Tuesday, 05 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

TV usada para incitamento ao extremismo

O Movimento PAZ AGORA acusou nesta quarta-feira um programa noticioso da TV
israelense de fomentar extremismo e incitamento, após este ter comprado o vídeo
de uma cerimônia macabra de elementos da extrema direita que invocava a morte do
primeiro-ministro.


Os líderes dos extremistas disseram que tinham realizado uma cerimônia para
colocar uma `Pulsa Denura`, praga haláchica, sobre o primeiro-ministro Ariel
Sharon para levá-lo à morte.


Michael Ben-Horin, um dos organizadores da cerimônia, disse que em vista da
cerrada segurança em torno de Sharon, que ‘é dez vezes mais forte que [era] a
segurança de Hitler e Stalin’, nenhum homem seria capaz de matá-lo. Portanto,
haviam ‘apelado aos anjos da destruição para matar Sharon’, disse Ben-Horin. Ele
acrescentou que o ritual eximiria a necessidade de um ser humano ter de matar
Ariel Sharon, permitindo que os ‘anjos da destruição’ o fizessem.


O ritual macabro foi realizado no alvorecer da sexta-feira ao lado do túmulo
de Shlomo Ben-Yosef em Rosh Pina, próximo a Sfat, conhecido centro cabalista.
Membro da organização direitista Betar, Shlomo Ben-Yosef fora enforcado pelas
autoridades inglesas em 1938 por ter atirado num ônibus árabe em protesto contra
vários ataques de árabes contra alvos judeus.


Outro extremista presente disse que ‘os homens oraram a Deus para que nos
livrasse do maldito ditador assassino [Sharon]’, e disse ainda que o local foi
escolhido porque ‘Shlomo era a antítese de Sharon’: ‘Ben Yosef deu sua vida pelo
povo judeu e recusou-se a reconhecer o governo britânico, enquanto Sharon faz
tudo por si mesmo’, declarou.


Antecedentes


Um dos os organizadores do ato foi o rabino Yosef Dayan de Psagot
[assentamento próximo a Ramalah], na Cisjordânia, que também havia promovido uma
pulsa denura contra Rabin, poucas semanas antes de ele ser assassinado por um
religioso ultra-nacionalista. Após a morte de Rabin, o rabino Dayan foi preso
por ameaçar realizar outro ritual contra Shimon Peres. Dayan é membro do grupo
radical ‘Kahane Chai’, proscrito por fomentar terrorismo contra a população
árabe, e já se candidatou ao Knesset (Parlamento israelense) com o apoio do
grupo.


O rabino Dayan revelou que ‘faz uns oito meses, quando o plano (de retirada
de Gaza) de Sharon estava ganhando apoios, pensamos pela primeira vez em lançar
uma ‘Pulsa Denura’’.


Extremistas: Sharon morrerá dentro de 30 dias


Vinte homens, incluindo rabinos e cabalistas, participaram da cerimônia, na
pequena cidade de Rosh Pina, ao norte de Israel, próxima a Sfat. Os
participantes acreditam que Sharon irá morrer nos próximos 30 dias, caso
contrário todos os que atuaram na cerimônia morrerão.


‘Pulsa Denura’ [‘chicote de fogo’ em aramaico] é um ritual com origens no
misticismo cabalístico. Surgiu inicialmente em Israel quando rabinos de
extrema-direita o realizaram durante o turbulento período que precedeu a morte
do antigo primeiro-ministro trabalhista Yitzhak Rabin, há cerca de 10 anos, à
saída de um ato pacifista gigantesco em Tel Aviv.


A cerimônia, que supostamente causa a morte do sujeito dentro de um ano,
insta os ‘anjos da destruição’ a não perdoar seus pecados e a matá-lo, invocando
todas as pragas nomeadas na Bíblia.


Os participantes tinham que ser casados, ter barba e mais de 40 anos. Todos
vestiam negro, menos um líder que estava de branco, que dirigia a cerimônia em
aramaico, pedindo a danação de Ariel Ben-Dvora Sheinerman [Sharon].


