Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Versão chinesa da revista é banida pelo governo

A edição chinesa da revista americana especializada em rock Rolling Stone foi lançada no mercado no começo deste mês com um grande, porém curto, sucesso. Na quarta-feira (29/3), a Administração Geral de Imprensa e Publicações, departamento governamental responsável pelas publicações chinesas, proibiu a comercialização da revista no país, como informa Mark Magnier [Los Angeles Times, 30/3/06]. A primeira e única edição da Rolling Stone teve seu lançamento anunciado em outdoors e os 125 mil exemplares publicados – que se esgotaram rapidamente – vinham acompanhados de um chapéu com o logo da revista como brinde.


Nos últimos anos, o governo tem parado de fornecer licenças de funcionamento para revistas estrangeiras. Por esta razão, muitos destes títulos acabam encontrando maneiras alternativas para atingir o mercado chinês. Uma delas é fazer acordos com títulos locais para publicar dentro deles material estrangeiro. Depois de receber aprovação governamental, as revistas vão aos poucos fortalecendo sua identidade original. No caso da Rolling Stone, a publicação existente era a Audio Visual World.


Regras não cumpridas


O problema no caso da Rolling Stone, segundo especialistas, é que a revista foi lançada no mercado chinês de maneira agressiva demais, com uma primeira edição de 144 páginas que se assemelhava fielmente à versão americana. De acordo com pessoas próximas às autoridades chinesas, a revista incomodou os censores porque ultrapassou os limites do permitido pelo governo. Mais da metade de seu conteúdo era traduzido da edição americana, com artigos sobre o cineasta Michael Moore, o ator / diretor George Clooney e o jornalista e escritor Hunter S. Thompson, sem, no entanto, ter recebido aprovação formal do governo.


A revista também ignorou as regras que obrigam que o nome da publicação em chinês deve ser impresso na capa em fonte maior do que o nome original em outro idioma. Na primeira edição, a Rolling Stone estampou o nome em inglês em tamanho bem maior do que o título oficial chinês.


Além disso, a Rolling Stone desagradou os censores com a matéria de capa sobre Cui Jian, o ‘pai do rock chinês’. Jian tocou sua mais famosa canção durante os protestos da Praça da Paz Celestial, em 1989 – e ela logo se tornou um hino para os manifestantes. Em outro artigo, foi publicado um perfil da blogueira Mu Zimei, que escreveu sobre sua vida sexual até ter seu blog fechado pelo governo. ‘Eles tiveram uma conduta imprópria’, afirmou Chen Li, diretor do Departamento de Jornais e Revistas, que faz parte do órgão regulatório.


O editor da revista opôs-se às justificativas das autoridades chinesas para a interrupção da circulação da Rolling Stone local e alguns especialistas da indústria da mídia acreditam ser possível que a publicação concorde em reformular seus artigos para que receba permissão de continuar circulando. ‘Eu posso afirmar com absoluta certeza que nossa segunda edição vai estar nas bancas em abril’, prometeu Hao Fang, editor-chefe da Rolling Stone China.


Duras restrições


As autoridades chinesas vêm repreendendo severamente as organizações de mídia no país. Yang Bin, editor do jornal Beijing News, foi demitido em dezembro de 2005, supostamente pela publicação de textos sobre assuntos sensíveis ao governo sem prévia autorização das autoridades. O suplemento Freezing Point, do jornal estatal China Youth Daily, foi fechado em janeiro deste ano, depois da publicação de um artigo de um historiador chinês que criticava o que afirmou serem ‘distorções nacionalistas’ em livros de História. Posteriormente, o suplemento foi relançado com um novo editor – presumidamente mais cooperativo com o governo.