Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

As mentiras sobre Marielle: difusão em dois atos

Publicado originalmente pelo Monitor do debate político no meio digital.

A difusão das mentiras sobre a vereadora Marielle Franco (PSOL) aconteceu em dois atos, primeiro como boato, depois como notícia. Ainda no dia 15 de março, dia seguinte à sua morte, relatos escritos, áudios e fotos falsas acusando Marielle de ter vínculos com o crime organizado se espalharam pelo WhatsApp.

Os boatos eram de três tipos: denúncias apócrifas, supostas fotos de Marielle (uma real, acompanhada de um rapaz com uma camiseta da “marcha da maconha”, outra falsa, na qual uma negra, supostamente Marielle, sentava no colo de um rapaz branco, supostamente Marcinho VP) e um áudio denúncia com carregado sotaque carioca. Logo, essas denúncias passaram ao Twitter e ao Facebook entre a noite do dia 15 e a manhã do dia 16. Abaixo, listamos as primeiras ocorrências públicas no Twitter e Facebook replicando os boatos do WhatsApp.

Na tarde do dia 16, o deputado Alberto Fraga e a desembargadora Marília Castro Neves validaram os boatos ao replicarem em seus perfis, Fraga no Twitter e Neves no Facebook (prints nas imagens). Com a validação da desembargadora, o boato passou a ter repercussão nos sites de notícias, tanto os da grande imprensa, como nos sites engajados.

A coluna de Mônica Bergamo repercutiu a postagem da desembargadora na noite do dia 16 e foi seguida pelo site Ceticismo Político, replicado pelo MBL e pela revista Veja. Juntos, somaram, em menos de um dia, mais de 450 mil compartilhamentos no Facebook. Como as manchetes dos três sites mais compartilhados não mencionavam que os boatos eram falsos, as matérias serviram como meio adicional de difusão das mentiras.

Tweets e postagens públicas:

15 de março, 20:08
Está circulando um áudio que diz que o assassinado da vereadora foi obra do Comando Vermelho porque eles teriam financiado a campanha dela para proteção das áreas comandadas pelo CV e, segundo o áudio, ela estaria protegendo as áreas do 3º Comando.

15 de março, 23:36
Começam a pipocar as notícias sobre a Marielle… Ela foi vítima da violência… Mas, transitou entre facções rivais… Os áudios já estão nos grupos de whatsapp…
(acompanha áudio)

16 de março, 10:45
Video do homicídio da vereadora do Rio de Janeiro. Percebe-se garotos de chinelo sem camiseta. A vereadora e ex mulher de Marcinho VP. Dizem q isso foi obra do Comando Vermelho. Vamos aguardar as investigações.
(acompanha vídeo)

16 de março, 11:05
LEIA, ENTENDA E USE A CABEÇA DESSA VEZ.
Morar no subúrbio do Rio tem suas vantagens. Em menos de 48 horas após a execução da Vereadora, a versão que circula em todas as áreas de favela (local onde o mundo real acontece), é praticamente um consenso:
O crime tem autoria e motivação bem definidos.
AUTORIA – Facção Comando Vermelho
MOTIVAÇÃO – Represália ao posicionamento da Vereadora que saiu em defesa da Comunidade Acari, controlada pelo Terceiro Comando. Alguns dias atrás a Vereadora denunciou “abusos” das forças armadas em Acari. O simples fato de ela sair publicamente em defesa de uma comunidade controlada por uma facção rival, provocou ira dentro do CV, sendo tal postura considerada uma traição de morte no código de “honra” da organização.
Basicamente, o que se comenta (inclusive já existem áudios circulando na internet) é que o CV financiou a campanha da Vereadora e a mesma deveria assumir “compromissos exclusivos” em favor da facção, ao invés de fazer discurso político favorecendo seu concorrente, no caso o terceiro comando que controla Acari.
Se todos tivessem seguido o meu humilde conselho, quando fiz um apelo para evitarmos falar bobagens, tirar conclusões precipitadas e usar o cadáver da moça para fazer palanque ou ficar debatendo feito criança no facebook, as pessoas sérias e interessadas na verdade dos fatos, estariam agora com total credibilidade para pautar o que talvez seja a elucidação mais factível do ocorrido.

16 de março, 12:41
Tem gente falando que quem matou a vereadora foi o CV

16 de março, 18:55
E ninguém lembra que a vereadora morta Marielle é ex- mulher do traficante Marcinho VP, engravidou dele aos 16 anos de idade.

16 de março, 20:33
E ninguém lembra que a vereadora morta Marielle é ex- mulher do traficante Marcinho VP, engravidou dele aos 16 anos de idade.
(acompanhante com camisa da marcha da maconha)

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Por favor, compartilhe! Estamos investigando a dinâmica de difusão dos boatos que vinculavam Marielle Franco ao tráfico de drogas. Se você recebeu no WhatsApp esse boato em alguma de suas muitas formas, por favor preencha nosso questionário curto. E nos auxilie a fazer chegar a mais pessoas, compartilhando o link para o formulário: https://goo.gl/7ZUNvS