Ben-Horin disse que enquanto Rabin era apoiado por todo um movimento na
sociedade, Sharon está sozinho na defesa de seu plano de desligamento. Sua morte
iria cancelar a retirada, acrescentou.


Fanatismo via Mídia


Além de buscar a morte do primeiro-ministro, os extremistas também queriam
lucrar com o ato oferecendo seu vídeo à venda para a mídia.


A partir da manhã de terça-feira, os extremistas tentaram vender o vídeo, por
US$ 5 mil, para os principais canais comerciais de mídia do país – Canal 2,
Canal 10, Yedioth Aharonot e Maariv.


O editor do jornal Maariv, Amnon Dankner, está entre os que condenaram
a venda do material: ‘Todo o negócio’, escreveu Dankner, ‘não é nada além de um
show de verão para uma mídia sedenta e generosa’.


O fotógrafo Benzi Gobstein disse à Rádio do Exército que, como apoiador da
‘Pulsa Denura’, também orou pela morte de Sharon e filmou voluntariamente o
evento. Queria financiar seu trabalho vendendo a fita. Disse que se aproximou
primeiramente dos noticiários dos canais de TV 2 e 10, aos quais a ofereceu por
US$ 5 mil. Ele confirmou que as duas emissoras concordaram entre si que não
pagariam pela fita, e que também abordou a Reuters antes de receber uma oferta
do programa Mishal Ham. Após a compra, foi transmitido um pequeno segmento do
filme na noite de terça-feira.


O Movimento PAZ AGORA apelou a Motti Sklar, diretor-geral da Segunda
Autoridade de Radio e TV, a proibir a transmissão na noite de quarta-feira do
vídeo pelo programa Mishal Kham.


Ética na Imprensa


‘A concordância do Mishal Ham em pagar pelo cassette o torna parceiro
de um crime, e o principal patrocinador financeiro de uma atividade de
incitamento’, disse Yariv Oppenheimer, porta-voz do PAZ AGORA.


Em carta emitida ao presidente da emissora de TV responsável pelo programa, o
diretor da agência reguladora, Motti Shklar, escreveu que embora reconhecesse o
direito da concessionária de difundir o material, pedia-lhe reconsideração:
‘Parece inapropriado dar expressão a grupos extremistas insignificantes, assim
dando-lhes força, inclusive através de uma transação financeira’.


Shklar adicionou que se a concessionária decidisse exibir o vídeo, pediria a
ela que equilibrasse o programa, por exemplo, com uma discussão com outros
rabinos ‘para pôr as coisas no devido contexto’. ‘Infelizmente, já fomos
estarrecidos por caso similar antes do assassinato do finado primeiro-ministro
Yitzhak Rabin, quando a mídia também atuou nas mãos de grupos extremistas e
bizarros’, acrescentou.


Em resposta à carta de Shklar, o programa emitiu um comunicado dizendo que
seus produtores pretendiam realizar uma discussão equilibrada durante o
programa, que refletiria a variedade de opiniões sobre o assunto.


Comentando sobre a venda do vídeo para o programa do Canal 2, Avi Barzilai,
diretor do programa do concorrente Canal 10, disse à Rádio do Exército: ‘Esta é
uma cerimônia desprezível realizada por gente desprezível e bizarra, que
produziram uma fita desprezível e bizarra que foi obtida e difundida por pessoas
que pensam ser jornalistas que estão prontas a baixar suas calças só para
aumentar os índices de audiência.’


‘Como jornalista veterano, [sustento que] aqueles que obtêm e difundem este
vídeo não são parte da minha profissão. Eu não os respeito’, disse Barzilai, que
afirmou que iria processar por difamação os responsáveis pelo programa Mishal
Ham
que haviam declarado que ele também havia tentado comprar a fita.


‘Todos os canais se esforçaram para obter o vídeo’, disse em resposta Yisrael
Segal, diretor do programa Mishal Ham, dizendo que não fazia sentido
atacar seu programa por quebra da ética jornalística.


Não existiria um limite ético ao princípio da liberdade de imprensa, no caso
da manipulação da mídia para a pregação do crime e do terrorismo? Com
informações de Agência EFE, Jerusalem Post e Haaretz
[27/7/05].

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