Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Sob ataques e acusações, imprensa recua

A onda de violência que se espalhou pela França há mais de duas semanas representa um desafio não só para as autoridades, mas também para a imprensa do país. Os veículos de comunicação franceses responderam com todas as suas forças aos primeiros sinais de conflito, depois da morte acidental de dois jovens imigrantes enquanto eram perseguidos pela polícia. Depois que viraram, eles próprios, alvos de ataques físicos e começaram a ser acusados de contribuir com a violência, os jornalistas passaram a se afastar dos eventos.

Há relatos de repórteres e cinegrafistas feridos enquanto cobriam tumultos nos subúrbios de Paris. Há também indícios de que a profusão de imagens dos protestos dos jovens imigrantes nos jornais e noticiários televisivos estaria contribuindo para mais violência. Fatores como estes levaram alguns veículos de comunicação franceses a diminuir e adotar regras específicas para a cobertura dos eventos. Seria autocensura ou senso de responsabilidade? É o que questiona Elaine Ganley em artigo para a Associated Press [12/11/05].

O canal de notícias LCI – que decidiu, há uma semana, parar de exibir imagens de carros em chamas – define que passou a ‘informar sem sensacionalismo’. ‘Um carro queimando é extremamente impressionante’, afirma o editor Laurent Drezner. A decisão foi tomada, conta ele, depois que a emissora começou a receber telefonemas, aparentemente dos próprios agitadores, perguntando ‘por que vocês não mandaram câmeras?’. As ligações começaram depois que equipes de TV, atacadas com pedras por manifestantes, resolveram ficar longe das regiões mais turbulentas. A TF1, emissora de maior audiência do país, também passou a evitar a exibição de imagens de carros e edifícios em chamas.

Já o canal estatal France-3 não divulga mais os dados diários da polícia sobre veículos incendiados. Segundo o diretor Jacques Bayle, os números não podem ser considerados um bom meio de medição da violência, pois levam a uma ‘visão restritiva’ e incitam os agitadores a ‘tentar bater recordes, como num jogo esportivo’.

No início de novembro, quando os protestos entravam em sua segunda semana, o Ministério do Exterior reclamou que a mídia internacional estava ‘exagerando’ o conflito. Alguns cidadãos franceses culparam a cobertura da imprensa nacional e estrangeira pela propagação da violência. ‘A dificuldade é saber dosar’ a cobertura, resume o diretor de informações da TF1, Robert Namias. ‘Nossa regra é dizer tudo sem necessariamente mostrar tudo’.