Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O jornalismo entre a ciência e a arte

As quase quatro décadas de história e produção acadêmica da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP serão lembradas e homenageadas num multievento promovido pelo Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. Três eixos compõem o evento, reunidos sob o título Os Caminhos Cruzados do Jornalismo: o salão temático Artejornalismo; a exposição Jornalismo: Caminhos Cruzados com as Artes, Ciência e Tecnologia e o seminário acadêmico Gênese do Pensamento Jornalístico Uspiano.

‘A fundação do curso de Jornalismo na ECA tem que ser analisada no conteúdo do seu tempo’, afirma num estudo sobre a criação da escola o professor Carsten Bruder, que vai palestrar no encontro do seminário dedicado ao professor José Marques de Melo. ‘Os responsáveis por essa primeira geração da ECA tinham a dura missão de administrar os objetivos da estruturação dos departamentos e cursos com as dificuldades criadas pelas circunstâncias da época – o mundo ainda no meio de uma Guerra Fria, o Brasil no auge de um regime militar.’

O seminário Gênese do Pensamento Jornalístico Uspiano será organizado como um curso de extensão cultural. Em 11 encontros semanais no auditório do MAC, sempre nas tardes de segunda-feira, serão revisitadas a carreira e as trajetórias de nomes que participaram da primeira geração de professores do Departamento de Jornalismo, alguns dos quais até hoje atuam na ECA. É o caso, por exemplo, da professora Cremilda Medina – atual coordenadora da Coordenadoria de Comunicação Social (CCS) da USP, responsável pelas mídias da Universidade –, cuja contribuição, a partir do enfoque dos estudos literários, será o tema do encontro do dia 22 de novembro.

Efervescência

O perfil de José Marques de Melo será traçado e debatido na palestra de encerramento do seminário, no dia 29 de novembro. Marques de Melo, reconhecido como um dos mais importantes pesquisadores brasileiros na área da comunicação, começou a dar aulas na USP em 1966. Em 1968, com apenas 25 anos de idade, assumiu a regência da cátedra Técnica e Prática de Jornalismo. Em 1974, teve os seus direitos políticos cassados pela ditadura militar, e só retornou à ECA cinco anos depois, beneficiado pela anistia. Foi diretor da escola, recebeu o título de Professor Emérito em 2001 e desde o ano passado dá aulas no programa de pós-graduação da unidade, tarefa que concilia com várias outras atividades. Também serão retratados no seminário, entre outros, os professores Freitas Nobre, Juarez Bahia, Gaudêncio Torquato e Jair Borin.

A criação de uma escola de comunicação na USP remonta a 1965, quando o então reitor Gama e Silva formou uma comissão especial para tratar do assunto. Entre os seus integrantes estava o espanhol Júlio Garcia Morejón, que seria o primeiro diretor da unidade. A Escola de Comunicações Culturais (ECC) foi implantada pelo Decreto Estadual nº 46.419, de 16 de junho de 1966. Em 1970, seu nome seria alterado para Escola de Comunicações e Artes.

‘Em plena ditadura, o projeto pedagógico adotado para os anos de 1968 a 1972 (que sofria aprimoramento durante todo o período), já para o início do curso de Jornalismo na antiga ECC, não deixava de tratar os temas considerados fortes e censurados pelo regime militar’, registra a professora Ruth Penha Alves Vianna, pesquisadora do Programa de Pós-Doutorado do Núcleo de Jornalismo Comparado da ECA. ‘Havia então uma efervescência cultural e política, não só do ponto de vista brasileiro. Por isso eram ali tratados temas candentes da América Latina, Europa, América do Norte –, enfim todas as culturas ocidentais e orientais, como forma plural de se ver o mundo. Esses temas se refletiam nas obras cinematográficas, jornalísticas (escrita, radiofônica e televisiva), na literatura, nas artes plásticas, teatrais, música, dramaturgia, publicidade, relações públicas, designers etc.’

Caravana

O salão Artejornalismo, instalado no Anexo do MAC, no Edifício da Reitoria, vai expor obras produzidas por três docentes fundadores do curso de Jornalismo da ECA. São obras fotográficas e cinematográficas de Thomas Farkas, xilogravuras de Antonio Costela e trabalhos gráficos de Hélcio Deslandes. O caráter singular dessas trajetórias pode ser personificado por Farkas, nascido na Hungria e radicado no Brasil desde os 6 anos de idade. Engenheiro mecânico e eletricista formado pela Escola Politécnica da USP, nunca exerceu a profissão, dividindo-se entre atividades comerciais e documentários de cunho social. Entre as décadas de 1960 e 70, com a chamada Caravana Farkas, realizou documentários que ajudaram a redescobrir o interior do Brasil pelas lentes do cinema. Na ECA, ministrou cursos de Fotografia, Fotojornalismo e Jornalismo Cinematográfico.

Todo o material poderá ser consultado pela Internet no site (www.macvirtual.usp.br), que hospeda a exposição virtual Jornalismo: Caminhos Cruzados com as Artes, Ciência e Tecnologia. O multievento no MAC conta com o apoio da Comissão Comemorativa dos 70 Anos da USP, jornal O Estado de S. Paulo, Cátedra Unesco da Universidade Metodista de São Paulo, Grupo PJ:Br – Portal do Pensamento Jornalístico Brasileiro e Rede Alfredo de Carvalho – Grupo Butantã/USP.

O Salão temático Artejornalismo fica no Espaço Anexo do MAC, Edifício da Reitoria, de 16 de agosto a 12 de setembro, de segunda a sexta-feira, das 10h às 19 h, sábados, domingos e feriados, das 10h às 16h. A entrada é franca.

O seminário Gênese do Pensamento Jornalístico Uspiano será realizado às segundas-feiras, entre 16 de agosto e 29 de novembro, das 14h às 17h, no auditório do MAC, na Rua da Reitoria. Inscrições no MAC ou pelo e-mail (alemaoli@usp.br), ao custo de R$ 60,00. Participantes com mais de 80% de freqüência receberão certificado.

Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3091-3028 ou no endereço eletrônico (www.macvirtual.usp.br).