Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Veja

CONFECOM
Diogo Mainardi

Porky’s contra a liberdade

‘Lula tem de parar de alisar os cabelos. Em 14 de dezembro, ele inaugurará a Confecom. Por extenso: Conferência Nacional de Comunicação. Uma das propostas encaminhadas à Confecom pelo Conselho Federal de Psicologia é proibir a propaganda com pessoas de cabelos alisados, com o argumento de que ela pode causar ‘transtornos de toda ordem’, comprometendo ‘a integridade física e psicológica’ de quem a assiste. O que dizer de Lula? O que dizer de seu cabeleireiro Wanderley?

A Confecom é igual à Ancinav. Ela é igual também ao CFJ. A cada dois anos, o ‘subperonismo lulista’ cria uma sigla para controlar a imprensa. Atacando em duas frentes: editorial e comercial. Inicialmente, as empresas do setor concordaram em participar da Confecom. Depois, elas se deram conta da armadilha preparada por Franklin Martins e pularam fora. Só restaram entidades como CUT, Abragay e Conselho Federal de Psicologia. Que, além de proibir a propaganda com pessoas de cabelos alisados, recomenda proibir igualmente a propaganda de carros, porque ‘o estímulo ao transporte individual ofusca as lutas por um transporte público de qualidade’ e aumenta ‘o número de mortes em acidentes de trânsito’.

A Ancinav fracassou. O CFJ fracassou. O que acontecerá com a Confecom? Fracassará. Mas a imprensa, de bombardeio em bombardeio, de anúncio em anúncio, de chantagem em chantagem, amedronta-se e domestica-se. Lula sabe disso. Franklin Martins sabe disso. O resultado é que, nos últimos dias, Dilma Rousseff também passou a atacar a imprensa, com aquele tom autoritário de professora de ginástica da série Porky’s, sempre com o apito na boca.

Os repetidos ataques à imprensa do Porky’s subperonista fazem parte daquilo que o lulismo chamou de ‘campanha plebiscitária’. Em 2010, Lula, Franklin Martins e Dilma Rousseff pretendem estabelecer ‘o confronto entre dois programas, entre dois Brasis’: o de Lula e o de Fernando Henrique Cardoso. Trata-se da estratégia eleitoral mais obtusa de todos os tempos. Sempre que o PT apostou na tese dos ‘dois Brasis’, ele se danou: o Brasil do passado e o Brasil do presente, o Brasil do Norte e o Brasil do Sul, o Brasil branco e o Brasil preto, o Brasil rico e o Brasil pobre, o Brasil das empresas estatais e o Brasil das empresas privadas, o Brasil educado e o Brasil analfabeto, o Brasil dos cabelos alisados e o Brasil em que ninguém pode alisar os cabelos, o Brasil da imprensa independente e o Brasil da Confecom. Contra a campanha plebiscitária do PT, o PSDB já tem a campanha pronta. Basta dizer: ‘O Brasil é um só’.’

 

LIBERDADE DE IMPRENSA
Carta ao Leitor

A guerra à imprensa

‘Terminou na semana passada, em Buenos Aires, a 65ª Assembleia-Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que reuniu cerca de 500 editores de jornais. As conclusões do encontro são alarmantes para o único modo de jornalismo que vale a pena, o independente. Verificou-se que, na América Latina, o autoritarismo avança a passos largos, com cerceamento mais ou menos explícito, conforme o país, da liberdade de informação e opinião. Nos casos mais agudos, como Venezuela e Equador, os seus presidentes simplesmente mandam fechar jornais, emissoras de rádio e TV e sites que ousam discordar das políticas governamentais. Na Argentina, a presidente Cristina Kirchner tenta calar a imprensa que denuncia o caos da administração federal de duas maneiras. A primeira, por meio de leis limitadoras da atuação das empresas de comunicação. A segunda, pela força bruta, ao incentivar o lumpesinato esquerdista pago pelo estado a bloquear a saída dos caminhões que distribuem os dois grandes jornais do país, La Nación e El Clarín.

No Brasil, se é fato que a imprensa permanece livre, de acordo com o preceito constitucional, não é menos verdadeiro que ela vem sendo fustigada com frequência e violência crescentes. O presidente Lula chegou a dizer que não é papel da imprensa fiscalizar, mas apenas noticiar. Traduzindo: não deve denunciar os malfeitos urdidos no mundo oficial, mas contentar-se em reproduzir os éditos emanados da máquina de propaganda do governo.

Constranger a imprensa, domesticá-la e, se possível, calá-la serve àqueles que se empenham em banir a democracia representativa, uma conquista duramente conseguida e pacientemente lapidada pelos brasileiros. A imprensa livre é um obstáculo aos planos de poder permanente da casta de autocratas oriundos do sindicalismo, de partidos de esquerda e de suas respectivas adjacências fisiológicas. Por isso mesmo, que não passem em branco as luminosas palavras do ministro Carlos Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal, publicadas no dia 6, no Diário da Justiça. Ao lançar a última pá de cal sobre a Lei de Imprensa redigida durante a ditadura militar, ele escreveu: ‘Não há liberdade de imprensa pela metade ou sob as tenazes da censura prévia, inclusive a procedente do Poder Judiciário. Ela, Constituição, destinou à imprensa o direito de controlar e revelar as coisas respeitantes à vida do estado e da própria sociedade’.’

 

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