Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Temores que não assustam tanto

Você acredita no futuro da TV 3D, ou seja, a televisão com imagens tridimensionais? Acredite ou não, você deve participar desse debate, que é, aliás, muito oportuno, pois a maioria das pessoas ainda tem mais dúvidas do que certezas sobre as perspectivas dessa tecnologia. Os usuários relatam diversos obstáculos a serem vencidos. Eis alguns deles: a TV 3D ainda é cara, dispõe de pouco conteúdo, não tem praticamente nenhum canal 3D em broadcasting (TV aberta) ou mesmo na TV por assinatura, exceto em transmissões experimentais (a maioria de qualidade medíocre). E o problema mais sério: a maioria das pessoas rejeita o uso obrigatório de óculos. Ainda existem dúvidas sobre o futuro dos óculos ativos, que são caros, complicados e produzem muito mais efeitos colaterais do que os óculos passivos, como tontura, dor de cabeça e ardor nos olhos. Vamos parar por aqui, para não desanimar àqueles que ainda estão por decidir se compram ou não um televisor 3D e um toca-discos blu-ray 3D.

Acabo de assistir a um debate aqui em Berlim, na IFA 2011, exatamente sobre esse tema: o que falta à TV 3D? Ou, mais simplificada e mais jocosamente: "3D or not 3D?" Tudo começou com uma entrevista de Jürgen Boynny, diretor global de Eletrônica de Consumo do Grupo GfK, um dos maiores institutos de pesquisa da Europa.

Na visão Boynny, "os avanços tecnológicos de 3D despertam nos consumidores o desejo, cada dia maior, de ter certeza no futuro da tecnologia". De modo geral, esse especialista é otimista com relação à TV 3D, mas ressalta a necessidade permanente de se dar ao consumidor o máximo de informações e de contato direto com a nova tecnologia. "Não basta falar ou escrever sobre o tema. O que, realmente, leva o cliente a tomar a futura decisão de compra são as demonstrações e a experiência pessoal, que lhe comprovam as qualidades e os benefícios da TV 3D" – enfatiza o diretor do GfK.

Nesse sentido, os grandes eventos internacionais – como a Olimpíada de Londres, de 2012; a Copa da Uefa (da União Europeia); e a Copa de 2014, no Brasil – poderão ter grande impacto sobre milhões de consumidores ainda indecisos, pois eles poderão ver esses eventos em transmissões de TV 3D ou em salas de cinema 3D.

Confiança

A maioria dos participantes do painel sobre o futuro da TV 3D realizado nesta edição da IFA confia no amadurecimento relativamente rápido dessa tecnologia. Para eles, os preços tendem a cair rapidamente, com a escala de produção e de vendas. O desafio do conteúdo já está sendo vencido, pois apenas Hollywood já deverá produzir 150 filmes em 3D em 2011.

A questão dos óculos ativos e passivos deverá ter solução com um possível acordo entre os fabricantes, de modo a reduzir em muito os efeitos colaterais que eles provocam em pelo menos 15% das pessoas. Num horizonte de 3 a 5 anos, surgirão opções de TV 3D sem necessidade de óculos.

O grande salto, na opinião dos especialistas, é o desenvolvimento cada vez mais avançado de toda a cadeia de valores em 3D, que inclui smartphones, tablets, laptops, desktops, cinema e, principalmente, televisão (aberta e por assinatura).

Medo do passado

O que atemoriza muitos consumidores é a lembrança do que aconteceu com muitas tecnologias que, por mais promissoras que pareciam, não tiveram grande sucesso. Ou, por outras palavras, não pegaram. Lembram-se do som quadrafônico, do videocassete Sony-Beta, dos laserdiscs, das fitas digitais DATs (de Digital Audio Tapes), entre outros? O próprio cinema em 3D, ainda numa fase analógica, não convenceu.

O grande temor dos consumidores é investir numa tecnologia sem futuro. No passado mais distante, investimos nos antigos LPs de vinil quadrafônicos, isto é, com som em quatro canais, que, por falta de padronização, não vingaram. Eu investi nos videocassete do formato Beta, da Sony, que foi derrotado pelo formato VHS, de qualidade inferior, mas que oferecia um vasto conteúdo desejado pela maioria dos consumidores. Investi e perdi um bom dinheiro em dois players e uma boa coleção de laserdiscs, precursores dos DVDs, nos anos 80, que tinham som digital e imagem analógica.

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[Ethevaldo Siqueira é colunista do Estado de S.Paulo, enviado especial a Berlim]