Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Sobre estrelas e extrelas

O programa Som Brasil – Chico Buarque, exibido pela Rede Globo no dia 17 de dezembro de 2010, foi um belíssimo exemplo de música e interpretação. Jovens artistas interpretando canções que em sua grande maioria, foram compostas antes do seu nascimento. As exceções ficaram por conta de um senhor e uma senhora da melhor idade. Sentado calmamente em um banco e cantando com uma voz sem a mesma força de outrora, mas com o mesmo brilhantismo de sempre, o professor, Cauby Peixoto, extremamente esticado e maquiado, deu uma aula de interpretação, em ‘Bastidores’, para os jovens Renato Goda, Maria Eugênia, Aleh Ferreira e todas as Mulheres de Hollanda. A cantora Miúcha foi ainda mais brilhante. Em ‘Eu te amo’, abusou do charme e da belíssima voz, mesmo antes de brindar aos ouvintes com sua versão em francês de uma das obras-primas do seu irmão, Chico. Mas aí veio o domingão…

Como sempre, procuro me afastar da programação dominical das tardes da TV aberta brasileira. Silvio Santos, Gugu, Eliana e Faustão não costumam ser prestigiados pela minha audiência. Contudo, a internet e, em especial, as redes sociais, acabam despertando a nossa curiosidade para as coisas esdrúxulas da TV. E nesse Domingão, a Susana Vieira foi imbatível. A ‘extrela’ da Globo está cada vez mais decadente. Assim como Caetano Veloso, a Suzana passou a ter destaque na imprensa mais pelos seus erros do que pela sua arte.

Foi uma verdadeira saia justa

Sônia Maria Vieira Gonçalves, a Susana Vieira, é quase um ícone da história da teledramaturgia no país. Há quase cinco décadas na TV, acumulou sucessos em dezenas de novelas, séries e minisséries nas emissoras Tupi, Excelsior, Record e Globo. Porém, sua carreira tomou um curso lamentável nos últimos anos. Escândalos envolvendo o seu casamento com um policial militar bem mais jovem que a dama da TV brasileira começaram a manchar sua carreira. Admitiu publicamente ter sido traída pelo marido e pôs fim ao casamento. Depois veio a publicação de fotos da atriz publicadas com milhares de retoques digitais, para deixá-la com aparência mais jovial. A ‘photoshopada’ acabou na internet e virou piada. Não contente com esses problemas, cometeu uma gafe ao vivo, ao tomar o microfone da mão da repórter Geovanna Tominaga, durante uma entrevista ao programa Vídeo Show, dizendo que não tinha paciência para quem estava começando. E veio o Domingão do dia 19 de dezembro.

A grande Susana Vieira foi fazer o lançamento do seu CD. Sim, agora a atriz, que começou como bailarina na década de 60, virara cantora. Então, o apresentador Fausto Silva teve a infelicidade de pedir para a diva dar uma palhinha. Foi uma verdadeira saia justa. Susaninha assassinou os clássicos ‘Encontros e Desencontros’ e ‘Per Amore’, imortalizadas por Maria Rita e Zizi Possi, respectivamente. Mas o grand finale ainda estava por vir.

Como é cruel cantar assim…

No fim, Faustão elogiou a amiga profeticamente, dizendo: ‘Você é um coração totalmente escancarado.’ Logo depois, ao sentar no colo do seu novo namorado, no final da sua participação, deixou aparecer parte do seu seio ao vivo e em rede nacional. Culpa do vestido que, de tão curto e apertado, não aguentou conter a ‘jovialidade’ da septuagenária atriz.

Susana Vieira sempre foi ousada e aceitou novos desafios. Pena que não fez como Cauby, aceitando as suas limitações sem desafinar na vida e na arte. Poderia ainda ser genial e manter-se na sua área, como Miúcha. Mas, infelizmente, a brilhante atriz, arriscou-se demais a beirar o ridículo, desafinando na vida e na música. E como diz a letra de Chico: como é cruel cantar assim…

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Analista de marketing, Salvador, BA