Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Sola do sapato vs. internet

O jornalista Carlos Castilho publicou um texto no site do Observatório da Imprensa (31/10) cujo título, “Ressaca eleitoral antecipa a era da incerteza informativa”, tem principalmente o “papel” de observar e criticar o comportamento da imprensa contemporânea.

Neste texto, Carlos Castilho nos diz a respeito do comportamento das pessoas na internet, principalmente nesta última eleição com relação aos candidatos à Presidência da República do Brasil. Que na verdade, não parecia uma disputa eleitoral, mas um clássico entre Corinthians e Palmeiras, com trocas de ataque contra defesa sobre suas vidas pessoais por parte de ambos. Não houve propostas de melhorias para o meu, o seu, nosso Brasil. Ficamos para escanteio mais uma vez. Fora as brigas entre torcedores petistas e tucanos na internet, como uma pequena parcela da oposição pedindo impeachment, intervenção militar, recontagem dos votos baseadas na teoria da conspiração, sobretudo depois da reeleição da presidente Dilma Rousseff. Chego à conclusão que as pessoas não sabem lidar com a democracia, ainda que indireta.

Porém, a poeira abaixou, e páginas na web foram criadas para reconciliações de amizades que foram abaladas, por causa dessa intensa briga de quem era a “mudança” para o Brasil. Talvez voltemos a discutir esse assunto daqui a quatro anos.

Seja na televisão ou no rádio, veículos mais usados no Brasil para se informar, não há muita interatividade para que o receptor possa emitir sua opinião sem ser cerceado. Diante desta eufórica circunstância eleitoral, os diferentes protagonistas foram se manifestar na internet nas chamadas redes sociais: Facebook, Twitter, afins. Inclusive artistas que ganharam destaque e ficaram “famosinhos” pelos seus discursos, como Lobão, entre outros.

Seres humanos e robôs

Na internet, o acesso para informações é fast. Entretanto, é preciso cautela, pois há informações que estão sujeitas a questionamentos, que precisam ser apuradas. Contudo, pessoas leem apenas os seus títulos, percebem que convém com sua opinião e com um singelo clique compartilham, sem saber se o que está sendo dito é verídico. Além de se posicionarem sem ouvir o que o próximo tem para dizer, gerando brigas, agressões, discussões etc. Mas, há também um lado positivo, as trocas de ideias que podem ser realizadas de maneira pacífica.

Carlos Castilho em seu texto afirma que temos uma imprensa voltada para seus interesses econômicos e políticos e do outro lado o caos da internet. E que o cidadão comum, estava à espera da imprensa para se informar do que estava acontecendo por trás dos fatos, mas a imprensa se omitiu. Então, o próprio cidadão comum irá buscar ferramentas individuais para se informar. Pois, os jornalistas se comportaram de maneira passional, comum aos outros nas redes sociais. Porque ao invés de problematizarem, mostrarem os diferentes ângulos, apurarem os fatos, se preocuparam em fazer campanhas políticas.

Antes, os jornalistas eram conhecidos pela sola do sapato, dirigiam-se aos campos para observar, investigar e apurar os fatos, dados, índices estatísticos pessoalmente, hoje se conformam e ficam aguardando sentados em frente a uma tela, esperando notícias prontas vindas da internet, perdendo os “furos” que poderiam ser encontrados nos campos, pois só o Google não te contextualiza sobre o fato. Deixando de ser protagonistas, pois vivem apenas de releases (matérias prontas) expostas nas redes.

Talvez seja contraditório defendermos meios tecnológicos que podem se tornar nosso maior concorrente num futuro não muito distante, já que robôs-jornalistas foram criados para pesquisas. Segundo Christer Clerwall, professor de mídia e comunicações na Karlstad University (Suécia), que realizou o seguinte teste: pediu para 46 alunos, estudantes de Jornalismo, lerem duas notas sobre um jogo de futebol americano, um texto redigido por um programa de computador e outro por um jornalista do LA Times. (…). Os estudantes escolhidos tiveram que avaliar a qualidade e credibilidade de ambas as notas, usando 12 métodos: objetiva, confiável, precisa, chata, interessante, agradável de ler, clara, informativa, bem escrita, útil, descritiva e coerente.  O texto redigido pelo jornalista recebeu avaliações de bem escrito, claro e agradável de ler. Já a nota feita pelo programa de computador: descritivo, informativo, preciso, confiável e objetivo. Embora as diferenças sejam pequenas, o conteúdo gerado pelo software teve a pontuação mais elevada por ser descritivo, afirma o pesquisador (revista Galileu, Bruno Torturra, 07/03/2014). Fora as 27 pessoas que confundiram o texto do software com o do jornalista e vice-versa.

Esta pesquisa exemplifica a preocupação em que o jornalista deve começar a ter, pois se há pessoas que estão confundido textos jornalísticos de seres humanos com os de robôs e vice-versa, há algo de errado. Contudo, o jornalista deve sobressair dos demais, pois ele sente os efeitos de uma notícia na pele, diferente de um robô, que é frio. O jornalista deve tentar observar aquilo que muitas vezes não está sob sua visão de imediato, buscar o diferente, inusitado. Além de usar mais a sola do sapato.

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Lucas Mendes Santos é estudante de Jornalismo