Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Tereza Rangel

‘O UOL tem procurado aumentar a cobertura nacional, com a compra de reportagens locais. Isso é bom, porque tira a sensação de portal paulista. Dois Estados têm merecido da home page destaque especial: Goiás e Bahia. Provavelmente por mérito dos repórteres, que conseguem ´´vender bem o seu peixe´´. Por um lado, é positivo, porque mostra que o UOL está ampliando sua cobertura. Por outro, escancara a deficiência: ainda falta ao portal uma cobertura abrangente, equilibrada editorialmente, de modo a trazer assuntos relevantes e saborosos de todos os cantos do país. A cobertura ainda está muito focada em São Paulo, Brasília, Rio e, agora, Goiás e Bahia.

‘Há um esforço para ampliar a nossa rede de correspondentes pelo país. Em alguns lugares, isso está bem encaminhado. Em outros, segue em curso. É um processo, e como todo processo requer ajustes’, disse o gerente geral de notícias, Rodrigo Flores.

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´Urubuzação` do noticiário (27/3/08)

O UOL optou por dar a evolução da taxa de desocupação de um mês (janeiro) para outro (fevereiro). Não destacou o contraponto: na comparação de fevereiro de 2008 com fevereiro de 2007 houve queda do desemprego. Ignorou um aspecto da realidade relevante: ao longo do tempo a taxa de desemprego vem caindo, como mostra o gráfico abaixo (mês a mês, a partir de março de 2002).

A manchete do UOL mandava o internauta a uma reportagem secundária feita pela Folha Online. No texto principal do parceiro (cujo título também destacava a alta do desemprego), constavam no primeiro parágrafo as duas informações: a de alta em relação a janeiro deste ano e a de queda, no comparativo com fevereiro de 2008. No material destacado pelo UOL, somente o quarto parágrafo citava a melhora frente ao ano anterior. O site de Economia do portal também destacou texto que relativizava, logo no lide, o aumento da taxa de desemprego. A equipe que edita a home page disse que fez uma opção editorial ao destacar o texto complementar da Folha Online e que não vê erro na decisão.

Ao colocar o texto secundário da Folha Online como manchete, o UOL fez a opção editorial pelo que o leitor Diniz Lima chama de ‘urubuzação’ do noticiário, ou seja, a opção de sempre dar o lado negativo, mesmo que haja outras leituras possíveis, e talvez mais apropriadas.

Após o desemprego em alta, recorde de aprovação ao governo Lula. Como explicar?

Se o UOL tivesse feito uma opção mais equilibrada, com as ressalvas necessárias, talvez não tivesse havido a sensação de ‘como assim?’ entre a manchete ‘Desemprego sobe e deverá continuar em alta’ e a que a sucedeu, ‘Avaliação positiva de Lula sobe a 58%, diz CNI/Ibope’, a indicar que o governo Lula atingiu a maior taxa aprovação desde o início de seu primeiro mandato. O levantamento do Ibope mostrou (aqui na íntegra, em .PDF), ainda, a avaliação da população sobre o desempenho da economia. Detalhe: na questão do desemprego, 55% aprovam a atuação do governo. Essa taxa é a maior desde dezembro de 2003 para esse quesito. E 54% acham que, nos próximos seis meses, o emprego ou vai se manter ou vai cair.

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Olimpíadas a conta-gotas (25/3/08)

O UOL deixou para estrear seu novo site olímpico no dia em que a tocha foi acesa na Grécia. Arejado, o site promete. Há um grande investimento em material frio sobre a China e outras olimpíadas. A conta-gotas, estão sendo publicados textos, fotos e vídeos de enviados especiais a Pequim. Trataram da paquera na balada, da culinária ‘exótica’ e da ‘incomum’ medicina chinesa proibida aos atletas, do restaurante tibetano e suas danças ‘típicas’ (será que continua a funcionar normalmente depois das manifestações no Tibete?). Também em conta-gotas está o canal de enquetes: estreou com apenas uma (agora, há duas).

‘O site irá ´crescer` até às vésperas do início dos Jogos. Optamos por fazer lançamentos fracionados para podermos, em cada etapa, apresentarmos o material mais completo possível’, diz o gerente geral de esporte do UOL, Alexandre Gimenez.

Faltam ao UOL conteúdos relevantes já explorados pela concorrência, que, na minha opinião, deveriam estar no ar: quem são os brasileiros já classificados para os jogos, quem ainda tem chances, com quantos atletas cada modalidade deve contar, quais modalidades serão disputadas, quem são os favoritos para cada uma delas. Iria bem se o UOL também tivesse feito um guia com dicas práticas para quem se aventurar a ir até a China assistir pessoalmente aos jogos, com informações sobre visto, passagens aéreas, hotéis. Por fim, a concorrência dá destaque a seus sites olímpicos em suas home pages. Gimenez informa que isso deve acontecer ainda esta semana no UOL.’