o entendimento da guerra, afirmaram vários jornalistas em uma conferência da agência de notícias Associated Press, na sexta-feira (28/10). Na medida em que o número de mortes de militares cresce e ganha as manchetes dos noticiários, a mídia é pressionada a abordar também as ‘boas notícias’. No entanto, as escolas e hospitais que estão sendo reconstruídos com dinheiro americano são, em geral, inacessíveis aos correspondentes no Iraque.


Tony Castaneda, que trabalha para a AP em Bagdá, afirmou que enfrentou problemas para cobrir as áreas dominadas por sunitas, onde há grande índice de insurgência iraquiana. ‘É praticamente impossível para nós chegarmos lá’, disse.


Dificuldade de locomoção


Os jornalistas investigativos Seymour Hersh, que publicou um livro com detalhes do escândalo dos maus-tratos contra prisioneiros iraquianos em Abu Ghraib, e Kevin Begos, que cobriu os esforços americanos de reconstrução para o jornal Winston-Salem, da Carolina do Norte, alegam que a mídia tem feito um trabalho fraco ao explicar o que está acontecendo no Iraque. Para eles, isto ocorre devido ao sigilo de informações da administração Bush e à falta de segurança para jornalistas no país, onde pelo menos 57 repórteres e 22 profissionais de apoio à mídia morreram desde março de 2003, de acordo com dados do Comitê para a Proteção dos Jornalistas. ‘Em outros conflitos, os repórteres podiam se locomover por mais lugares na maior parte do tempo. No Iraque, a situação é bem mais difícil para os jornalistas’, relata Begos.


Além dos jornalistas, participou da conferência o fuzileiro naval reservista Erik Duane, que serviu no Iraque. Ele afirmou que a cobertura dos esforços de reconstrução era praticamente inexistente durante seu primeiro período de serviço no país. Depois de ouvir as declarações dos jornalistas, Duane disse estar ansioso para ver as mudanças na cobertura jornalística quando voltar ao Iraque, no ano que vem.


Dois lados


Kathleen Carroll, editora-executiva da AP, afirmou que a agência está tentando realizar progressos em sua cobertura no Iraque e pediu aos editores que ‘resistam ao desejo de divulgar apenas um tipo de notícia’ sobre a guerra. ‘Enquanto é verdade que o poder está sendo restabelecido, que escolas estão sendo pintadas e que o progresso está ocorrendo em algumas partes do país, também é verdade que Bagdá ainda é um poço de violência. Temos então que resistir à idéia de que há apenas uma verdade sobre um lugar como o Iraque’, ressaltou Kathleen.


A AP é a maior e mais antiga agência de notícias e fornece conteúdo para mais de 15 mil organizações de mídia com um alcance diário de um bilhão de pessoas em todo o mundo. Seus serviços multimídia são distribuídos via satélite e internet para mais de 120 países. O editor-administrativo Mike Silverman lembrou que a agência vem aumentando a equipe de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas para apresentar matérias em todos os formatos. Informações de Michael Warren [AP, 28/10/05].