Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Site divulga ataque americano a fotógrafo da Reuters

O site Wikileaks divulgou um vídeo que mostra um helicóptero americano atirando e matando um fotógrafo e um motorista da agência de notícias Reuters, em um ataque ocorrido em julho de 2007, em Bagdá. Um funcionário do Exército dos EUA confirmou a autencidade do material. Há muito tempo a agência vinha pressionando pela divulgação do vídeo, que mostra também conversas entre pilotos em dois helicópteros apache, na medida em que abrem fogo contra pessoas em uma rua da capital do Iraque. No total, 12 pessoas foram mortas no ataque, dentre elas o fotojornalista Namir Noor-Eldeen, de 22 anos, e o motorista que o acompanhava, Saeed Chmagh, de 40.


Duas semanas depois dos assassinatos, alguns funcionários da Reuters puderam ver o vídeo, em preto e branco, com a condição de que não poderiam comentá-lo publicamente ou ficar com a cópia das imagens. A agência chegou a pedir uma cópia tendo como base o Ato de Liberdade de Informação, mas seu pedido não foi aprovado. O Wikileaks disse ter obtido o material por meio de alguém que optou entregá-lo para divulgação e só conseguiu ver a gravação depois de quebrar o código de encriptação. O site divulgou duas versões do vídeo: a completa, com 38 minutos, e uma editada, com 17.


Ataque aleatório


David Schlesinger, editor de notícias da Reuters, afirmou que o vídeo é uma ‘evidência gráfica dos perigos envolvidos no jornalismo de guerra e suas consequências’. No dia do ataque, oficiais do Exército disseram que os helicópteros foram chamados para ajudar soldados americanos que estariam expostos a granadas e tiros em um protesto. ‘Não há dúvida de que as forças de coalizão estavam envolvidas em operações de combate contra uma força hostil’, explicou, na época, Scott Bleichwehl, porta-voz das forças de coalizão em Bagdá.


As imagens, entretanto, revelam que não houve ação hostil. Em vez disso, são exibidas cenas de um grupo de pessoas na rua – dentre elas, o fotógrafo e o motorista. Os pilotos pensaram que eram insurgentes e que a câmera de Noor-Eldeen era uma arma. Eles atiram no grupo e comemoram os assassinatos. ‘Olha aqueles bastardos mortos’, afirma um piloto. ‘Ótimo’, responde o outro. Um homem ferido é visto engatinhando e os pilotos esperam, impacientemente, que ele pegue sua arma e atire contra eles, para que possam então revidar. ‘Tudo o que você tem de fazer é usar sua arma’, diz um dos pilotos. Pouco tempo depois, chega uma van para resgatar os feridos e, mais uma vez, os pilotos atiram – desta vez, ferindo duas crianças dentro do veículo. ‘Bem, culpa deles trazer crianças para o campo de batalha’, justifica. Em outro momento, um veículo blindado americano chega e parece atropelar um dos mortos. ‘Acho que eles acabaram de passar por cima de um cadáver’, brinca um dos militares.


Segundo a Reuters, o fotógrafo trabalhava em outra pauta quando ouviu falar de uma incursão militar na vizinhança e decidiu conferir. ‘Houve relatos de conflitos entre forças americanas e insurgentes na área, mas não nas ruas em que Noor-Eldeen estava com um grupo de pessoas’, escreveu a Reuters em 2008. ‘Acredita-se que três ou quatro homens estivessem com armas, mas testemunhas disseram que nenhum deles estava com um postura hostil naquele momento’.


Em um inquérito sobre o incidente, o Exército americano em Bagdá concluiu que as forças envolvidas não tinham motivo para saber que havia funcionários da Reuters no grupo. Nenhuma ação disciplinar foi tomada. Esta semana, o Comando Central dos EUA, que supervisiona as guerras no Iraque e no Afeganistão, divulgou um relatório sobre o caso, com fotos do que seriam armas e granadas encontradas perto dos mortos. O documento dizia que os funcionários da Reuters não se esforçaram ‘para mostrar que eram da imprensa’ e que ‘a proximidade com os insurgentes e as tentativas de fotografar as forças de coalização fizeram com que parecessem combatentes hostis aos helicópteros’. Para o Pentágono, o site Wikileaks é uma ameaça à segurança nacional. Informações de Elisabeth Bumiller [New York Times, 5/4/10] e Chris McGreal [The Guardian, 5/4/10].