Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Militância política

1976: Ao ingressar no curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) engajei-me na luta travada por um pequeno grupo de estudantes que acabara de reconquistar o Diretório Central dos Estudantes (DCE) das mãos dos pelegos. Estávamos preparando a “calourada” para receber os novos “feras” com uma programação cultural, quando às vésperas do carnaval de 1977 a Polícia Federal da ditadura militar invadiu o DCE, situado à Rua do Hospício e prendeu o seu presidente, o Orlando Mindelo. O movimento então entrou em refluxo.

1980: No primeiro semestre, na cadeira de “Planejamento Arquitetônico 4”, no Centro de Artes e Comunicação da UFPE decidimos entrar em greve por melhores condições de ensino. Mantemos a greve, inicialmente apenas nós desta turma do curso de arquitetura e urbanismo, por mais de um mês, até que num efeito dominó foi paralisando o curso de arquitetura, o Centro de Artes e finalmente toda a Universidade, no que foi a primeira greve de estudantes depois de 1968, finalizada com uma passeata com cerca de 2.000 estudantes pelas ruas centrais do Recife exigindo o fim da ditadura militar e melhores condições de ensino. Terminada esta greve, foi imediatamente deflagrada a greve dos professores e funcionários da UFPE, articulada pela Adufepe (Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pernambuco) e na qual nos engajamos de imediato.

Importante: durante a greve dos professores acima citada, me envolvi com o grupo de professoras da UFPE que deram início ao movimento feminista em Recife (no caso dos grupos “S.O.S. Corpo” e “Ação Mulher”) inclusive dirigindo para elas na madrugada do dia 8 de março, na grafitagem de muros da cidade, ou eventualmente exibindo filmes nas suas atuações em bairros populares. Claro que neste caso o meu apoio derivou da total convicção de que não existe liberdade real para apenas uma fração da humanidade. Entretanto, considero que as mulheres são plenamente qualificadas e autônomas para cuidarem das suas causas específicas.

Indiferença da imprensa

1980/81: Presidente do Diretório dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo da UFPE. O primeiro depois da reforma MEC/Usaid eleito por voto direto e com urnas espalhadas pelo Centro de Artes, à revelia da ditadura militar.

Obs: No caso do doc.01 em anexo, fomos o único diretório da UFPE a receber esta carta da professora Silke Weber, a então presidente da Adufepe, que posteriormente a este período foi a Secretária de Educação do Estado de Pernambuco, nas duas últimas gestões do sr. Miguel Arraes de Alencar.

1981/82: Coordenador do departamento de Comunicação do Diretório dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo da UFPE.

1980/83: Um dos coordenadores do cineclube São Saruê do Centro de Artes e Comunicação da UFPE, tendo participado ativamente, em parceria com os cineclubes Leila Diniz (Olinda) e Vaga-lume (Teatro do Parque), da implementação de um circuito alternativo do cinema nacional, num trabalho de resistência cultural diante do verdadeiro colonialismo cultural perpetrado pelas redes de TV e pelas grandes empresas exibidoras de cinema atuantes no Brasil. Foi neste âmbito que foram exibidos os filmes de Vladimir Carvalho, Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha, Humberto Mauro, dentre outros.

1985/86: Técnico em educação não formal da Fase (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional), quando prestei assessoria ao Movimento Social Urbano (MSU) da Região Metropolitana do Recife, no caso da “Assembleia dos Bairros”, como também na formação de lideranças e associação de moradores na favela Skylab II, no bairro da Iputinga. Trabalho este patrocinado pela Oxfam inglesa, instituição de credibilidade internacional.

1986: Produtor do guia eleitoral do PSB (Partido Socialista Brasileiro) e assistente de produção do guia eleitoral do PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), no caso da candidatura do Sr. Miguel Arraes de Alencar, como contratado da Espia Vídeo Cine, Foto e Som Ltda.

Nota: Em todos esses âmbitos posso afirmar sem sombra de dúvidas que participei ativamente da luta pelo pleno restabelecimento do Estado Democrático de Direito no Brasil, pela anistia dos presos políticos e exilados, além da campanha pelas “Diretas Já”.

Deixo claro desde já que o exposto acima faz parte de uma militância cidadã sem pretensões de voos políticos profissionais. Creio que desta maneira esclareço em parte a razão do meu justo sentimento de indignação diante do descaso como tenho sido tratado pelo Estado brasileiro e da indiferença da imprensa nacional, no caso das revistas CartaCapital, Veja e piauí. Acreditem que abomino o discurso do “coitadinho de mim” e que lutarei pelos meus direitos até a morte se necessário for.

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[Harry Drahomiro Duarte é produtor cultural]